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O doutor em censura só esqueceu de mandar prender a foto

Os cinco sorrisos ao lado do homem à esquerda realçam o semblante monalisa-no-primeiro-esboço. A sisudez do terno escuro-brasília corretamente suavizada pela flor na lapela, os cabelos grisalhos como as sobrancelhas, o olhar ausente sugerindo que a cabeça flutua por latitudes nada frívolas, os ombros levemente vergados dos que carregam toneladas de pendências a resolver —as […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 17h11 - Publicado em 1 ago 2009, 16h37

Dácio Vieira, Sarney e turma

Os cinco sorrisos ao lado do homem à esquerda realçam o semblante monalisa-no-primeiro-esboço. A sisudez do terno escuro-brasília corretamente suavizada pela flor na lapela, os cabelos grisalhos como as sobrancelhas, o olhar ausente sugerindo que a cabeça flutua por latitudes nada frívolas, os ombros levemente vergados dos que carregam toneladas de pendências a resolver —as aparências gritam que aquilo é um juiz. E é.

Não um juiz qualquer. É um desembargador. Não um magistrado em começo de carreira que despacha no fórum acanhado do grotão. O desembargador Dácio Vieira delibera sobre o destino das gentes e das coisas no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Ele está bem no retrato do grupo de convidados para a festa de casamento. Ângela, sua mulher, e Sânzia Maia, mulher do Alto Funcionário do Congresso, não estão bem nem mal. Ambas com o corpo sitiado pelo vestido tomara-que caia, ambas com os músculos da face distendidos nos limites impostos pelo dermatologista, ambas com o sorriso à prova de angústia de quem está chegando do shopping ou saindo para o shopping, elas apenas completam a paisagem.

O problema é o resto da foto. O cenário confirma que foi feita na festa de casamento da filha do Alto Funcionário Agaciel Maia, durante 15 anos o onipotente e onipresente capataz do Senado. É o mais alegre entre os seis. À sua direita, o senador José Sarney capricha na pose de padrinho da noiva e imortal da Academia. À esquerda do anfitrião, o senador Renan Calheiros camufla com o sorriso de aeromoça a permanente desconfiança de que logo a casa vai cair.

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O autor, não identificado nos créditos, talvez soubesse que fotografava um desembargador acidental confraternizando com três prontuários. Mas não poderia saber que estava produzindo a prova de um crime que ainda não fora planejado. Consumou-se neste 31 de julho, quando o homem pago pelos contribuintes para fazer Justiça se nomeou censor da imprensa brasileira e proibiu o Estadão de divulgar informações sobre bandalheiras promovidas pelo bando de que fazem parte Sarney, Renan e Agaciel.

O advogado Dácio Vieira virou juiz contornando o campo minado dos concursos pelo atalho do “quinto constitucional”, que levou um consultor jurídico do Senado ao emprego de desembargador. Amigo e parceiro de Agaciel e Renan, percorreu a trilha desbastada pelo benfeitor José Sarney. Esses defeitos de fabricação explicam tanto a decisão temerária quanto o argumento atrevido que evocou para socorrer o protetor em apuros. Dácio alegou que são coisas privadas, e não assunto público, as obscenas conversas telefônicas que comprovam o desvio de dinheiro público para empresas privadas.

Assinada pelo desembargador, a decisão foi ditada pelo cúmplice. O doutor em censura só esqueceu  de mandar prender a foto.

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