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Roberto Pompeu de Toledo: ‘Qual a saída?’

Publicado na edição impressa de VEJA ROBERTO POMPEU DE TOLEDO No esplêndido Vida e Destino, romance do russo Vassili Grossman (1905-1964) recém-lan­çado no Brasil, a certa altura o general Gúriev empenha-se numa curiosa discussão com o comissário Krímov. O romance se passa na II Guerra Mundial; o pano de fundo é a Batalha de Stalingrado, a mais cruel e decisiva no […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 01h48 - Publicado em 21 mar 2015, 13h26

Publicado na edição impressa de VEJA

ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

No esplêndido Vida e Destino, romance do russo Vassili Grossman (1905-1964) recém-lan­çado no Brasil, a certa altura o general Gúriev empenha-se numa curiosa discussão com o comissário Krímov. O romance se passa na II Guerra Mundial; o pano de fundo é a Batalha de Stalingrado, a mais cruel e decisiva no front soviético. Gúriev, personagem que existiu na vida real, queixa-se dos jornalistas. “Os f. da p. ficam sentados à beira do Volga, no fundo da retaguarda, não veem nada e escrevem.” Já Tolstoi, argumenta, construiu o imorredouro Guerra e Paz por quê? Porque “participou, lutou, e sabia sobre o que escrever”. Krímov interrompeu-o: “Perdão, camarada general, mas Tolstoi não participou da guerra”. Gúriev: “Como assim, `não participou¿?”. “Muito simples”, respondeu Krímov. “Tolstoi nem era nascido ao tempo das guerras napoleônicas.” Gúriev enfureceu-se: “Não era nascido? Como não era nascido? Como ele foi escrever, se não era nascido?”. Seguiu-se tempestuosa discussão; Gúriev não podia se dar por vencido.

Na placidez do domingo 8, Dia da Mulher, o discurso da presidente Dilma na TV pegou este escrevinhador num intervalo da leitura de Vida e Destino. De novo, a culpa era da crise internacional! A comandante Rousseff negava a realidade como o general Gúriev. Quem estava na janela batendo panela perdeu uma histórica peça de desconversa e mistificação. A crise internacional, essa malvada! Esqueçam-se os fatos, desloquem-se as datas. Rousseff, como Gúriev, não pode se dar por vencida.

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As trapalhadas se multiplicam. A característica dificuldade da presidente de articular o discurso manifestou-se na entrevista que deu no Acre, na quarta-feira, ao justificar o encontro de poucas horas antes, em Brasília, com o ministro Dias Tof­foli, do Supremo  Tribunal Federal. Na véspera havia sido anunciado que Toffoli será deslocado para a turma do STF que julgará o caso da Petrobras, de forma a completá-la como o quinto integrante. Por que o encontro justamente nesse dia? Não se desconfiaria que era por causa do julgamento? Resposta de Rousseff, no esplendor do estilo Rousseff: “Porque hoje era o dia que eu podia e ele podia. Eu podia, mas quase que não podia, porque eu vinha para cá. Mas, como tem duas horas de fuso, fiz a reunião”.

Acompanhemos as tortuosidades da mente presidencial. A primeira justificativa é a mais indiscutível possível, nesse e em todos os encontros, entre quaisquer pessoas, em qualquer lugar: porque um e o outro podiam. Mas logo ela se lembra que está no Acre, e que sua agenda não estava tão livre. Ou seja: “quase que não podia”. Lá no fundo um sinal de alerta lhe está soando: “Bem que eu poderia ter cancelado o encontro. A hora não era oportuna, e havia uma boa desculpa”. Como sair dessa? “Ah, sim, vou dizer que o fuso me dava umas horas a mais.” O deslocamento de Toffoli entre as turmas do STF foi articulado pelo insuspeito ministro Gilmar Mendes. Não há razão para desconfiança. O encontro com Dilma estava marcado havia tempos, como Toffoli comprovou, e trataria da criação de um registro único para substituir RG, CPF e título de eleitor, entre outros documentos. Mas a hora era inoportuna, e a reunião bem que poderia ter sido desmarcada. Todas essas razões, assaltando-lhe a mente, produziram mais um hit do discurso presidencial.

Reclamava-se da ausência da presidente, escondida até dias atrás. Ela reaparece e o resultado é que a crise cresce e cada vez mais se corporifica e se resume em sua pessoa. Qual a saída? É difícil dizer qual a melhor, mas a pior é fácil: o processo de impeachment. Se o ambiente já está carregado, com os cafajestes de um lado xingando a presidente de “vaca” e os do outro prometendo botar “exércitos” na rua, imagine-se o que seria a fase do enfrentamento nas esquinas, como o das torcidas de futebol. Impeachment, como disse o presidente Fernando Henrique, “é como bomba atômica; é para dissuadir, não para usar”.

Dilma e o PT acusam os adversários de desejar um “terceiro turno”. Collor já acusava de “terceiro turno” a mobilização contra seu governo. O PT ensaiou um terceiro turno com o “Fora FHC”. Imagi­ne-se o tamanho do “terceiro turno” que o PT provocaria caso o resultado da eleição tivesse sido o inverso, com Aécio ganhando por pouco de Dilma. A novidade da temporada é que os adversários aprenderam a agir como o PT. Há muito contra o que esbravejar nas ruas. Corrupção, desgoverno, mentiras, ineficiências. Já atiçar a bomba do impeachment é dar um passo rumo à guerra civil branca.

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