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Professores silenciosos

Se existe o Céu que aprendemos a admirar, um de seus habitantes é o padre-professor Silvestre Philippi

Por Deonísio da Silva
28 out 2018, 11h25

Deonísio da Silva

A vida de todos nós é repleta de mistérios e complexas sutilezas que nos tornam diferentes de uma abóbora, de um espinafre ou de um repolho.

Sem padres ou pastores letrados, assim como sem professoras nos anos de formação, nossa educação teria lacunas terríveis. Por séculos, a educação brasileira foi obra de mocinhas, as chamadas normalistas, de ordens religiosas e de igrejas confessionais.

Augusto Nunes era diretor de redação do Jornal do Brasil quando morreu o padre catarinense Silvestre Philippi, que, em minha adolescência profunda, logo depois do curso primário, tinha sido meu professor de Latim, de Português e de Música, três disciplinas de domínio conexo, como pode supor quem escreve.

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Nada mais enfadonho do que um texto que desconhece a referência solar de nossa língua, que não é nenhum dos vários idiomas que tanto enriqueceram nosso léxico, como o Árabe e as línguas africanas, mas o Latim. Santo Agostinho disse que um rosto irado não é latino nem grego. Certo. Mas, para descrevê-lo, nossa frase é latina.

Preside também a toda forma de expressão o espírito da língua. E nada mais insosso do que um texto sem melodia. A boa frase é musical. Em qualquer língua, aliás.

Perguntei a meu editor se podia sair do assunto da coluna naquela semana. Sempre generoso, Augusto respondeu: “Aqui, Deonísio pode tudo”.

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Acho que uma das marcas de quem dirige uma redação ou agora um blogue, como é o caso, é abrir estas afluências e confluências. Poucos são assim no convívio. Sei que Augusto Nunes e Ricardo Boechat, com os quais trabalho há tantos anos, sempre me deram o conforto de propor coisas novas. Afinal, é o que profissionais como eles mais fazem por onde passam: abrir novos caminhos.

A coluna circulava nas edições de terça-feira. Meu professor tinha sido sepultado em Armazém (SC) no domingo anterior. Falecera aos 73 anos.

“Eles o mataram ao transferi-lo para uma paróquia” me disse Salésio Herdt, ex-reitor da Unisul e hoje presidente da Fundação que mantém aquela universidade.

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Silente, quase anônimo, modesto e incrivelmente talentoso, padre-professor Silvestre Philippi jamais se esforçara por qualquer promoção. Adorava fazer o que fazia: realizar a paternidade ensinando os filhos dos outros. Milhares de alunos passaram por ali.

Talvez o padre-professor Silvestre Philippi tenha sido um ‘pequeno prócer’, expressão em si contraditória, uma vez que prócer tem o sentido de pessoa influente.

Sua influência foi profunda, mas para poucas pessoas, para algumas centenas de privilegiados ao longo de cinquenta anos. Ser aluno dele era um privilégio que então desconhecíamos.

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Ao ensinar redação, era frequente que dissesse de um texto: ‘Não soa bem’, ‘não sente que dói nos ouvidos!’, dizia, paciente. E mandava mudar a redação. Preocupava-se com a melodia do texto, que para ele era indispensável.

Por imposição da Igreja, foi-lhe proibido o amor das mulheres e viveu convicto de que no Paraíso, onde certamente está, a vida seria melhor também nesse quesito, pois, leitor de Santo Agostinho, viveu certo de que ‘a queda não melhorou nada e portanto também o gozo será melhor na outra vida’.

O Céu deve ser lugar muito aprazível, querido padre Philippi, como podemos imaginar nós, que deixamos o seminário e não aceitamos esta e outras restrições contrárias à vida.

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Que Teresa d’Ávila lhe seja boa companhia. Não tenho pressa, mas morro de curiosidade! Hereges dos primeiros séculos sentiram saudades do Céu, de onde teriam vindo nossas almas, e para onde um dia haverão de voltar, diziam.

Nossos sentidos vão até as fronteiras do mistério, mas, se existe o Céu que aprendemos a admirar, um de seus habitantes é o padre-professor Silvestre Philippi.

*Deonísio da Silva
Diretor do Instituto da Palavra & Professor
Titular Visitante da Universidade Estácio de Sá
https://portal.estacio.br/instituto-da-palavra

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