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Celso Arnaldo e a conversa fiada do pavio curto: ‘Toda essa macheza de Dilma não impede a roubalheira no primeiro escalão’

CELSO ARNALDO ARAÚJO Ficamos sabendo pela própria Folha, semana passada, que a presidente Dilma Rousseff ─ mais implacável, competente e inovadora que Steve Jobs, embora não domine os rudimentos de sua própria língua – tem um prazer todo especial em “espancar” projetos que não param de pé, fulminados pela saraivada de perguntas certeiras da douta […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 10h11 - Publicado em 13 nov 2011, 20h44

CELSO ARNALDO ARAÚJO

Ficamos sabendo pela própria Folha, semana passada, que a presidente Dilma Rousseff ─ mais implacável, competente e inovadora que Steve Jobs, embora não domine os rudimentos de sua própria língua – tem um prazer todo especial em “espancar” projetos que não param de pé, fulminados pela saraivada de perguntas certeiras da douta gerente que sabe tudo de tudo.

Devem ser projetos com a configuração anatômica do boneco João Bobo, porque, aprovados por ela depois dessa sessão UFC/MMA, estão todos aí, se arrastando, silenciosos como fantasmas sem correntes nos pés, a exemplo das fabulosas 6 mil creches prometidas para seu mandato, nas quais as crianças entrariam subnutridas e sem rumo, saindo dois anos depois rebatizadas como Eike Batista Jr. ou Lily Safra da Silva.

Agora, na Folha deste domingo, tropeça-se de novo no velho projeto de conversa fiada que não apenas não para de pé como, invertendo os papéis, espanca furiosamente o que hoje se sabe, de verdade, sobre a presidente Dilma. As páginas A16 e A17 dessa edição merecem um lugar na história das grandes mistificações, em galeria de honra onde estão, por exemplo, Os Protocolos dos Sábios de Sião. Mas Os Protocolos da Sábia Dilma não trazem revelação alguma.

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Ao contrário: apenas conspiram, de maneira mais agressiva e orquestrada, a favor de uma velha mentira – a existência de uma presidente que, por trás da casca grossa e da deselegância no trato pessoal, abriga a mais competente administradora da história do Brasil, a presidente que leu mais do que o professor Fernando Henrique, conhece mais de canteiro de obra que o peão Lula, é impaciente com o malprovado, implacável com o malfeito e intransigente com o maldito.

As grosserias atribuídas a ela, na matéria da Folha deste domingo, por conta de um “pavio curto” que seria apenas a ponta mais visível de uma colossal competência, soam apenas como falas da impagável imitação proibida para menores feita para o site Kibeloco pelo humorista mineiro Gustavo Mendes – que aliás, segundo o jornal, a imitada acha muito engraçado, talvez pela fidelidade. Levadas a sério, não passam de bravatas de uma presidente incapaz de encadear um raciocínio.

LINGUAGEM BERLUSCONIANA
Vejamos. Relata a Folha que, comandando uma reunião interministerial para discutir medidas de apoio a dependentes químicos, enfureceu-se com um funcionário da Saúde que sugeriu uma sigla para identificar a nova política do governo:

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“O quê? Você está me sugerindo mais uma sigla?”, explodiu a presidenta que conhece cada escaninho do governo. “Você sabe quantas siglas tem no Ministério da Saúde?” – e, ainda segundo a Folha, se pôs a enumerar várias delas. Citou uma, em particular – uma tal CAP-AD, Centro de Atenção Psicossocial Antidrogas. E, neste momento, deu uma mostra do tipo de linguagem berlusconiana que costuma empregar no Palácio e que não repetiria nem diante do apresentador Ratinho:

─ Você sabia que os CAPs-AD fecham às 18 horas? Você chega para o drogado e fala: “Drogado, são 18 horas. Tchau, drogado, volta amanhã”.

