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O papelório do prefeito garante que não havia nada de errado na boate assassina

Nascido há 60 anos em Santa Maria, onde sempre viveu, Cezar Schirmer conhece rua por rua, prédio por prédio a cidade que governa. Reeleito em outubro, o prefeito teve mais de quatro anos para conhecer página por página, linha por linha a legislação municipal concebida para impedir que aconteça o que aconteceu. Político profissional há […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 06h57 - Publicado em 31 jan 2013, 21h19

Cezar Schirmer

Nascido há 60 anos em Santa Maria, onde sempre viveu, Cezar Schirmer conhece rua por rua, prédio por prédio a cidade que governa. Reeleito em outubro, o prefeito teve mais de quatro anos para conhecer página por página, linha por linha a legislação municipal concebida para impedir que aconteça o que aconteceu. Político profissional há 40 anos, o ex-vereador, ex-deputado estadual, ex-deputado federal e ex-secretário de Estado sabe que, quando algum episódio ameaça a sobrevivência eleitoral, a culpa é sempre dos outros.

Se é que nunca entrou na Kiss, o prefeito cansou-se de ver o caixote comprimido pelos edifícios vizinhos que  já foi fábrica de cerveja antes de virar boate pronta para fabricar massacres. Schirmer também conhece as normas que determinam a interdição ou o fechamento de casas noturnas que não dispõem de saídas de emergência adequadamente sinalizadas. A Kiss tinha uma única porta, pela qual entraram e deveriam ter saído mais de 200 vítimas de homicídio culpado. Os fiscais da prefeitura deveriam vistoriar o local regularmente. Se olhassem por alguns segundos as paredes e o teto,  notariam que o dono do lugar resolvera enfeitá-los com material  inflamável.

Nessa hipótese, o serial killer que explorava baladas seria obrigado a exercitar a ganância criminosa em outro ramo. E Schirmer, como registra o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, não estaria lastimando a tragédia que nada fez para evitar. “Nunca chorei na minha vida, e agora choro toda hora”, repetiu nesta quarta-feira. Para não ter de chorar também a perda do mandato ou a morte nas urnas, o oficial graduado do PMDB gaúcho  tenta terceirizar os pecados que cometeu.

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Segundo o chefe da administração municipal, as investigações policiais, que já mandaram para a cadeia o dono da Kiss, devem concentrar-se no Corpo de Bombeiros, que deveria ter feito o que o prefeito e seus fiscais não fizeram. Só não têm culpa no cartório os suspeitos homiziados na prefeitura, jura Schirmer. Confira o palavrório em dilmês de bombacha abaixo transcrito (sem correções):

“Estou rigorosamente convencido de que, nas questões que envolvem a prefeitura, os documentos estavam formalmente e rigorosamente aptos para o funcionamento da boate. Os documentos da prefeitura estavam em ordem no dia da tragédia. Sobre outros documentos e questões, não posso opinar. Se há normas técnicas que não estão certas, se o prédio tem de ter cinco portas, se a lei é estadual ou federal… Houve uma vistoria em abril de 2012, que atestava que a boate estava apta para funcionamento. Os dois fiscais que fizeram a vistoria comunicaram que o alvará de incêndio venceria em agosto. O plano não foi renovado, segundo os bombeiros’.

Enquanto a cidade segue estacionada na madrugada apocalíptica, Schirmer caça álibis o tempo todo. Enquanto milhares de eleitores enfrentam a insônia sem remédio, o eleito empilha vigarices com firma reconhecida em cartório. Santa Maria só consegue pensar na dor que não passa. Ele já pensa na próxima eleição ─ e, amparado nos documentos que juntou, garante que estava tudo em ordem na boate assassina. A tragédia só aconteceu por não ter lido a papelada do prefeito.

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