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Miséria explorada

Guilherme Boulos poderia dedicar-se menos à política partidária de bajulação a Lula, e ter uma visão mais ampla do que seja uma verdadeira ação política

Por Merval Pereira
Atualizado em 30 jul 2020, 20h28 - Publicado em 10 Maio 2018, 13h45

Merval Pereira (publicado no Globo)

O desabamento do edifício em São Paulo ocupado por uma dissidência do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) explicitou o descaso das autoridades públicas que, além de não terem programas habitacionais para combater a tragédia da falta de moradia, não fiscalizam os pardieiros invadidos por uma centena de movimentos ditos sociais, mas que, em sua maioria, se transformaram em milícias urbanas, arrancando dinheiro de quem não tem nem para viver.

Por outro lado, o principal movimento, o MTST, que ganhou notoriedade pelo protagonismo de Guilherme Boulos no cenário político nacional, não atua para coibir essas verdadeiras quadrilhas que se aproveitam dos que o candidato à presidência do PSOL alega representar e proteger.

O máximo que Boulos conseguiu fazer foi uma declaração de solidariedade, e garantir, estranhamente, que nunca havia ouvido falar nesse movimento que extorquia dinheiro dos sem teto que ele pretende liderar. E ainda deu-se ao luxo de criticar “os que querem se aproveitar de uma tragédia para fazer política”.

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Se não sabe da existência desse e de outros movimentos semelhantes, no mínimo é um relapso, pois deveria ter informações sobre os que atuam no seu terreno, desmoralizando uma campanha que se anuncia como séria e defensora dos direitos humanos dos que não tem casa para morar.

Boulos e seus assessores tinham, na verdade, obrigação de denunciar esse tipo de gente que se aproveita da miséria alheia. Poderiam aproveitar o acesso que têm às autoridades para propor uma campanha conjunta de moralização desses cortiços, ocupados muitas vezes por quadrilhas de bandidos que encontraram neles um novo filão para ganhar dinheiro ilegalmente, da mesma maneira que vendem drogas dentro das ocupações e facilitam instalações clandestinas, os chamados gatos, que acabam provocando tragédias como a do edifício Wilton Paes de Almeida.

Esses grupos, que no limite são ligados a facções criminosas, assemelham-se às milícias que atuam nas comunidades pobres e favelas do Rio, e precisam ser combatidos. A união de milicianos com traficantes, que a polícia paulista está investigando e a intervenção no Rio está combatendo arduamente, é uma ameaça a toda a sociedade.   

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Guilherme Boulos teria credibilidade para cobrar da prefeitura atitudes mais eficazes para transformar esses prédios invadidos em moradia barata, com direito à fiscalização dos poderes públicos. A prefeitura de São Paulo, em versões recentes ou mais remotas, desde 1997, quando ocorreu a primeira invasão do MTST em um prédio público de São Paulo, têm responsabilidade maior ainda, pois não podem governar apenas para uma parte da população, esquecendo os que são explorados e permanecem vivendo como animais.

Se Guilherme Boulos não se dedicasse tanto à política partidária, e tivesse uma visão mais ampla do que seja uma verdadeira ação política, não permaneceria em Curitiba prestando homenagem a Lula, esperando receber migalhas do espólio do lulismo. E usando os miseráveis que o seguem com fins partidários, colocando-os à disposição da luta política do ex-presidente.

O presidente Michel Temer, já escrevi aqui, não deveria ter ido aos escombros, por ser uma clara ação política indevida, num ambiente hostil. Mas Boulos tinha obrigação de lá estar presente, e de denunciar a extorsão que estava em curso, distorcendo o sentido da ação social que ele alegadamente lidera.

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Dizer que nunca ouviu falar desse movimento, e de diversos outros espalhados pelo país, não é suficiente para expiar sua irresponsabilidade. Afinal, um verdadeiro líder tem obrigação de denunciar os que se aproveitam de situações miseráveis para explorar o próximo. Ou basta denunciar as autoridades burguesas e os capitalistas desalmados para justificar sua atuação política?

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