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Celso Arnaldo captura a presidente durante a assombrosa entrevista em dilmês castiço: ‘O povo brasileiro não tinha nem casinha’

Os amigos da coluna estavam com saudade do implacável caçador de cretinices. Que voltou em grande forma, comprova o texto sobre outra inacreditável entrevista concedida por Dilma Rousseff. Não percam. (AN) Por Celso Arnaldo Araújo Quase tudo o que se lê atribuído à Dilma, quando transcrito literalmente, parece trote, pegadinha, erro de transcrição – porque […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 11h09 - Publicado em 8 ago 2011, 23h55

Os amigos da coluna estavam com saudade do implacável caçador de cretinices. Que voltou em grande forma, comprova o texto sobre outra inacreditável entrevista concedida por Dilma Rousseff. Não percam. (AN)

Por Celso Arnaldo Araújo

Quase tudo o que se lê atribuído à Dilma, quando transcrito literalmente, parece trote, pegadinha, erro de transcrição – porque decididamente não é possível que uma pessoa que tenha curso superior, só não é doutora por um triz e chegou à presidência da República do país que é a “oitava economia do mundo” se expresse desse jeito.

Além de falar uma espécie de patois brasileiro, pouco assemelhado à língua culta do país que preside, faz associações de palavras que não seriam usadas por um aluno de escola fundamental numa redação. As improváveis “casas de papel”, objeto de sanatório nesta coluna, se enquadram na categoria.

Mas Dilma disse exatamente isso – foi numa entrevista concedida às rádios Grande Rio AM (Petrolina/PE) e Juazeiro AM (Juazeiro/BA) semana passada. E a transcrição está no próprio Blog oficial do Planalto, que agora reproduz ipsis literis, sem tirar nem pôr, ao lado da gravação eletrônica, discursos e entrevistas da presidente Dilma. Justiça seja feita, é uma extraordinária contribuição do poder público aos raros abnegados da iniciativa privada que se dedicam à pesquisa e ao estudo do dilmês, antes obrigados a despender tempo, energia e massa cinzenta para fazer uma transposição mais penosa que a do Rio São Francisco.

A resposta da “casa de papel” ao radialista baiano foi exatamente esta:

– Mas o povo brasileiro não tinha nem casinha. O povo brasileiro tinha o quê? Morava em casas de papel, em palafitas. Esta casinha, como você está dizendo – imagino que a sua casa seja grande.

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Repare: ela não fala em casas de papelão, que eventualmente devem existir até a 20 quilômetros do Palácio do Planalto, mas de papel mesmo — sulfite, almaço, embrulho, jornal. E palafitas eram da cota de FHC? Depois de quase nove anos de governo Lula/Dilma, a “stilt house” ainda é um “brazilian housing style” no rigor da moda em quase todos os estados do norte ou nordeste. E notou uma ponta de sarcasmo na resposta? Lógico, madame ficou irritada com a pergunta do jornalista:

– Por casinha?

O jornalista só queria confirmar a estranha sequência de números apresentada por Dilma na resposta anterior, ao falar do custo dos imóveis e garantir que, no Brasil Maravilha, há um canteiro de obras com três milhões de construções para quem não tem casa:

– Isso hoje ocorre. E mais: ocorre para a população que não tem dinheiro. Qual é essa população que não tem dinheiro? Não é que ela não tenha nenhum, é que a conta não fecha. Por que a conta não fecha? Hoje uma casa, em média, que nós pagamos pela Caixa Econômica Federal – e aqui está o presidente da Caixa – ela fica em torno de 50, 51, 52 mil reais.

Ou seja: Dilma tenta explicar que a população que não tem dinheiro para comprar uma casa é justamente aquela que não tem dinheiro.

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ÁGUA DE RIO É DOCE
Além da “casinha”, Dilmona ficou engasgada com outra pergunta que não quer calar: o 1 milhão de casas do PAC 1 já foi entregue antes de se anunciarem os 2 milhões do PAC 2?

