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“Quem é quem” e outras notas

Se está ruim para você, imagine para o bandido interrogado que quer trocar de lugar com a juíza Gabriela Hardt que o interroga

Por Valentina de Botas
Atualizado em 30 jul 2020, 20h09 - Publicado em 21 nov 2018, 14h47

Valentina de Botas

─ Doutora, eu sou dono do sítio ou não?

─ Quem tem de responder isso é o senhor e eu não estou sendo interrogada.

Se está ruim para você, imagine para o bandido interrogado que quer trocar de lugar com a juíza Gabriela Hardt que o interroga. O Ministério Público não denunciou Lula por ocultação de patrimônio, o ex-presidente sabe disso e insistiu em debater a propriedade do sítio porque tem a tara incurável de achar que sua inteligência só é inferior à imbecilidade que atribui aos demais habitantes do planeta. Ele foi denunciado por ser beneficiário ─ como usuário contumaz do sítio ─ das melhorias feitas lá pela OAS na forma de propina oriunda de contratos com o Poder Público. A concepção de governo e Estado do populista o leva a considerar-se destinatário natural de favores de empresários. A mistura perversa entre público e privado não é exclusividade de Lula, claro; em maior ou menor grau, ela coloniza a alma de quase todos os nossos políticos; em Lula, a coisa culminou em patologia. Me comove, admito, a figura abatida de alguém nessa idade, mas logo me lembro de que se trata de um bandido cujo abatimento não alcançou a convicção de que é superior à lei; de um bandido que, num abraço completo com as elites que passou a integrar, se fingia de homem do povo. No fim, revelou-se nem elite, nem povo ─ apenas escória.

Deve ser condenado nesse caso do sítio e é pequena a chance de conseguir um habeas corpus. Talvez sua esperança de sair da prisão esteja na eventual mudança do STF quanto à prisão depois de condenação em segunda instância a ser decidida no julgamento das Ações Diretas de Constitucionalidade. O assunto divide o mundo jurídico e não serei eu, que não pertenço a essa enfermaria, que saberei dizer o certo a se fazer. Seguir a Constituição é a única coisa certa a fazer, mas a pobre trintona é referência distante e customizada para a Corte que deveria defendê-la. O que sei é que, depois de receber de Fernando Henrique Cardoso o país pronto para continuar as reformas e implementar outras que modernizariam o país, Lula preferiu arcaizá-lo ainda mais para se garantir imperador do Brasil. Na voz de uma jovem juíza, ele foi lembrado qual o lugar do imperador das ruínas de si mesmo.

 

Depois ou nunca

Joaquim Levy no BNDES e Roberto Castello Branco na Petrobras: mais duas excelentes escolhas de Bolsonaro. Pena que só podemos elogiar atos e falas do presidente eleito depois que ele tomar posse, dizem bolsonaristas. Aparentemente, isso é só para críticas que podem ser feitas depois ou nunca. Na campanha, até mesmo analistas criticavam quem batesse em Bolsonaro, pois, por alguma lógica justificada por si mesma, só se deveria bater no PT. Depois da vitória de Bolsonaro, a blindagem vem na forma de “deixem o homem assumir”. Eu deixo. Agora, tirem essa blindagem pilantra do caminho que o pensamento livre quer passar. A crítica pertinente e honesta é sempre bem-vinda; ademais, quem critica ou elogia está se referindo às nomeações e às ações e falas do presidente eleito, não à atuação futura do nomeado e do presidente. Blindar um homem público da avaliação pública é coisa de devotos de seita, já tivemos muito disso. Deu em 14 anos de PT.

Mesmo a crítica honesta ao presidente eleito tem sido taxada de petista, esquerdista, imoral, ilegal ou que engorda. Inclusive por jornalistas autointitulados independentes. Que tal? Faço um lembrete: também por ter sido paparicado por grande parte do jornalismo, poupado por outra menor e criticado só por uma fração minúscula que o PT cumpriu seu destino degenerado. Não criem outro monstro. Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados. Certo, Millôr?

