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Páscoa: Deu Barrabás no plebiscito

As democracias, para evitar os tiranos, têm uma fé cega nas multidões

Por Deonísio da Silva
Atualizado em 1 abr 2018, 11h04 - Publicado em 1 abr 2018, 11h04

Deonísio da Silva

Era costume indultar um criminoso na Páscoa. Pilatos pergunta: quem quereis que eu solte: Barrabás ou Jesus?

A turba, orientada por sumos sacerdotes, então de poderes semelhantes aos dos pontífices em Roma, decide aos gritos indultar Barrabás e condenar Jesus à morte na cruz.

Desde menino, este trecho dos Evangelhos desarruma meus sentimentos. Fazemos más escolhas na vida. E, na maioria das vezes, foram decisões erradas, tomadas por influência de outros. Não foram frutos de meditação, nem de honesto estudo com longa experiência misturadas, como diz Camões.

Quem consulta a História sabe que a turba não é a soma dos indivíduos que a integram. A multidão tem identidade própria, a soma das partes dá um outro todo, um monstro.

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As democracias, para evitar os tiranos, têm uma fé cega nas multidões. Talvez o argumento mais invocado seja o de Churchill: “a democracia é a pior forma de governo depois de todas as outras que foram experimentadas”. O que levou o escritor argentino Jorge Luís Borges a uma refinada ironia: “A democracia é uma superstição estatística”.

A democracia se esmera em oferecer personagens da Páscoa. Não seria oportunismo lembrar que, além de Pilatos, que passou a designar pessoa omissa, pois ele lavou as mãos diante do resultado do plebiscito, outros nomes próprios foram parar nos dicionários: Herodes, o cúmulo da crueldade, pois fez a matança da criançada; Judas, que virou sinônimo de traidor; e até Caifás, que serviu para designar o fazendeiro que acoitava os escravos, dando-lhes refúgio em suas propriedades, onde se homiziavam escravos fugidos.

Traidores ou traídos, cruéis ou moderados, todos um dia foram acalentados talvez num Moisés, o berço portátil cuja designação é inspirada no famoso líder que conduziu o povo hebreu da escravidão do Egito para a Terra Prometida, Canaã, em territórios hoje pertencentes a Israel, à Palestina e vizinhos.

Foi, aliás, este acontecimento histórico e religioso que deu o significado solar de Páscoa no Ocidente, ao ampliar o sentido de festa de pastores pela chegada da Primavera e a travessia do deserto e do Mar Vermelho, conhecida pelo Hebraico Pessach.

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De todo modo, talvez a cultura asteca também deva ser invocada na Páscoa: o chocolate, água amarga no original, tornou-se Theobroma, no Grego de Lineu (alimento dos deuses). E o coelho e os ovos, símbolos de fertilidade e de recomeço em outras culturas, foram acrescentados à festa a partir do século IV, quando a Igreja buscou firmar-se como instituição decisiva para o Império Romano.

Mas o que houve com Barrabás depois de ser solto? Ele some dos Evangelhos e da História, mas narrativas apócrifas dizem que ele morreu crucificado! E de Pilatos dizem que morreu afogado ou se suicidou com uma espada.

Estas e outras narrativas lendárias encantam multidões há milhares de anos.

Deonísio da Silva
Diretor do Instituto da Palavra & Professor
Titular Visitante da Universidade Estácio de Sá
https://portal.estacio.br/instituto-da-palavra

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