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Eleições americanas 2018: que país é esse?

Falta muito para colocarem alguns jornais na parte de ficção das livrarias?

Por Ana Paula Henkel
Atualizado em 30 jul 2020, 20h09 - Publicado em 16 nov 2018, 15h43

Ana Paula Henkel (publicado no Estadão)

Lendo as análises e matérias de parte da imprensa brasileira sobre as eleições americanas do último dia 6 de novembro, tenho que confessar que não reconheço esse país que estão falando, mesmo morando aqui há quase 10 anos. Depois da “influência russa”, “atriz pornô derruba Trump”, “Trump bebe muito refrigerante diet e não tem animal de estimação”, agora temos a “onda Democrata” e o “impeachment de Trump”. Hm. Sigamos.

A onda que alguns analistas militantes andam surfando é a de meias-verdades, exageros e até bobagens sobre o desempenho de Republicanos e Democratas nas urnas e do futuro do governo Trump. O bufão laranja não é lá a figura mais carismática da política americana, e apesar de que distorcer fatos ou dourar pílulas a favor do partido de Obama seja comum, a sabotagem, palavra da moda para a política brasileira, anda sendo muito bem aplicada também quando o assunto é os EUA. Falta muito para colocarem alguns jornais na parte de ficção das livrarias?

Com a devida vênia aos militantes das redações tupiniquins, vamos aos fatos. O Partido Republicano perdeu o controle da Câmara dos Deputados, o que é normal e esperado, num resultado muito mais apertado e positivo para o presidente do que “a onda que derrubou os Republicanos” que vem sendo noticiada por aí. A verdade é que em apenas três vezes na história americana a Câmara não foi controlada, ou retomada, pelo partido oposto ao do presidente em questão nas eleições de midterms. O sistema político americano, brilhantemente arquitetado pelos Pais Fundadores, tem em si esse auto-ajuste para que um partido não fique no poder durante muito tempo. A alternância de poder, na Câmara, no Senado e na Presidência, está no DNA da política e do eleitor americano e é uma das engrenagens mais saudáveis e eficientes da república para o equilíbrio democrático.

No Senado, o partido Republicano teve uma vitória histórica, já que a alternância de controle é o mais comum, não apenas por manter a casa, mas por aumentar o número de senadores e ampliar sua maioria. O Senado para a atual presidência era a prioridade, uma vez que é na Comissão do Senado que nomes de juízes para a Suprema Corte são aprovados. Trump já nomeou dois juízes desde 2016 e tem nos próximos dois anos a possibilidade de nomear mais um, aumentando com folga a vantagem conservadora na Suprema Corte.

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Nos governos de estado, os cinco candidatos apoiados por Trump venceram e os quatro apoiados por Obama e mais radicais à esquerda, abertamente socialistas como Andrew Gillum da Flórida, perderam. O desempenho nas urnas de uma ala patrocinada e encampada por Barack Obama e as celebridades de sempre de Hollywood tiveram um desempenho decepcionante, para não dizer pífio, nas urnas. As celebridades não conseguiram eleger ninguém e a tal “onda azul”, cor do Partido Democrata, só existiu no universo paralelo de parte do jornalismo que se recusa a fazer jornalismo e ainda permanece com pom-poms nas mãos em suas bolhas de torcidas partidárias.

Indiscutivelmente esta eleição mostra que o Partido Democrata foi empurrado um pouco mais para o centro-esquerda, algo óbvio depois de oito anos de Barack Obama e da retumbante vitória do Partido Republicano na eleição de 2016, a maior em quase 80 anos. Mesmo que ainda haja algumas pobres almas que ainda repitam a piada sem graça de que a Rússia teria decidido a eleição de Trump, uma teoria conspiratória constrangedora, de corar qualquer pessoa séria, o sentimento geral é que se o Partido Democrata não quiser ser atropelado por Trump em 2020 terá que colocar seus políticos análogos a Guilherme Boulos e Manuela Dávila para escanteio e voltar a ouvir os mais próximos de Geraldo Alckmin ou Marina Silva.

