Com Cármen Lúcia na presidência do Supremo, os brasileiros decentes foram dormir mais confiantes
É impossível imaginar a sucessora de Lewandowski tramando com Renan Calheiros manobras que afrontam a Constituição
Atualizado às 17h
No julgamento do Mensalão, Cármen Lúcia sepultou com uma frase o álibi recitado pelos advogados da bandidagem. “Caixa dois é crime”, indignou-se a mulher que acaba de assumir a presidência do Supremo Tribunal Federal. Na sessão que liberou a publicação de biografias não autorizadas, a ministra desmoralizou com quatro palavras os defensores da censura: “Cala boca já morreu”. Nesta segunda-feira, o discurso de posse começou com a saudação ao ente do qual emana todo o poder: “Sua Excelência, o Povo”.
Lewandowski jamais dirá algo parecido com o que disse Cármen Lúcia. É impossível imaginá-lo despejando sobre os corruptos as duras advertências formuladas por sua sucessora no primeiro pronunciamento como chefe do Poder Judiciário. E a presidente do Supremo nunca fez nem fará algo semelhante ao que vive fazendo o antecessor. É impossível imaginá-la, por exemplo, tramando com Renan Calheiros a manobra que, na sessão que aprovou o impeachment da presidente da República, livrou Dilma Rousseff do castigo imposto pela Constituição.
Juízes também sâo mortais e cometem erros. Mas nenhum dos possíveis equívocos de Cármen Lúcia pode ser debitado na conta da má-fé. E achar que a ministra errou ao incluir Lula na lista de convidados para a cerimônia de segunda-feira é um engano que nasce da desinformação. Ela apenas respeitou uma das recomendações do manual de usos e costumes do STF: quem assume a presidência deve enviar um convite ao chefe de governo que indicou seu nome para preencher a vaga no tribunal.
Saiu Ricardo Lewandowski, entrou Cármen Lúcia. Não é pouca coisa. Agora dirigido por uma mulher decididamente honrada, o STF ficou mais confiável. E os brasileiros decentes foram dormir mais confiantes.
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