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Eduardo Oinegue: Enrugado. Mas com ideias novas

Com idade entre 60 e 74 anos, os possíveis candidatos à Presidência são os mais velhos da nossa história. Agora é identificar o que tem mais frescor

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 20h41 - Publicado em 11 nov 2017, 07h02

Publicado na edição impressa de VEJA

Se não tivermos surpresas, há uma certeza e uma grande dúvida sobre a corrida presidencial de 2018. A certeza é que ela não será a eleição do candidato novo:

  •  A idade média dos que frequentam as bolsas de apostas e as simulações dos institutos de pesquisa é 67 anos — a mais alta de todas as campanhas presidenciais da história republicana. Nas 22 campanhas diretas desde 1894, em apenas cinco a faixa etária média dos postulantes superou 60 anos. Nunca passou de 63. Na última campanha, a média foi 59 anos.
  •  Pela primeira vez na história talvez não tenhamos um único candidato na faixa dos 50 anos. Os mais jovens se tornam sessentões agora: Ciro Gomes, nesta segunda-feira, 6 de novembro; João Doria, em 16 de dezembro; e Marina Silva, em fevereiro do ano que vem. Jair Bolsonaro estará com 63 na eleição, Geraldo Alckmin, com 65. A presença de candidatos mais jovens — seja Rodrigo Maia, que terá 48 em 2018, seja o apresentador Luciano Huck, que completará 47 anos um mês antes do primeiro turno —, por enquanto, é mera especulação.
  • Também pela primeira vez há na lista quatro candidatos acima de 70 anos: Lula, Cristovam Buarque e Alvaro Dias, que já anunciaram a intenção de disputar, mais Henrique Meirelles, em quem muitos enxergam as credenciais para concorrer se a economia melhorar.
  • Trata-se do grupamento mais testado de todos os tempos, gente que, na média, pediu voto pela primeira vez há mais de trinta anos — seis anos a mais do que a média dos outros 22 presidentes eleitos diretamente. O recordista é Alvaro Dias, eleito vereador em Londrina em 1968. Há duas exceções: Joaquim Barbosa, presente em algumas simulações de pesquisa, que nunca concorreu a nada, e Doria, que estreou nas urnas nas eleições municipais do ano passado.
  • Dos pretendentes, seis já disputaram a Presidência. Além de Lula, que concorreu cinco vezes e venceu duas, já tentaram o Palácio do Planalto Alckmin, Ciro Gomes, Cristovam Buarque, Eduardo Jorge e Marina Silva. Podem ser sete se entrar no jogo Ronaldo Caiado, candidato em 1989.

Agora, a grande dúvida: se não será a eleição do candidato novo, 2018 poderá ser a eleição das ideias novas? Nas sete campanhas desde a redemocratização sobraram agressões, acusações e promessas vazias feitas pelos presidenciáveis. Faltaram propostas concretas para os conhecidos problemas nacionais: saúde, educação, segurança pública, atribuições do Estado, carga tributária, burocracia, investimento em infraestrutura, e outros tantos pontos de uma lista conhecida. Tudo sempre foi debatido de forma mágica. A Previdência está quebrada? Sanearei. A inflação está alta? Baixarei. Faltam empregos? Empregarei. A corrupção é um problema? Combaterei. Discutiu-se à exaustão o que fazer, ignorou-se solenemente o como fazer. “O que” é o espaço da criatividade, “o como”, o da responsabilidade. E é aí que pode estar o novo.

Daqui a menos de um ano, em agosto de 2018, ocorrerão as convenções partidárias. Dois meses depois, em outubro, perto de 150 milhões de brasileiros irão às urnas com a missão de votar seis vezes: para governador, deputado estadual, deputado federal, para duas vagas de senador e para o personagem central dessa disputa, o presidente da República. O desafio será selecionar o presidenciável que não apenas identifique os problemas, mas descreva claramente as soluções concretas que irá adotar e o que fará para implementá-las. Precisamos de alguém que demonstre ter jogo de cintura para formar maioria no Congresso. Alguém que controle as corporações, que dialogue com os governadores, que enfrente as pressões sem espanar. O novo não estará na pele lisa do candidato, mas precisa estar no frescor de suas ideias.

