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A três anos da Copa do Mundo, já começou o espetáculo da gastança irresponsável

Bruno Abbud e Felipe Moraes “Faço questão absoluta de garantir que a Copa de 2014 será uma Copa em que o poder público nada gastará em atividades desportivas”, prometeu em outubro de 2007 o supercartola Ricardo Teixeira, presidente da CBF e monarca do País do Futebol. A promessa já foi sepultada por obras em curso […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 12h33 - Publicado em 17 mar 2011, 22h14

Bruno Abbud e Felipe Moraes

“Faço questão absoluta de garantir que a Copa de 2014 será uma Copa em que o poder público nada gastará em atividades desportivas”, prometeu em outubro de 2007 o supercartola Ricardo Teixeira, presidente da CBF e monarca do País do Futebol. A promessa já foi sepultada por obras em curso nos estádios de várias capitais. “Tudo será bancado pela iniciativa privada”, recitou o presidente Lula até o começo de 2010, quando o país ficou sabendo que, como de praxe, os pagadores de impostos teriam de bancar outro evento bilionário.

No dia 13 de janeiro, ao lado de Lula, o ministro do Esporte, Orlando Silva, informou que o governo federal  “investiria” R$ 23,3 bilhões na Copa do Brasil. Pelo andar da carruagem, a conta será muito mais salgada. A reforma do Mineirão, por exemplo, originalmente orçada em R$ 426,1 milhões, subiu já na licitação vencida pelo consórcio formado por três empreiteiras ─ Egesa, Hap e Construcap. A trinca vai embolsar R$ 743,4 milhões pela obra, mais de R$ 300 milhões acima do previsto. Por enquanto.

O estádio da Fonte Nova, em Salvador, deveria consumir R$ 591,7 milhões se fosse respeitada a primeira “matriz de responsabilidades” – documento que lista previsões de gastos e cronogramas de obras. Graças ao milagre da multiplicação das cifras, muito frequente no Brasil, a OAS e a Odebrecht vão receber R$ 1,6 bilhão. É o triplo do valor combinado. O salto sobre o orçamento é uma modalidade não-olímpica praticada também fora dos estádios. O preço da linha 1 do Veículo Leve sobre Trilhos em Brasília, por exemplo, quadruplicou: de R$ 364 milhões, saltou para R$ 1,5 bilhão.

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A ARITMÉTICA DA CORRUPÇÃO
Segundo o ministro Valmir Campelo, do TCU, tais discrepâncias ocorrem porque “as previsões são feitas antes mesmo da elaboração dos projetos básicos das obras”.  Embora admita que é difícil antecipar com exatidão o custo final de uma obra, Adriano Biava, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP e especialista em contas públicas, lembra que “o que não pode acontecer é uma interferência premeditada para alterar custos, como superfaturamento, ou conluio entre as construtoras”. Essa aritmética da corrupção explica por que a gastança com os Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007, começou em R$ 414 milhões e acabou em suspeitíssimos R$ 4 bilhões. Dez vezes mais.

O papelório oficial sobre a Copa não identifica com clareza quem deve vigiar a trajetória dos bilhões de reais repassados pela União aos Estados e às prefeituras das 12 cidades que hospedarão jogos da Copa. Para evitar a reprise do escandaloso desperdício ocorrido no Pan-2007, Lula assinou um decreto em 14 de janeiro de 2010 criando o Comitê Gestor da Copa ─ o CGCOPA 2014. Coordenado por Orlando Silva, o comitê é formado por representantes de 16 ministérios, da Advocacia Geral da União, da Casa Civil, da Controladoria Geral da União, do Gabinete de Segurança Institucional e da Secretaria de Direitos Humanos. É muita gente e muito dinheiro para pouca vigilância.

Segundo o decreto, cabe ao grupo “definir, aprovar e supervisionar as ações previstas no Plano Estratégico das Ações do Governo Federal para a realização da Copa do Mundo FIFA 2014”. A coluna percorreu trilhas, desvios e labirintos na tentativa de descobrir quem faz parte do CGCOPA e como tem funcionado o órgão. Assessores do Ministério do Esporte garantiram que as informações estavam no decreto que criou a sigla. Mas o documento assinado por Lula não identifica os integrantes do grupo.

Márcia Gomes, assessora-chefe do Ministério do Esporte para assuntos da Copa do Mundo, explicou que seria impossível uma entrevista com qualquer representante do CGCOPA. “Nossos técnicos não falam com a imprensa”, informou. Na conversa seguinte, Márcia prometeu que tentaria quebrar o muro de silêncio. Não encontrou ninguém disposto a esclarecer dúvidas. Finalmente, pediu que as perguntas fossem encaminhadas por email. A coluna quis saber se ocorrem reuniões regularmente, o que é discutido, os nomes dos integrantes e quanto já se investiu na Copa do Mundo. O e-mail ficou sem resposta.

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QUANTO FOI INVESTIDO
O Tribunal de Contas da União, encarregado de fiscalizar a liberação de recursos federais para a Copa de 2014, ignora o total investido até agora. “A União já repassou algo em torno de R$ 34 milhões, não sei bem”, calcula o ministro Campelo. “Mas é melhor conferir esses números com o CGCOPA”, sugeriu. Segundo a Controladoria-Geral da União, as despesas somam até agora R$ 248,1 milhões e estão especificadas no portal Copa 2014 – Transparência em 1.º lugar.

Criado especificamente para revelar o destino dos recursos federais reservados à Copa, o portal avisa que só em Natal, no Rio Grande do Norte, foram aplicados R$ 40,5 milhões ─ R$ 6,5 milhões acima dos cálculos feitos pelo TCU. “Existe divergência nos valores previstos e descumprimento de diversos prazos”, observa Campelo. Embora até os alambrados saibam que atrasos multiplicam despesas, os prazos fixados nos cronogramas são sistematicamente desrespeitados.

“Querer realizar uma obra com metade do tempo previsto demanda gasto com hora extra, congestionamento de serviços e o setor público acaba na mão do contratante, que estipula valores mais altos”, avisa o professor Biava. O tempo escasso é a justificativa evocada pelos fabricantes de aditamentos ─ palavrão que designa a anexação ao contrato de suspeitíssimas despesas fora do combinado. Os sinais de que vêm aí a farra da Copa já alarmam os brasileiros comuns. Governantes e cartolas parecem cada vez mais entusiasmados. E os donos de empreiteiras mal disfarçam a euforia.

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