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O livro de Marco Antonio Villa atesta que o mensalão encontrou o seu historiador

Marco Antonio Villa é homem disciplinado: único do grupo de convidados do site de VEJA que participou de todos os 40 debates sobre o julgamento do mensalão, chegou invariavelmente na hora combinada ─ depois de ter acompanhado a sessão do Supremo Tribunal Federal e refletido sobre os temas a discutir. O professor da Universidade Federal […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 07h18 - Publicado em 3 dez 2012, 13h12

Marco Antonio Villa é homem disciplinado: único do grupo de convidados do site de VEJA que participou de todos os 40 debates sobre o julgamento do mensalão, chegou invariavelmente na hora combinada ─ depois de ter acompanhado a sessão do Supremo Tribunal Federal e refletido sobre os temas a discutir. O professor da Universidade Federal de São Carlos também não é de perder tempo com palavrórios e fatos irrelevantes: sabe separar o essencial do acessório e, com clareza e concisão, conta o caso como o caso foi.

A soma dessas virtudes desvenda o mistério aparente: como é que Villa conseguiu escrever entre um debate e outro, sem interromper a colaboração regular com os principais jornais do país nem suspender suas múltiplas atividades, um livro indispensável sobre um julgamento que nem terminou? É uma proeza de bom tamanho. Mas não foi a única consumada com a publicação de Mensalão ─ O julgamento do maior caso de corrupção da história política brasileira. 

Quem acompanhou os debates no estúdio da Editora Abril descobriu que Villa fala como se estivesse escrevendo. E escreve como se estivesse conversando, atesta o livro. O autor se dispensa de minuetos retóricos para criticar a impontualidade, as tradições empoeiradas ou a linguagem pedante e verborrágica cultivadas pelos ministros, desmontar a argumentação indigente dos advogados de defesa, demolir o palavrório dos cúmplices de toga, exasperar-se com o cinismo dos comandantes da quadrilha e celebrar o triunfo da decência.

O olhar honesto do historiador é especialmente impiedoso com personagens como José Dirceu, que seria o presidente da República se não houvesse um mensalão em seu caminho, ou Ricardo Lewandowski, um advogado de defesa disfarçado de juiz. Mas não poupa sequer os que contribuíram para tornar o Brasil menos cafajeste. O decano Celso de Mello, por exemplo, não escapa de observações irônicas sobre a mania de recuar alguns séculos para justificar a decisão que vai anunciar na primavera de 2012. Em contrapartida, é homenageado com a reprodução parcial, na página de abertura, do voto em que fez um demolidor resumo da ópera:

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“Esse quadro de anomalia revela as gravíssimas consequências que derivam dessa aliança profana, desse gesto infiel e indigno de agentes corruptores, públicos e privados, e de parlamentares corrutos, em comportamentos criminosos, devidamente comprovados, que só fazem desqualificar e desautorizar, perante as leis criminais do país, a atuação desses marginais do poder”.

Num Brasil afrontado pela institucionalização da mentira em dimensões orwellianas, envilecido pela supremacia das versões malandras, ultrajado pelos sucessivos assassinatos da verdade factual, Villa vê as coisas como as coisas são. Sempre viu. Desde 2005, quando o Brasil foi confrontado com o escândalo inverossímil, ele vem defendendo com coragem e brilho teses que o STF acaba de ratificar.

Agora com o endosso da ampla maioria dos ministros, o livro conclui a implosão de monumentos ao embuste erguidos nos últimos sete e escancara o que os delinquentes cinco estrelas e seus comparsas tentaram inutilmente esconder: o mensalão não só existiu como foi muito mais que um caso de caixa dois. “Este livro conta a história de uma tentativa ─ fracassada ─ de tomada do Estado”, resume Villa já no início da tomografia do esquema criminoso.

Nas páginas seguintes, o brilhante historiador descreve a conspiração armada pelo alto comando do lulopetismo para aparelhar as instituições, capturar os três Poderes, algemar a oposição pusilânime e submeter o país ao domínio de uma seita incapaz de aceitar o convívio dos contrários. “O único projeto da aristocracia petista ─ conservadora, oportunista e reacionária – é perpetuar-se no poder”, constata o último capítulo.  “Para isso, precisa contar com uma sociedade civil amorfa, invertebrada”.

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Segundo Villa, a trama mensaleira seria bem sucedida se não tivesse tropeçado na independência do Judiciário e na liberdade de imprensa, “que acabaram se tornando, mesmo sem querer, os maiores obstáculos à ditadura de novo tipo que almejam criar”. O perigo não passou, adverte. “As decisões do Supremo permitem imaginar uma república onde os valores predominantes não sejam o da malandragem e o da corrupção”, anima-se. “Mas para que isso aconteça é preciso refundar a República”.

Depois de verem Villa em ação, muitos espectadores dos debates deduziram que o pai de todos os escândalos havia encontrado seu historiador. O livro atesta que estavam certos.

 

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