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O bando de testemunhas de defesa merece ser incluído entre as provas contra Palocci

Emudecido pela descoberta do milagre da multiplicação do patrimônio, que fez de um médico sanitarista o mais próspero especialista em operações sigilosas, Antonio Palocci completou oito dias de estrepitoso silêncio. Não precisou dar um pio para ser absolvido pela Comissão de Ética Pública da Presidência da República. Bastaram explicações por escrito. Nem precisou telefonar para […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 11h54 - Publicado em 23 Maio 2011, 19h36

Emudecido pela descoberta do milagre da multiplicação do patrimônio, que fez de um médico sanitarista o mais próspero especialista em operações sigilosas, Antonio Palocci completou oito dias de estrepitoso silêncio. Não precisou dar um pio para ser absolvido pela Comissão de Ética Pública da Presidência da República. Bastaram explicações por escrito. Nem precisou telefonar para congressistas para conseguir a solidariedade da base alugada (e de oposicionistas com culpa no cartório). Bastou o recado do assessor Thomaz Traumann lembrando que o chefe  fez o que meio mundo faz.

A cada 15 anos, constatou o jornalista Ivan Lessa, o Brasil esquece o que aconteceu nos 15 anos anteriores. Esse prazo valia para o século passado. Neste, ficou bem mais curto, sobretudo por faltar espaço no noticiário jornalístico e na memória dos brasileiros para armazenar por muito tempo tantos escândalos, roubalheiras, pilantragens e sem-vergonhices envolvendo corruptos com salvo-conduto expedido pelo governo. Hoje, nos cálculos do Planalto, o país esquece a cada 15 dias o que aconteceu nos 15 dias anteriores.

Quinze dias foi o prazo estabelecido pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para que o chefe da Casa Civil apresente as explicações solicitadas pelo DEM e pelo PPS, justificadamente  intrigados com o surto de enriquecimento que acometeu o ministro, e que se tornou especialmente agudo depois da vitória de Dilma Rousseff. Até aí, nada demais, apressou-se a esclarecer Gurgel antes mesmo de repassar a Palocci as interrogações formuladas pelos partidos.

“Exercício de consultoria não é crime”, pontificou. (Em princípio, não é crime exercer ofício nenhum, desde que o profissional não se valha dos  instrumentos de trabalho para cometer delinquências). “O procurador-geral só atua nas encrencas mesmo, só atua quando há crime”, enfatizou. “A prestação de consultoria pode ser reprovável em aspectos éticos, mas, em princípio, não constitui crime e, se não constitui crime, não justifica a atuação do Ministério Público”.

Não é conversa de quem só decidirá o que fazer, com a seriedade que se exige do chefe de uma das raras instituições ainda respeitáveis, depois de examinar com lupa as explicações de Palocci. É conversa de quem espera que passem com mais rapidez as duas semanas que precedem o esquecimento. A montanha de indícios veementes berra que Gurgel só não vê nada de estranho porque foi contaminado pela miopia conveniente que grassa no Planalto.

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Em 2006, o governo enxergou uma “movimentação financeira atípica” nos R$ 35 mil depositados na conta do caseiro Francenildo Costa. Em novembro e dezembro de 2010, Palocci movimentou pelo menos R$ 10 milhões. A bolada é 285 vezes maior que o dinheiro recebido por Francenildo. Equivale a 18.348 salários mínimos, ou 416 carros populares.O que fez Palocci em troca dessas quantias de espantar banqueiro americano? As autoridades financeiras taparam as narinas para o fortíssimo odor de tráfico de influência. E o  procurador-geral não avistou nenhum sinal de “encrenca mesmo”.

Em países sérios, o Ministério Público nem precisaria dessas cifras estarrecedoras para entrar em ação. Bastaria a contemplação dos aliados que louvaram publicamente “a lisura”, “o excelente caráter” ou “a integridade” do suspeito ─ um bando que inclui figuras como Paulo Maluf, José Sarney, Romero Jucá, Renan Calheiros, Luiz Gushiken, Miriam Belchior, Ideli Salvatti, Gilberto Carvalho, Rui Falcão, Cândido Vaccarezza e Edison Lobão. Caso fossem arrolados como testemunhas de defesa e comparecessem juntos à mesma audiência, não escapariam de um processo por formação de quadrilha ou bando. Quem é absolvido por gente assim só pode ser culpado. E merece punição exemplar.

O governo acredita que faltam poucos dias para que expire o prazo de validade do escândalo. Pode descobrir que o país ficou menos desmemoriado, e que os descontentes são mais numerosos do que imagina. É improvável que Palocci consiga escapar pelo silêncio. Logo chegará a hora de explicar-se. Se for convincente, merece voltar ao Ministério da Fazenda: esse é o lugar de quem consegue fabricar dinheiro suficiente para ficar milionário em quatro anos com uma empresa de um homem só.

Se continuar mentindo, será devolvido à planície de onde nunca deveria ter saído.

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