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O coadjuvante do espetáculo do cinismo volta ao palco como papagaio de pirata

Três convidados e três sem-ingresso dividem com Dilma Roussef a foto que mostra o começo do primeiro discurso como presidente eleita. Por solicitação da candidata vitoriosa, posam para a posteridade o vice Michel Temer, o companheiro José Eduardo Dutra e o acompanhante José Eduardo Cardozo. Os outros são penetras. Valeram-se de empurrões, cotoveladas e pontapés […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 08h52 - Publicado em 14 Maio 2012, 16h23


Três convidados e três sem-ingresso dividem com Dilma Roussef a foto que mostra o começo do primeiro discurso como presidente eleita. Por solicitação da candidata vitoriosa, posam para a posteridade o vice Michel Temer, o companheiro José Eduardo Dutra e o acompanhante José Eduardo Cardozo. Os outros são penetras. Valeram-se de empurrões, cotoveladas e pontapés para alojar-se no espaço sempre diminuto reservado a essa maravilha da fauna política nativa: o papagaio de pirata.

Infiltrada entre Temer e Dilma, a prefeita Luizianne Lins capricha na expressão severa de quem veio de Fortaleza para testemunhar a leitura dos Dez Mandamentos pela voz de Moisés. Espremidas no fundo, há duas metades de rosto. A face esquerda pertence a Magno Malta, senador reeleito pelo PR capixaba. Pastor evangélico e pecador juramentado, ficou nacionalmente conhecido no escândalo dos sanguessugas. O dono da face direita é o enigma ainda por decifrar: se só é candidato a qualquer papel em qualquer novela de qualquer emissora, o que é que faz no retrato o ator José de Abreu?

Ele mesmo procurou esclarecer o mistério com um texto publicado no blog do Xexéo. O título é tão intrigante quanto a aparição em Brasília:Piratas, Papagaios, Torturas e Torturados. E tão amalucado quanto o texto, que começa por registrar o desconforto do articulista com a chuva de piadas que a foto inspirou. “A pior, exatamente de um humorista, o Gregório Duvivier, lançou meu nome (ainda bem que foi apenas o nome, não eu) para o Ministério da Figuração, logo eu que vivo fazendo novela das oito”, resmunga.

Com uma alusão cifrada a Dilma Rousseff, Abreu insinua em seguida que ficou na ribalta a pedido da estrela: “A verdade é que, naquele momento, quando tiraram os outros papagaios do palco e eu ia descer, uma mão firme me segurou, um olhar carinhoso cruzou com o meu e me senti estimulado a ficar. E fiquei”.  O resto do palavrório celebra o combatente triunfante:

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Eu estava entre amigos, lutadores, como eu, da boa luta. E vitoriosos numa batalha onde golpes baixos eram lançados a toda hora, um aborto na canela, uma homofobia nas partes pudendas, um bispo protetor de pedófilo pisando no dedão… Terrorista, ladra, assassina, era o que se dizia dela, minha companheira de luta contra a ditadura, que de branda nada tinha. E tome machismo, preconceito, baixarias. Estava feliz e emocionado, a lembrar dos censurados, dos torturados, dos assassinados pelo terror de Estado.

E pensei:

— Melhor ser papagaio de pirata que pirata sem papagaio.”

Foi a segunda atuação de José de Abreu como coadjuvante de comédias políticas de péssimo gosto.  Se desta vez só havia mocinhos em cena, eram vilões assumidos todos os participantes do espetáculo de estreia, encenado no Rio em agosto de 2006, na casa do ministro Gilberto Gil. Sentado na primeira fila de cadeiras da sala de visitas, o presidente Lula, convidado de honra, ouviu o resumo da ópera feito pelo produtor de cinema Luiz Carlos Barreto. “A política é um terreno pantanoso, a ética é de conveniência”, disse Barretão. “Se o fim é nobre, os fins justificam os meios. O que eu acho inaceitável é roubar. Mentir é do jogo político. Não é roubo”.

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Em campanha pelo segundo mandato, Lula sentiu-se entre companheiros. Sentiu-se entre cúmplices com a fala inicial do ator Paulo Betti: “Não vamos ser hipócritas: política se faz com mãos sujas”, recitou o ex-galã. “Não estou preocupado com a ética do PT”, solfejou o músico Wagner Tiso. “Acho que o PT fez um jogo que tem que fazer para governar o país”. O epílogo do espetáculo do cinismo ficou por conta do coadjuvante que, agora como papagaio de pirata, acusa as vítimas de práticas celebradas em 2006 na casa de Gilberto Gil. Foi ele o escalado para proclamar a inocência de José Dirceu, José Mentor e José Genoino, e a estender o braço solidário dos presentes aos três companheiros.

Todos Josés, como o ator. O Dirceu foi denunciado pela Procuradoria Geral da República e será julgado pelo Supremo Tribunal Federal por chefiar a quadrilha do mensalão. O Mentor ampliou notavelmente o prontuário como relator da CPI do Banestado e comparsa de Marcos Valério. O Genoino, uma das estrelas do mais superlativo escândalo da história da República, evadiu-se da presidência do PT depois que o assessor do irmão foi capturado com dólares na cueca. Abreu, o quarto José, mereceria a condenação ao ostracismo pelos brasileiros decentes se já não tivesse sido desde sempre condenado à obscuridade.

Os integrantes da tribo de José de Abreu são dependentess de patrocínios extorquidos de empresas estatais e favores concedidos pelo governo. Artistas e intelectuais estatizados se preocupam demais com as incertezas do futuro. É por isso que tantos envelhecem mal. Ou nem envelhecem: frequentemente passam, sem escalas, de moços a velhacos.

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