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Por Coluna
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Deonísio da Silva: Em tempo de murici, cada um cuida de si

O arbusto sempre florido e depois carregado de frutos, mesmo na pior seca, tendo inspirado o povo a criar o dito que expressa a dureza da vida sertaneja

Por Augusto Nunes Atualizado em 12 mar 2017, 11h21 - Publicado em 12 mar 2017, 11h21
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Esta frase é muito conhecida dos brasileiros de boas leituras e especialmente dos nordestinos. A expressão foi registrada por ninguém menos do que Euclides de Cunha no seu livro famoso Os Sertões, referência solar de nossas letras.

Quem ainda não o leu, que não se considere completamente alfabetizado, adverte o jornalista Augusto Nunes, filho de professora e conhecido cultor de bons autores e respectivos livros, em palestras a universitários de jornalismo e áreas de domínio conexo, ao indicar bons caminhos para melhorar a escrita.

O engenheiro, jornalista e escritor Euclides da Cunha registrou o provérbio, já então conhecido dos nordestinos, quando pronunciado pelo coronel Pedro Nunes Tamarindo, que o proferiu para renunciar à sucessão do coronel Antônio Moreira César, chefe da expedição de Canudos, morto no celebérrimo confronto entre o Exército Brasileiro e os pobres liderados por Antônio Conselheiro, entre 1896 e 1897,  no interior da Bahia.

Tão logo os jagunços emboscaram e mataram o comandante Moreira César, o militar que deveria assumir o comando da tropa declinou do cargo honroso e fugiu apavorado, recorrendo à metáfora da frutinha do muricizeiro. Em tempo de murici, cada um cuida de si, repetiu Pedro Nunes Tamarindo, cujo sobrenome também é nome de fruta. Tamarindo veio do Árabe tamr hindi , tâmara da Índia.

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O arbusto frutífero permanece sempre bonito, florido e depois carregado de frutos, mesmo na pior seca, tendo inspirado o povo a criar o dito que expressa a dureza da vida sertaneja. Quando apenas a frutinha murici sobrevive, é tempo de cada um cuidar de si,  uma vez que, se só sobrou o murici, a coisa está feia. Quem se inspira no murici, não o faz por egoísmo, mas por necessidade, como o sapo, que pula por precisão, não por boniteza, como lembrou outro grande escritor, o mineiro João Guimarães Rosa, que, aliás, mostrou também que poucas pessoas inteligentes têm a sabedoria de um burro como o burrinho pedrês.

Moreira César se considerava muito esperto. Em Florianópolis, mandou executar centenas de pessoas, depois de ter prometido anistia aos revoltosos, se depusessem as armas. Eles se entregaram e ele mandou enforcar a todos na Fortaleza de Anhatomirim, em Florianópolis (SC), por ocasião da Revolução Federalista (1893-1895).

Entre os rebeldes estava o médico baiano Alfredo Paulo de Freitas, que servia na então Ilha do Desterro com a patente de major, quando Moreira César recebeu a esposa do militar. A mãe angustiada se fazia acompanhar de um filho do casal.

Moreira César era cínico, frio e calculista, tão como seu chefe máximo, o marechal Floriano Peixoto, que acabou por dar nome à Ilha, cujo nome bonito e triste, “Ilha do Desterro”, foi substituído por Florianópolis, cidade de Floriano (Peixoto), segundo os compostos gregos que vieram parar no Português. Na ocasião, ele tomou a criança no colo e disse: “Papai está bem longe, mas voltará logo”. Como, se ele já tinha mandado matar o pai da criança?

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O indigitado pai só voltaria logo se o Juízo Final se desse brevemente, mas este só aconteceu para Moreira César, que sofreu justiça pelas linhas tortas do destino, no conflito seguinte, em Canudos (BA). E assim os jagunços de Antônio Conselheiro, movidos por um líder messiânico e carismático, acabaram por vingar os catarinenses.

Em Santa Catarina não havia murici para cada um cuidar de si.

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