–Não, uai. Elas foram contratadas. Você acha que a gente contrata e entrega? Não. Você contrata, constrói e entrega.

Taí: explicado, enfim, porque o 1 milhão de casas do PAC 1 mais os 2 milhões do PAC2 até hoje só se materializaram em pouco mais de 200 mil moradias, ou um pouco menos, contando as já inabitáveis e as que não estão mais de pé — há casos no nordeste. Entre contratar e entregar – o Brasil ainda não sabia disso e injustamente a questionava – há uma etapa intermediária relativamente importante: construir.

As casas de papel da frase non sense de Dilma não passam de figura de linguagem, mas parecem verdade. As casas do PAC da Dilma parecem de verdade, mas não passam de figura de linguagem. São as casas no papel.

E muitas das que saíram do papel têm a marca das construções verbais de Dilma – desmancham ao primeiro retoque, daí a necessidade de se mantê-las, as casas e as falas, como foram concebidas. Foi fartamente noticiado: os primeiros moradores do Residencial São Francisco, do Minha Casa Minha Vida em Juazeiro, foram orientados a não fazer reformas no imóvel, sob risco de “danos à solidez”. Já houve desmoronamentos em outros conjuntos. Os imóveis, construídos com a tecnologia “alvenaria estrutural”, sem pilotis, já foram apelidados no Nordeste de “prédios-caixões”, talvez porque se desfaçam como ataúdes enterrados — depois de naturalmente fazerem a fortuna da companheirada muito viva.

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A transcrição da entrevista no Blog do Planalto continua palavra a palavra, sem chapiscos ou rejuntes, e Dilma segue encafifada com a ofensa da “casinha”:

–Eu acho que ela não pode ser desmerecida, porque eu tenho certeza de que para qualquer pessoa que obtenha a sua casa própria, ter um teto onde criar seus filhos é algo muito importante.

Mas o repórter – longe de ser chapa branca – insiste: dos 3 milhões de casonas dos PACs 1 e 2, quantas já foram entregues?

– Aqui foram 1.500… Esse é um processo que não é automático, porque você leva, em média… você leva em média… antes você levava, em média, 33 meses. Hoje nós reduzimos isso.

Que tal mudar de assunto? Além de casa, a população nordestina precisa de água – não no papel, mas nos canos.

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– Bom, se for água para a população rural, ela terá acesso pelo nosso projeto de 750 mil cisternas, privilegiando aqui a região do semiárido, ela vai ter acesso a esse programa, que nós queremos fazer em dois anos – 350 mil este ano e 350 mil…. em torno de 350 mil este ano e o restante no ano que vem. Agora, eu acho…

Mais um número a ser anotado: 750 mil cisternas, líquidas e certas, em dois anos. Eu acho… No mínimo, vai ter água doce suficiente para enxaguar as barbas de Antonio Conselheiro, de molho desde Canudos:

– Aquela música que a gente escutava ou aquela… uma espécie de tema muito recorrente, que “o sertão vai virar mar”. Eu não digo que vai virar mar porque a água não é salgada, mas que o sertão vai ter acesso à água que não tinha, vai ter.

E a transposição do velho Chico, presidenta, sai ou não sai? Sai aos pedaços:

– Aí você conclui mais outro, porque a conclusão, não vão ser todas num momento só. Uns vão concluir primeiro, outros vão concluir num segundo momento e outros num terceiro momento.

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Não deu para entender?

– O que nós vamos garantir sempre é que a cada fase que nós façamos, nós concluamos e coloquemos água à disposição. O que é muito importante…

Resolvido para sempre o problema da água doméstica no nordeste, só uma palavrinha sobre a nova política de irrigação:

– Essa política, eu pretendo que nós tenhamos condições de lançá-la no final de agosto ou no início de setembro, até metade de setembro nós lançaremos – pode ser um pouco antes, mas não vai ser um pouco depois.

Desconfio que, longe do papel, será muito depois.

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