As pesquisas são unânimes ao afirmar que o brasileiro quer combater a velhacaria da política votando no novo. Só que, como se pode perceber, não surgiu até o momento nenhum Emmanuel Macron, eleito presidente da França aos 39 anos, nem mesmo um Mauricio Macri, escolhido para comandar a Argentina em 2015, aos 56 anos. Com 67 anos de idade média, nosso conjunto pende para um perfil etário próximo ao de Donald Trump, eleito aos 70 anos. Em alguns casos, próximo até ao de um Pedro Pablo Kuczynski, do Peru, eleito em 2016, aos 77 anos. Se tomarmos o novo como sinônimo exclusivo de juventude, o quadro se torna inquietante. Felizmente, o novo embute um significado mais abstrato e menos cronológico. O velho pode ser o novo e o novo, o velho.

Em 1985, quando o Brasil teve sua última eleição indireta, o novo era Tancredo Neves, do PMDB, que tinha 75 anos, e o velho era Paulo Maluf, de 53 anos, candidato do regime militar. José Sarney, o vice que assumiu com a morte de Tancredo, virou símbolo da política velha. Tinha 55 anos quando chegou ao Palácio do Planalto. Getúlio Vargas tinha menos de 50 anos quando participou do golpe em 1930. Jânio Quadros tinha pouco mais de 40 ao baixar um decreto proibindo maiôs cavados em concursos de miss. O quarentão Fernando Collor confiscou a poupança na tentativa de acabar com a inflação e fracassou. Ela seria vencida quatro anos depois, com o Plano Real, comandado pelo sexagenário Fernando Henrique Cardoso, nomeado ministro da Fazenda pelo também sexagenário Itamar Franco.

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Enquanto no governo o novo se refere às realizações, nas campanhas o novo diz respeito às expectativas. “Ser novo” é predicado que rivaliza com “ser honesto”, “ser competente”, “ser uma liderança”, todos presentes nos levantamentos que traçam o perfil do candidato ideal na opinião do eleitor. São os chamados atributos, que não são necessariamente as características que o político carrega de fato, mas sim as que ele projeta, as que parece possuir. O candidato pode não ter grandes realizações no currículo, mas seus atributos impressionam e ele vence. Pode acontecer o contrário. O candidato tem uma biografia incontestável, só que projeta atributos encarquilhados e perde. Aconteceu com Ulysses Guimarães, deputado de dez mandatos, um dos maiores nomes da política brasileira. Sua trajetória foi ignorada na corrida presidencial de 1989. Acabou em sétimo lugar, com menos de 5% dos votos.

O novo tem brilho nos olhos e fogo nas ventas. Percebe-se a presença do novo observando-o entre os demais, por comparação, que é como o eleitor escolhe. O novo logo vira o centro das atenções. Pode ser pela postura diferente, pelo discurso diferente, pelo comportamento diferente. Mais uma vez, o novo pode ser o velho. Em 1984, Ronald Reagan, de 73 anos, buscava a reeleição. Seu adversário era o democrata Walter Mondale, de 56. A idade de Reagan virou assunto natural da campanha. Questionado por um jornalista sobre o fato de ser o presidente mais velho da história americana, Reagan se saiu com a seguinte resposta: “Não tornarei a idade um problema desta campanha. Não vou explorar, para fins políticos, a juventude e a inexperiência do meu oponente”. Reagan foi reeleito.

O novo leva à campanha uma eletricidade diferente. Independentemente da idade, Reagan foi o novo nas duas campanhas das quais participou. Independentemente da idade, Collor foi o novo em 1989. Ronaldo Caiado também tinha 40 anos e não vingou. Guilherme Afif Domingos era só alguns anos mais velho e também não emplacou. Lula, a quem Collor derrotou, era quase tão jovem quanto ele (44 anos). O que pesou foi a comparação. Ainda que não tivesse apresentado propostas concretas, Collor pareceu mais confiável para a maioria. Depois da derrota, Lula perdeu duas vezes seguidas para FHC: em 1994, aos 48 anos, e em 1998, aos 52 anos. Chegou ao Planalto em 2002, quando o eleitorado já queria se livrar dos tucanos. E só deu certo porque arrumou um vice empresário e divulgou a Carta ao Povo Brasileiro para ganhar a confiança do mercado. O velho Lula radical perdeu as três eleições que disputou. O novo Lula levou duas, e ainda elegeu e reelegeu a sucessora.