 

Monopólio da razão

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De um lado, as teorias conspiratórias do PT segundo as quais o impeachment de Dilma foi uma estratégia para ozamericano roubar nosso pré-sal e de que Sergio Moro é um agente da CIA com a missão de impedir que a alma mais honesta destepaiz continuasse a conceder que o pobre andasse de avião e frequentasse a universidade; de outro lado, teorias conspiratórias igualmente bisonhas dazurna fraudada (só no primeiro turno, já que Bolsonaro não venceu de pronto, mas não no segundo, já que Bolsonaro venceu), a desejável consciência quanto ao natural e inevitável confronto de valores culturais e morais degenerada num olavismo depravado traduzido em elaborações eruditas, grandiloquentes e alarmistas de uma certa “China Maoísta”, do tal “climatismo”, de um delirante “antinatalismo” e do inexplicável “vazio cultural da Europa”. De um lado, o deus Lula; de outro, o deus Trump e Bolsonaro, seu ungido nos trópicos. De um lado, devotos que se ajoelham voltados para a carceragem da PF em Curitiba; de outro, devotos prostrados na direção dos cafundós do oeste dos Estados Unidos e/ou do computador à espera das lives do mito tosco que desbanca o deus jeca.

No meio, quem convida um dos lados à razão é acusado de pertencer ao lado contrário; no meio, o país real que só quer saber, de imediato, o que o novo presidente vai fazer, quanto custará e quanto tempo levará para que 14 milhões de desempregados consigam o pão de cada dia e voltem em segurança para casa. Isso exige também uma relação responsável com parceiros comerciais fundamentais como os árabes (U$15 bi com o setor do agronegócio) e a China cujo “maoísmo” não é problema nosso. Para se alinhar a Israel ─ cuja existência é o triunfo da civilização sobre a barbárie ─ é desnecessário se meter no vespeiro sobre Jerusalém como capital do país; para abolir a herança moralmente asquerosa e economicamente danosa de Marco Aurélio Garcia e Celso Amorim, é desnecessário elevar Trump à categoria de divindade. A quem ainda devota a razão a um deus jeca, a um deus tosco ou a um deus-trump, nunca é demais lembrar: o primeiro está na cadeia, o segundo ficou 150 anos no Congresso fazendo tudo para aprofundar os dramas que mais nos atormentam (votando com o PT a pauta econômica que nos trouxe até aqui e contribuindo para a segurança somente com a discurseira lobista pró-armamento) e o terceiro nem sabe onde fica o Brasil e, se souber, não está nem aí. Em vez de disputarem o monopólio da razão, nossa esquerda caquética e a direita bolsonarista que já nasceu senil, ambas vendo a realidade como coisa opcional, deveriam disputar o monopólio da cretina indiferença ao país real. Daria empate.

 

Dallagnol, você está aí?

Acho uma graça que Deltan Dallagnol milite nas redes e que, em busca de holofotes, dê entrevista até para a luz da geladeira defendendo o povo brasileiro das artimanhas que os políticos ─ só eles, ex-procurador-geral, ex-presidenta e coleguinhas, não ─ usam para nos roubar; então, depois dos deputados, senadores aprovam um roubo na forma do aumento de salário para o Judiciário e, por tabela, do restante da multidão de funcionários públicos, mas nosso defensor se junta silencioso ao assalto. E tem ainda a aprovação do subsídio para a indústria automotiva. Nada de lista de não sei quantos congressistas citados, investigados, condenados ou presos; nada de linchamento de políticos cujo processo, não poucas vezes, é arquivado porque o MPF do procurador-defensor-do-povo-brasileiro, ocupado com a militância, não encontra provas. Lembrem que o escolhido para mudar tudoissaí votou a vida inteira a favor de decisões corporativistas e antiliberais como essas; agora, como presidente, finalmente enxergará o quão nefastos são parlamentares como ele foi. 

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