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Especial VEJA: Emílio Garrastazu Médici ─ Adivinhem quem vem jantar

Publicado na edição impressa de VEJA “De qualquer maneira, o senhor está convidado para jantar em nossa companhia.” Com essas palavras corteses, o general Emílio Garrastazu Médici selou os fatos consumados: os militares golpistas seriam vencedores e os governistas não oporiam resistência. O convite foi feito na entrada monumental da Academia Militar das Agulhas Negras […]

Por Branca Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 04h02 - Publicado em 15 abr 2014, 08h42

Publicado na edição impressa de VEJA

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“De qualquer maneira, o senhor está convidado para jantar em nossa companhia.” Com essas palavras corteses, o general Emílio Garrastazu Médici selou os fatos consumados: os militares golpistas seriam vencedores e os governistas não oporiam resistência. O convite foi feito na entrada monumental da Academia Militar das Agulhas Negras num encontro noturno em que choviam estrelas nos ombros de seus três participantes e que poderia acabar em troca de chumbo.

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De um lado, Médici, o comandante da Aman que já havia colocado seus cadetes no entroncamento entre Rio de Janeiro e São Paulo, e Amaury Kruel, o general que contava, chegado de São Paulo com sua tropa. Do outro, saudado por cadetes de luvas brancas e vindo do Rio num carro oficial preto com uma missão impossível, Armando de Moraes Âncora, nomeado ministro da Guerra in extremis para tentar salvar o já condenado governo de João Goulart. O diálogo rascante entre Kruel e Âncora foi testemunhado por Fernando Pinto, à época repórter da revista Manchete, que havia deixado na churrascaria de um hotel de Resende “praticamente todos os repórteres do Rio e de São Paulo encharcando-se alegremente de carne e vinho, enquanto aguardavam o pipocar do primeiro tiro de canhão”.

Kruel saudou-o como general, Âncora exigiu ser tratado como ministro. “O senhor não é mais ministro da Guerra”, ouviu em resposta. “Acontece que não fui informado a respeito”, retrucou. “O senhor será oficialmente informado quando retornar ao Rio de Janeiro”, encerrou Kruel. Foi nessa hora que Médici diplomaticamente interferiu com o convite para jantar. Entenderam-se, e Âncora depois explicou que havia ficado aliviado por não se ver na contingência de ordenar um ataque contra jovens e inexperientes alunos da academia. Foi embora como chegou: saudado por cadetes de luvas brancas, enquanto os de uniforme de combate continuavam na beira da estrada, esperando os tiros que nunca chegaram.

Solícito e amável no trato pessoal, ao contrário da imagem que depois deixou como general-presidente durante o período mais tenebroso da ditadura, Médici foi um conspirador cauteloso, mas de primeira hora. Pelo menos assim aparece na lista de pioneiros feita por um conhecedor íntimo do assunto, Olympio Mourão Filho, o homem que pôs a tropa na rua antes de todos os outros generais. “Eu já havia falado três vezes ao general Costa e Silva e ele me repelira, e o general Castello nem queria ouvir falar em revolução”, anotou, rancorosamente, Mourão.

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Médici, ao contrário, acompanhava-o desde 1963 “no pensamento de que a revolução seria indispensável”. Por ter chegado ao cume da carreira longe de futricas, complôs e outros barulhos, Médici era o único general de exército livre de restrições de seus belicosos pares quando foi preciso escolher um presidente que ficasse no lugar da junta militar formada com a doença, e posterior morte, de Costa e Silva. Cinco anos e sete meses depois do encontro de Agulhas Negras, em 30 de outubro de 1969, seu discurso de posse como presidente começou com um tom quase religioso: “Homens de meu país! Neste momento eu sou a oferta e a aceitação. Não sou promessa. Quero ser verdade e confiança, ser a coragem, a humildade e a união. A oferta de meu compromisso ao povo, perante o Congresso de seus representantes, quero-a um ato de reverdecimento democrático”. Remetendo-se a suas origens em Bagé, professou: “Homem da fronteira, creio em um mundo sem fronteiras entre os homens”.

Nada no Brasil de Médici reverdeceu ou se abriu, mas o mais improvável dos presidentes em 1964 não precisava mais, em 1969, fazer convites para jantar. Conhecia o seu eleitorado. E sabia exatamente o que fazer.

Colaboradores: André Petry, Augusto Nunes, Carlos Graieb, Diogo Schelp, Duda Teixeira, Eurípedes Alcântara, Fábio Altman, Giuliano Guandalini, Jerônimo Teixeira, Juliana Linhares, Leslie Lestão, Otávio Cabral, Pedro Dias, Rinaldo Gama, Thaís Oyama e Vilma Gryzinski.

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