Espere: os tais CAPs-AD, e as demais siglas que não funcionam, pertencem ao governo Dilma ou Chávez? Não é ela que manda e desmanda? Se ela já sabia desse horário de repartição pública ao dar a bronca, por que não mandou estender o atendimento? Depois dessa rotunda falta de sensibilidade presidencial ao se referir ao dependente, os CAPs passaram a atender 24 horas? Hoje, quando um dependente liga pedindo ajuda, a atendente pergunta “boa noite, drogado, em que posso ajudá-lo?”. Ou o tal funcionário que propôs nova sigla saiu da reunião chorando e tudo ficou por isso mesmo? Quer apostar?

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O raciocínio pode ser estendido a todas as situações “pavio curto” relatadas na matéria. A grosseria funcionou? As coisas andaram? Nenhuma palavra. O day after da bronca não interessa à Folha nem aos que alimentam ou se deixam levar pela mistificação. E a repórter do jornal caprichou no perfil:

*”Tem gente que nem decide nem submete a ela, com medo da bronca”

*”Com Dilma a coisa é pessoal, olho no olho, em público e quase sempre aos gritos”

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*”O cara sabe na hora que vai para o pelourinho”

*”O bordão meu querido é outro sinal de encrenca”

*”Tem ministro que se abala emocionalmente”

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TROVEJANDO NA CHUVA
Toda essa macheza, como se sabe, não impediu, sequer dificultou, a roubalheira generalizada no primeiro escalão, debaixo de seu nariz empinado. Não fez andar o Minha Casa Minha Vida – nem a indústria fabricante de peças Lego pode materializar a promessa de três milhões de casas até o fim do governo. E, de novo, onde estão as creches? Que funcionário está levando porrada de Dilma até a primeira criança ser atendida? O teco-teco que conduz o ministro Lupi e sua turma de ongueiros de estimação vai um dia poder pousar no terceiro aeroporto de São Paulo e dali direto para o DP de Guarulhos?

Mas é preciso reconhecer algo de bom na bomba por trás desse pavio curto – Dilma é democrática na distribuição de patadas. A Folha traz dois casos envolvendo um general de carreira, Marco Antônio Amaro dos Santos, chefe da segurança presidencial, que está até agora contando as estrelas que caíram de seus ombros, depois dessas invertidas.

O general, que acompanha Dilma até na porta de toilettes, não conseguiu entrar no elevador que levaria a presidente ao térreo do Palácio do Planalto. Pegou o próximo, mas, ao chegar, viu que Dilma, irritadíssima com o “atraso” do guarda-costas, já estava dentro do carro, com o motor ligado. Ainda tentou correr ─ como os agentes do Serviço Secreto americano que acompanham a pé a limusine presidencial em carreata ─ mas perdeu o bonde. Mais tarde saberia pelo motorista o teor do comando irrevogável de Dilma no momento em que ele corria, esbaforido, atrás de sua protegida:

─ Pode tocar!!!

Freud talvez explique essa reação, invocando os tempos em que Estela era guardada por militares em outras circunstâncias. E o mesmo general Amaro, que a esta altura tem toda a nossa solidariedade civil, seria vítima do lado mais light do gênio feroz da presidente de ferro. Em Nova York, para a abertura da assembleia da ONU, Dilma tinha acabado de fazer o cabelo com seu personal coiffeur, Celso Kamura, que se deslocara do Brasil só para pentear madame, e notou que, no trajeto entre o hotel e o carro, seu hairspray deixaria de estar imaculado: garoava. Amaro daria sua vida para proteger, com o próprio corpo, a presidente de um louco no caminho. Mas não tinha um guarda-chuva para abrigá-la dos pingos, naqueles poucos metros. Dilma enfureceu-se. Desta vez, ela não gritou uma ordem unida estilo BOPE contra o fiel segurança. Apenas alvejou-o com fino sarcasmo, apontando seu capacete de fios:

─ Pô, general…

As reticências da transcrição da Folha sugerem que ela pensou coisa muito pior sobre o general, mas outra questão aqui se impõe: em vez de levar Celso Kamura para Nova York, não seria muito mais barato levar um guarda-chuva?

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