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São Paulo, capital do Fórum Econômico Mundial

O perfil global da cidade resulta de um mosaico entre as raízes históricas e o campo empresarial cosmopolita

Por Marcos Troyjo
Atualizado em 30 jul 2020, 20h31 - Publicado em 17 mar 2018, 23h37

Marcos Troyjo

São Paulo, que nesta semana recebe o Fórum Econômico Mundial em sua edição latino-americana, é a mais global das cidades brasileiras.

Em seu horizonte despontam mais prédios do que em Xangai. Há mais usuários de smartphones do que em Mumbai. Se você ama museus, talvez prefira São Petersburgo, mas é em São Paulo que se encontra uma variedade culinária de diferentes cantos do mundo com que talvez apenas Nova York consiga rivalizar.

O perfil global da cidade resulta de suas raízes históricas e do perfil empresarial cosmopolita. Levas de imigrantes italianos, japoneses e libaneses chegaram sobretudo na primeira metade do século 20. A cidade oferecia grandes oportunidades na transição de um epicentro agrícola, marcado pelos negócios do café, em rumo de tornar-se berço da vigorosa e caótica industrialização brasileira.

A própria avenida Paulista representa metáfora de tal transformação. Há um tempo, era lar dos barões do café, que encomendavam a arquitetos franceses e italianos “casarões” (que em Paris chamaríamos de hôtels particuliers), de que infelizmente hoje restaram apenas poucos exemplares. Mais tarde, a Paulista, hoje desafiada em primazia empresarial por Faria Lima, Berrini e o hub da Vila Olímpia, tornou-se a “business avenue per se”, substituindo o Centro Velho como ancoradouro dos bancos e sede da Fiesp.

Diz-se que São Paulo é a “maior cidade japonesa fora do Japão”. Ou que aqui vivem tantos descendentes de libaneses como em Beirute. Um diplomata italiano contou há pouco tempo que 3 milhões de pessoas (o que equivale a atual população de Roma) carregam sobrenomes italianos na Grande São Paulo.

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As raízes da nascente industrialização brasileira nos anos 1930 também expandiram-se a partir de São Paulo. Imigrantes empreendedores que chegavam da Europa replicaram a manufatura intensiva em máquinas no país que passavam a considerar seu lar. E alguns membros da elite da cidade conseguiram mover-se com sucesso da agricultura do café para tornarem-se vetores daquele que foi até a década de 1970 o mais dinâmico e abrangente processo de industrialização do Hemisfério do Sul.

Lembro-me de uma palestra que assisti no final dos anos 1980, na qual o Embaixador da Suécia no Brasil, em visita à USP, dizia “é um prazer estar na cidade mais industrial da Suécia”. Naquele instante, gigantes corporativos de Suécia, Alemanha, França, Japão EUA e tantos outros marcavam importante presença em São Paulo e seus arredores.

Nenhum país cresceu tanto no século passado quanto o Brasil até o momento em que atolamos na “Década Perdida” dos anos 1980. Foi então que nossa dívida externa percorreu espiral sem controle. E o modelo de industrialização por substituição de importações deixou de promover o elevado crescimento econômico de que um país demograficamente jovem tanto precisa.

Assim, o caráter global de São Paulo também evoluiu. A maior parte das plantas industriais mudou-se para locações de melhor custo-benefício no interior do Brasil. A cidade se desindustrializou e, à semelhança do que acontece em outras metrópoles, seu dinamismo econômico depende de um setor de serviços em contínua expansão e sofisticação ─ de modo a reinventar-se como plataforma vibrante de entretenimento, “start-ups” tecnológicas e economia criativa. E São Paulo tem obtido algum êxito nessa metamorfose. Seu complexo de hospitais de primeira linha como Albert Einstein e Sírio-Libanês faz da cidade o principal destino da América Latina para serviços médicos. Sua oferta de musicais e peças de teatro emulam uma Broadway em menor escala. É em São Paulo onde se deve estar para despontar em moda, design e tecnologia. E, claro, as principais multinacionais têm seus escritórios na cidade.

Apesar de a mais global, São Paulo é também a “cidade mais brasileira” ─ em todas as conotações elogiosas ou depreciativas que tal alcunha implica. Muitos dos infames traços do Custo Brasil encontram-se aqui de maneira amplificada.

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Ao passo que Xangai ostenta mais de 400 km de linhas de metrô, em São Paulo há apenas 85 km. Em Paris,  pode-se passear de barco ou pescar no Sena. Em São Paulo, apesar de recorrentes esforços de despoluição, a porção urbana do rio Tietê é nada mais que um esgoto a céu aberto.Ao contrário das cidades globais do Oriente Médio ou da Ásia-Pacífico, todas as placas de trânsito são apresentadas unicamente em português. Poucas pessoas fora do circuito de hotéis conseguem manter um diálogo básico em inglês. São Paulo também é hiperbrasileira em seus contrastes. Sim, no Rio de Janeiro as diferenças socioeconômicas aparecem lado a lado. Um apartamento de US$ 10 milhões na praia de Ipanema está a apenas 300 metros de distância da favela do Cantagalo. E hoje a taxa de assassinatos na cidade é metade do que se observa no Rio.

Mas em São Paulo a proporção de tais contrastes salta aos olhos. A cidade apresenta transporte público deficiente, mas detém a maior frota de carros blindados do mundo, além de mais helicópteros e helipontos do que Nova York.

Não há conflitos étnicos ou religiosos relevantes. Tampouco ameaças terroristas. Algumas áreas, como o Jardim Paulista, são tão seguras quanto a Suécia. Bairros como o Jaçanã, no entanto, com 23 assassinatos por 100 mil habitantes.

Se a cidade de São Paulo fosse um país independente, figuraria dentre os 50 maiores PIBs do mundo. A megalópole é exemplo da inabilidade brasileira em resolver seus desafios mais básicos. Mas seu lema é Non ducor, duco (Não sou liderado, lidero). As conquistas desse dínamo urbano são também amostra de tudo que o potencial brasileiro pode alcançar.

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