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As eleições e Tropa de Elite 2

Deonísio da Silva A grande maioria das pessoas acredita mais facilmente numa grande mentira do que numa pequena”, escreveu Adolf Hitler, acrescentando: “Quanto maior a mentira, maior a chance de todos acreditarem nela”. Ele sabia do que falava. Seu ministro da Cultura e da Propaganda, Joseph Goebbels, deveria ser o patrono dos atuais marqueteiros, que […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 13h52 - Publicado em 21 out 2010, 12h12

Deonísio da Silva

A grande maioria das pessoas acredita mais facilmente numa grande mentira do que numa pequena”, escreveu Adolf Hitler, acrescentando: “Quanto maior a mentira, maior a chance de todos acreditarem nela”. Ele sabia do que falava. Seu ministro da Cultura e da Propaganda, Joseph Goebbels, deveria ser o patrono dos atuais marqueteiros, que insistem que seus candidatos devem mentir, fingir, dizer o que não pensam, fazer aquilo em que não acreditam, num vale-tudo para ganhar as eleições.

Com Hitler e Goebbels, deu certo por alguns anos, mas o fim trágico dos dois poderia servir de aviso aos navegantes das águas turvas. Afinal ninguém pode enganar todos durante todo o tempo. As tropas aliadas, principalmente as russas, já estavam dentro da Alemanha, arrasando cidades inteiras, e os dois faziam candentes discursos dentro de um bunker assegurando que a vitória estava próxima, para dias depois se suicidarem com tiros na cabeça, depois de matarem esposas, amantes, filhos e até o cachorro. Um final infeliz para alguns pode ser o final feliz de muitos. Ou vice-versa. Foi o que aconteceu na Segunda Guerra Mundial.

O povo faz boas e más escolhas, como sabemos. Há exemplos emblemáticos. Manipulado por fariseus, condenou Jesus à morte e liberou Barrabás, em eleição em que uma semana antes, no Domingo de Ramos, Jesus liderava as pesquisas e o nome de Barrabás nem aparecia na lista de candidatos.

Se é tropa, não é elite; se é elite, não é tropa

Corte para o Brasil republicano. Se Dom Pedro II não tivesse sido exilado, ganharia as primeiras eleições republicanas, caso fosse candidato. Caso não fosse, era só candidatar a filha, Isabel. Não candidataria a mulher, como agora faz Joaquim Roriz no Distrito Federal, porque já seria viúvo. A imperatriz Teresa Cristina morreu em dezembro de 1889, pouco mais de um mês depois da proclamação da República. Mas a Casa de Bragança ganharia fácil aquelas eleições – qualquer eleição. Afinal, tinha abolido a escravidão no Brasil e não existe povo mais agradecido do que o brasileiro. Vide as bolsas-família de FHC e Lula. Deram migalhas, mas choveram votos de montão aos dois.

Serra e Dilma disputam esse patrimônio. “Para atrás é que se anda”, lembrou Janio de Freitas na Folha de S.Paulo de domingo (17/10), ao identificar com precisão a cumplicidade dos candidatos num outro tema solar dessas eleições: “Mas a responsabilidade pelo retrocesso não é só do radicalismo político em nome da fé cristã. É também dos candidatos.” Boa, Janio de Freitas! Você gostaria de ler meu romance Avante, soldados: para trás, cuja 10ª edição a LeYa acaba de lançar. Afinal, segundo meu ex-professor Eduardo Portella, esta é a melhor metáfora do Brasil.

Pode-se falar em democracia sempre, a qualquer pretexto? Segundo Millôr Fernandes, não: “Democracia tem hora. Vocês já imaginaram o terror que seria uma viagem aérea em que o piloto fosse eleito pelo nosso Congresso?”

E aí entramos num terreno pantanoso. Intelectuais brasileiros adoram falar mal das coisas públicas, dos políticos, da República. E nisso semeiam terras férteis. Há um exemplo candente na praça. É o filme Tropa de Elite 2. Aliás, o título do filme é uma contradição em si mesmo. Não pode existir uma tropa de elite, pode existir uma elite da tropa, que, aliás, é o título do livro em que o filme se baseou. Se é tropa, não é elite; se é elite, não é tropa. Mas pegou, como pegam tantas coisas ilógicas, no Brasil e em outros lugares, e agora está consolidado o segundo título.

Ali Babá não foi indiciado

Pois o distinto público, que aplaudiu a tortura no primeiro filme da série, agora aplaude o pau nos políticos no segundo. O contexto ajuda. Denúncias políticas pululam todos os dias, emergindo soturnas em telejornais, rádios, primeiras páginas de jornais, capas de revista, portais da internet, blogues etc. Quem não é ladrão, é palhaço, como Tiririca, eleito com quase 1,5 milhão de votos. Enfim, os políticos são a bola da vez.

Mas a quem serve um discurso destes? Os intelectuais sabem que é melhor uma sociedade aberta, ainda que repleta de ladrões ou palhaços, do que uma sociedade sem eleições. Ou sem imprensa. O final de Tropa de Elite 2 deixa alguma esperança? Parece que não. Todas as portas estão fechadas, mas nas últimas cenas não inclui o prédio do Supremo Tribunal Federal quando, em grande plano, mostra a sede da mentira, da corrupção, do engano: a Praça dos Três Poderes, em Brasília. Oba! Quer dizer que, pelo menos, nos resta o Judiciário, onde repousa o processo contra Ali Babá e os quarenta mensaleiros, ainda que Ali Babá ainda não tenha sido indiciado.

No mato sem cachorro

Jesus inaugurou o Céu com um ladrão. Os três estavam agonizando na cruz. Gestas, o mau ladrão, disse: “Se és Deus, salva-te a ti mesmo e a nós”. Dimas o contestou: “Nós merecemos o castigo, afinal roubamos. Mas este é justo e não fez mal nenhum”. E pediu: “Senhor, lembra-te de mim quando chegares a teu reino”. Jesus respondeu: “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso”.

“Portanto, entre os crucificados, em percentuais redondos, 66% (Jesus e Dimas) eram justos, apenas 33% eram ladrões (Gestas). Boa amostragem. Pelo menos, melhor do que a dos atuais institutos de pesquisa, que entrevistam cerca de três mil pessoas para saber a opinião de 135.800.000 eleitores. É como avaliar o que os espectadores acharam de Tropa de Elite 2 perguntando a meia dúzia deles.

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O sociólogo e professor emérito da USP Francisco de Oliveira acha que outros temas são muito mais falsos, que Lula é mais privatista do que FHC e que sempre adorou desmoralizar os adversários e rebaixar os debates. O jornalista Uirá Machado perguntou-lhe: “Dá a impressão que tanto faz votar em uma ou no outro…” E ele respondeu: “É verdade. É escolher entre o ruim e o pior”. Um dos fundadores do PT, que rompeu com o partido ainda em 2003, dois anos antes do mensalão, o professor certamente será pouco ouvido, mas, segundo sua avaliação, os eleitores estão no mato sem cachorro neste segundo turno.

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