Até Mark Penn, antigo conselheiro dos Clintons, acaba de dizer que Hillary pode disputar a próxima eleição presidencial, sinalizando à ala mais socialista do partido que os “tucanos ianques” ainda não entregaram os pontos. A derrota do Democrata Andrew Gillum para o governo da Flórida é sintomática: ainda mais radical que os mais extremistas do seu partido, concorreu com algumas bandeiras de fazer o PSTU ou PSOL parecerem moderados. Gillum foi abraçado por Obama e seus minions, recebeu uma fortuna para disputar um estado com uma parte grande e importante da população de origem latina, e mesmo assim perdeu para o concorrente Republicano Ron DeSantis, um dos candidatos mais identificados com Trump e suas políticas este ano.

Não há dúvidas que ninguém no Partido Republicano fez festa por perder o controle da Câmara dos Deputados, mas as 26 cadeiras perdidas por Trump, mesmo número de Reagan em 1982, não são nada perto das 54 cadeiras que Bill Clinton perdeu em 1994 ou das 63 cadeiras que Obama viu trocarem de lado em 2010, perdendo ainda outras 13 em 2014, numa casa já dominada por seus opositores, perdendo também o controle do Senado. Sabemos que números e fatos podem ser um incômodo aos guardiões dos portões das narrativas, mas a verdade é que comparado a Obama, Trump e o Partido Republicano poderiam soltar fogos de artifício.

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É importante ressaltar também que Trump estava com dificuldades para avançar suas principais agendas na Câmara, uma situação complicada para quem em tese controla a casa. Agora sem o controle será muito mais fácil culpar a oposição pelo obstrucionismo, o que da a ele uma ótima narrativa para 2020. A retomada da Câmara pelos Democratas significa mais poder no jogo e, consequentemente, mais responsabilidade. Muitos Democratas tentarão prosseguir com a agenda do impeachment, mas serão cobrados em 2020 por pautas impactantes na sociedade, como a da imigração e o sistema de saúde que são muito mais pertinentes e urgentes do que uma chuva de intimações e depoimentos com o foco apenas em novas investigações contra Trump.

Além da economia e da bolsa estarem em alta, com ganhos claros para o cidadão, especialmente das minorias com recordes históricos de emprego, o ISIS foi vencido, a Coréia do Norte emparedada e os famigerados acordos internacionais mais lesivos ao país estão sendo, um a um, questionados ou revogados. Os investimentos vão bem, obrigada, e a economia na América está voltado a um nível de euforia só vista nos tempos de Ronald Reagan, por isso, para a grande maioria silenciosa de eleitores moderados de ambos os partidos, impeachment não é prioridade e não agregaria nada à uma economia saudável e próspera como a atual.

O Partido Democrata continua numa luta interna feroz entre os mais extremistas para a esquerda, liderados por Barack Obama, e os social-democratas, liderados pelos Clintons (apesar de que a família é conhecida por mudar posições para seguir o dinheiro). Os opositores de Trump podem chegar divididos nas primárias como estavam na última, e se a próxima Câmara não encontrar nada contra Trump em alguma futura investigação, ele deve seguir confortável no comando do Partido Republicano, que deve aprovar seu nome por aclamação na próxima convenção para a corrida presidencial de 2020.

A chamada “onda azul” que foi prevista por muitos analistas, simplesmente não aconteceu. Os Democratas de melhor desempenho nas urnas foram, na sua maioria, os mais moderados, e nunca houve tantos candidatos ex-militares entre os azuis, um perfil muito mais comum no Partido Republicano. Na eleição onde eleitores moderados, de ambos os partidos, foram os vencedores, não vimos por aqui sequer uma marolinha Democrata. Onda mesmo, continua a das fake news. Segurem suas pranchas!

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