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Por Coluna
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Os vaga-lumes continuarão a piscar

Por mais que muitos berrem o contrário, tenho certeza de que a democracia estará garantida tanto com Haddad quanto com Bolsonaro

Por Branca Nunes 14 out 2018, 20h12

Branca Nunes

Quando esta coluna estiver publicada já teremos sobrevivido à primeira das três longas semanas que separam o primeiro do segundo turno das eleições. Ela começou assustadora. No dia seguinte à votação, acordei com mensagens de grandes amigos se xingando num grupo do WhatsApp, um culpando o outro por ter votado no candidato X ou Y e, assim, nos colocado nessa situação. “Imbecil” foi o adjetivo mais suave.

À tarde, foi a vez de um pacato grupo de mães de que participo. Os comentários, que normalmente não ultrapassam a fronteira da próxima festinha ou do resfriado que alguém pegou, começaram a incluir farpas que estavam prestes a culminar num “te pego na saída”, não fosse a (sábia) observação de uma das mulheres: “Não somos um grupo de amigos, somos um grupo funcional de mães”.

Em outro grupo de pais, uma das mães começou a postar fake news sobre um dos candidatos. Quando um pai educadamente reclamou, o marido da moça passou a ameaçá-lo. Os filhos deles têm 4 anos. Isso sem contar as acusações recíprocas de fascista, machista, homofóbico, comunista, ladrão e afins em todas as redes sociais.

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Pois estava eu conferindo as últimas notícias em meio a esse clima “espreme que sai sangue” quando minha filha de 6 anos começou a cantarolar: “Sujar o pé de areia pra depois lavar na água / Lavar o pé na água pra depois sujar de areia”. Sem que ela percebesse, parei, deixei o celular de lado e passei a prestar atenção na letra, que continuava assim: “Esperar o vaga-lume piscar outra vez / Ouvir a onda mais distante por trás da onda mais próxima / Respirar / Sentir o sabor do que comer / Caminhar / Se chover, tomar chuva / Não esperar nada acontecer / Ser gentil com qualquer pessoa”.

Ela me contou que acabou de aprender a música na escola. Chama-se “Num dia”. É do Arnaldo Antunes e é linda. Fala de coisas simples e gostosas da vida, aquilo que, de tão sutil, é mais sensação que verbo. Enquanto ouvia, lembrei do prazer que era avistar as jabuticabeiras carregadas ao entrar no quintal da minha avó. Esmagar com o pé uma daquelas frutas, enquanto subia na árvore em busca das mais graúdas. Avistar Taquaritinga ao longe, chegando de São Paulo. Tomar caldo de cana numa das kombis paradas na beira da estrada. Sentir o cheiro da chuva minutos antes dela cair. Descer a rua de bicicleta sem colocar o pé no freio, com o vento batendo no rosto. O segundo que antecede a queda numa piscina de águas tépidas. Os primeiros acordes de um ensaio da Batata Doce.

No fundo, são recordações como essas que importam. Na vida e na política. Por mais que muitos berrem o contrário, tenho certeza de que a democracia estará garantida tanto com Haddad quanto com Bolsonaro. Os dois lados têm seguidores racistas, machistas, homofóbicos, a favor da tortura e do golpe, ladrões e corruptos. Mas me tranquiliza saber que oito em cada dez eleitores do Haddad e do Bolsonaro que conheço não se enquadram em nenhuma dessas categorias. Pensar nisso me acalma tanto quanto a sensação de esperar o vaga-lume piscar outra vez.

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