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Editorial do Estadão: O diálogo é necessário

A diminuição da confiança e do diálogo entre pessoas e grupos com ideias políticas discordantes é um fenômeno que no Brasil supera a média internacional

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 19h47 - Publicado em 22 abr 2019, 07h15
A polarização política no País chegou a tal ponto que se transformou em intolerância, mostra pesquisa do Instituto Ipsos. A diminuição da confiança e do diálogo entre pessoas e grupos com ideias políticas discordantes é um fenômeno observado em muitos países, mas o que se constatou no Brasil supera a média internacional. O tema é grave, afetando não apenas a capacidade de o País encontrar caminhos consensuais para os problemas nacionais, mas a própria coesão da sociedade, que se vê ameaçada por um olhar que exclui e condena quem pensa de forma diferente.

Realizada com 19,7 mil pessoas entre 16 e 64 anos, a pesquisa avaliou o radicalismo envolvendo as discussões político-partidárias em 27 países. Quase um terço dos brasileiros (32%) afirmou que não vale a pena tentar conversar com pessoas que têm visões políticas diferentes das suas, revela a pesquisa. A média entre os 27 países pesquisados foi de 24%, o que já é preocupante. Um dos pressupostos para o bom funcionamento da democracia é a livre circulação de opiniões e ideias entre as pessoas, num contexto de forte interação social. O diálogo aberto entre cidadãos – capazes de argumentar, ouvir e propor – é um dos meios mais eficazes para a seleção e a proliferação das melhores ideias numa sociedade.

De uma forma que seria inimaginável algumas décadas atrás, a época atual dispõe de meios tecnológicos que facilitaram enormemente a comunicação. Nunca foi tão fácil e tão barato interagir com outras pessoas. Parece, no entanto, faltar disposição para esse diálogo com quem não comunga com as mesmas ideias. Para 40% dos brasileiros, é mais confortável estar junto de pessoas com pensamentos similares.

A causa dessa baixa disposição para o diálogo pode ter origem na desconfiança em relação ao outro. Por exemplo, para 31% dos brasileiros, aqueles que têm uma visão política diferente da sua não estão interessados numa discussão verdadeiramente objetiva sobre o futuro do Brasil. A divergência de opiniões não é vista como algo positivo, capaz de proporcionar um debate mais acurado, com a integração de múltiplas perspectivas. Para quase um terço dos brasileiros, essa diferença de opiniões é encarada como um problema do outro, que não teria os mesmos nobres sentimentos em relação ao País. Há uma depreciação moral do outro por pensar de forma diferente – atitude que avilta a democracia, a sociedade e o bom senso.

Confirmando o sentimento de desconfiança, 39% dos brasileiros concordaram com a frase “quem tem visão política diferente de mim foi enganado”. Em vez de encarar a posição divergente como uma consequência natural da própria liberdade política, que possibilita variadas perspectivas e soluções, o diferente é visto como fruto do erro. Essa estranha lógica distorce a própria ideia de política, como se houvesse um único caminho para resolver os problemas nacionais.

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Tal concepção de política é perigosa. Ela contém alta dose de autoritarismo. A política deixa de ser o lugar do consenso dialogado para se transformar na imposição da “solução certa”. Também deixam de importar os procedimentos decisórios, que são a salvaguarda do exercício do poder dentro dos trâmites institucionais num Estado Democrático de Direito. Se existe apenas uma única “solução certa” para os problemas nacionais – as outras opções seriam fruto do engano –, o importante seria assegurar a implantação desse “certo”, seja qual for o método a que se recorra para isso. As soluções da política, que são sempre negociadas – temperadas pelo contraditório das instituições democráticas –, passam a ser mal vistas, já que estariam contaminadas em alguma medida pelo erro. Já se vê o disparate desse posicionamento.

É urgente amenizar a polarização. Não há dúvida de que a política tem um caráter de antagonismo, mas esse natural enfrentamento deve ter sempre como pressuposto a legitimidade do lado contrário, enxergando sempre as limitações de toda e qualquer proposta política. O pluralismo não é um mal, mas um grande bem, que deve ser protegido e valorizado.

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