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O Brasil está fora da zona dos terremotos, mas permanece na rota dos mercadantes

Abalado pela segunda surra eleitoral consecutiva, o companheiro Aloízio Mercadante ganhou do Planalto o antidepressivo prescrito para flagelados das urnas: uma vaga no primeiro escalão. Formado em economia, ele sonha com o Ministério da Fazenda desde que se tornou conhecido no berçário por não cumprimentar os bebês vizinhos. Como o desemprego torna menos exigentes até […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 12h32 - Publicado em 19 mar 2011, 20h13

Abalado pela segunda surra eleitoral consecutiva, o companheiro Aloízio Mercadante ganhou do Planalto o antidepressivo prescrito para flagelados das urnas: uma vaga no primeiro escalão. Formado em economia, ele sonha com o Ministério da Fazenda desde que se tornou conhecido no berçário por não cumprimentar os bebês vizinhos. Como o desemprego torna menos exigentes até os mercadantes, o candidato derrotado ao governo paulista aceitou o Ministério da Ciência e Tecnologia com a animação de quem foi convidado para a presidência do Banco Central.

Essa estranha mistura de sabujice e arrogância precisou de dois ou três dias no emprego novo para virar especialista em coisas que ignora profundamente. Bastou-lhe uma ligeira mirada na Região Serrana devastada pelas tempestades, por exemplo, para avisar que isso não se repetirá. Dias depois, debitou na conta do aquecimento global o incêndio que destruiu os barracões de três escolas de samba do Rio. Nesta semana, um terremoto e um tsunami no Japão precipitaram o aparecimento da versão-2011 de Aloízio Mercadante: o doutor em acidentes naturais e questões nucleares.

A novidade estreou nesta terça-feira, numa entrevista coletiva em Brasília.  “No Brasil não tem os terremotos, tsunamis ou maremotos que têm no Japão”, começou a procissão de platitudes em mau português. “O Brasil não tem fronteira de placa tectônica. Tem chuvas, inundações e desmoronamentos, como já aconteceram em Angra dos Reis”. Seguiram-se tranquilizadoras comparações que, somadas, exibem a superioridade do colosso tropical sobre o Japão.

“O programa nuclear brasileiro tem uma linha de defesa mais rigorosa”, ensinou o ministro que até agora só foi visto em Angra dos Reis de calção, boné e sandálias havaianas. “São dois modelos de reatores distintos. O nosso reator é um pouco mais moderno. As paredes são mais robustas do que as do reator japonês e a nossa usina é capaz de aguentar tsunamis de até sete metros de altura e eventuais terremotos de 6,5 graus na escala Richter”.

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A discurseira só reforçou a suspeita de que, na cabeça do ministro da Ciência e Tecnologia, fusível é um fuzil redigido por Emir Sader. Mas já na quinta-feira retomou-a, sem correções de rumo, num encontro de produtores de álcool e açúcar no Rio de Janeiro. “Vamos aguardar os desdobramentos no Japão, mas uma coisa é certa: vamos adotar todos os protocolos internacionais, que provavelmente ficarão muito mais rigorosos”, preveniu. Os ouvintes ainda tentavam adivinhar que protocolos são esses quando o orador tratou de ampliar o enigma.

“Estamos diante de um paradigma”, alertou com cara de primeiro da classe e sublinhando com as sobrancelhas arqueadas  gravidade do aviso: “Há um risco que é dramático. Mas o Brasil vai discutir e acompanhar protocolos internacionais”. Antes que a turma dos canaviais saísse em disparada, à procura de abrigos subterrâneos e clínicas especializadas no tratamento dos efeitos da radioatividade, Mercadante transmitiu a grande notícia: o Brasil não tem motivos para preocupar-se.  “A presidente foi ministra de Minas e Energia”, lembrou. “Tem toda a competência técnica para tomar as decisões”.

Se alguma tragédia natural colocar em perigo as usinas de Angra, portanto, o país que está fora da zona dos terremotos mas permanece na rota dos mercadantes agora sabe que pode seguir dormindo em paz. O Japão precisou pedir ajuda ao resto do mundo. O Brasil Maravilha só precisará chamar Dilma Rousseff.

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