A campanha de 2016 entrará para a história como uma corrida marcada pela presença do novo, no caso, João Doria, que esmagou seus concorrentes à prefeitura de São Paulo já no primeiro turno. Numa cidade cansada do discurso político tradicional, apresentava-se como gestor e empresário. Valendo-se da irritação com o PT, falava em varrer o partido do município. Em pouco tempo, tornou-se o personagem central. Mas sua conquista autoriza identificar uma onda novidadeira que varreu o Brasil de Norte a Sul, como alguns sugeriram? Definitivamente não. Apenas duas outras capitais optaram por um candidato zero-quilômetro: Belo Horizonte, que escolheu o cartola Alexandre Kalil, ex-presidente do Atlético Mineiro; e Porto Velho, que apostou em Dr. Hildon, um ex-­promotor de Justiça que virou empresário do ensino. Três (Rio Branco, Palmas e Recife) reelegeram o prefeito que estreara na eleição anterior.

Nas demais 21 capitais os eleitores viram mais virtudes em candidatos com estrada. Na média, com mais de vinte anos de disputas eleitorais. Se há Doria, Dr. Hildon e Kalil, há também Marcelo Crivella, do Rio de Janeiro, ex-senador, ex-ministro, que disputou sua primeira eleição há quinze anos. Há Teresa Surita, de Boa Vista, que começou a vida pública como deputada federal há 26 anos. Há Rafael Greca, de Curitiba, que disputou a primeira eleição em 1992. Há Arthur Virgílio, de Manaus, que largou como deputado federal em 1983. E há ele, Iris Resende, prefeito de Goiânia, que estreou nas urnas em 1958. É um equívoco afirmar que o eleitor de 2016 se comportou de maneira especialmente diferente dos anos anteriores. Do ponto de vista da produção de novidades, a eleição municipal de 1996 foi mais surpreendente. Naquela corrida, o Brasil elegeu sete prefeitos estreantes, inclusive em Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo. Sete estreantes há vinte anos, três agora.

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Da mesma forma que Lula foi o velho das primeiras eleições das quais participou e o novo das últimas, nada garante que o novo da eleição de 2016 continue sendo o novo da próxima eleição. O comportamento mais agressivo explorado por Doria, Ciro e Bolsonaro, os três candidatos mais falantes até aqui, faz sucesso no momento e repercute nas redes sociais. Mas e se o vento mudar, a economia melhorar e o eleitor começar a achar que o presidente deve ser alguém ponderado e sereno, alguém que mude o que está aí, mas preserve o jeitão morno de Michel Temer, como Alckmin ou o ministro Henrique Meirelles, donos de um estilo em baixa nos dias de hoje? É preciso ser novo no conteúdo, mas prestar atenção ao jeito de expor as ideias. O tom certo para a campanha os pretendentes olharão se passarem a arrebentação. O desafio do momento é entrar na disputa. Ciro e Bolsonaro têm vaga aparentemente garantida na corrida. Doria, não. No seu caminho está o padrinho a quem uma hora jura lealdade, em outra viaja pelo Brasil, participa de eventos, grita “acelera, Brasil” e coloca tudo na internet — divulga as homenagens e até uma ovada que levou meses atrás em Salvador.

Alguns partidos falam em realizar prévias, outros definirão as candidaturas apenas nas convenções. As pesquisas pesam e muito, mas é na esfera dos acordos políticos que os caciques resolverão quem irá em frente e quem ficará pelo caminho. Não são raros os casos de partidos que incensam um candidato só para furar seu balão mais adiante e negociar o apoio da legenda numa coligação, em troca de ministérios em caso de vitória. Trata­-se de um sistema montado para perpetuar as lideranças tradicionais. Em boa medida, isso explica as taxas modestas de renovação. Explica também por que, apesar de a Constituição impor 35 anos como idade mínima para um candidato a presidente, os vencedores são em geral bem mais velhos. Contabilizadas as 22 campanhas presidenciais diretas que tivemos, o perfil médio do presidente é de 55,5 anos de idade e 24 anos de experiência eleitoral anterior. Em quinze campanhas, o vencedor era mais velho do que a média dos candidatos contra os quais disputou.

Quando o eleitor for às urnas no ano que vem, ele referendará um nome de sua predileção entre as predileções dos políticos. É a oferta que define o cardápio. Não a procura. Isso não vai mudar. O que pode mudar é sua exigência sobre os candidatos, cobrando e reagindo à empulhação. Se isso acontecer, os presidenciáveis terão de se comportar de um jeito novo, expondo seus pontos de vista e dando explicações. Desafiados, quem sabe ajam de um jeito novo e, dessa forma, elevem o nível do debate.

*Eduardo Oinegue foi redator-chefe de VEJA e diretor de redação de EXAME e é consultor de empresas, sócio da Análise Editorial e colunista do Grupo Bandeirantes

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