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Por Coluna
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“A rigor, não há rigor” e outras notas

Sua história é chocante; sua coragem é inspiradora; mas como é chatinha essa Malala

Por Valentina de Botas
Atualizado em 30 jul 2020, 20h23 - Publicado em 21 jul 2018, 07h03

Valentina de Botas

Em texto tão breve quanto luminoso, Augusto Nunes lembrou a sinistra biografia liberticida de Franklin Martins, cogitado por Dias Toffoli para chefe da assessoria de imprensa do STF. Também por Franklin defender ditaduras onde tribunais e imprensa não são livres, mas sobretudo por ser um lulista visceral, Toffoli nem sequer deveria permitir que sua intenção depravada se tornasse pública em tempo algum, muito menos agora que o STF está marcado por disputas políticas. Não é hora de nomear alguém identificado com um partido pela razão bastante de que essa hora não existe. Ainda que tenha recuado, sua intenção denota falta de vergonha e de noção de institucionalidade; como Favreto e outros mais, a junção entre afetos privados e funções públicas. A rigor, o próprio Toffoli não deveria integrar o STF; mas a rigor, não há rigor. 

La traviata, de janeiro a março/2019, no Scalla de Milão

Segundo certa tese, a Justiça-Companheira mocozada no STF só não solta Lula porque o povo-que-não-é-bobo está de olho. Isso supõe que o Tribunal faz o que quisermos se ficarmos prestando atenção a tudo o que o Tribunal faz. Então, se o coitado do brasileiro, deuzolivre!, se distrai, sei lá, consultando a programação da Ópera de Milão, pronto: Lula escapa com os 278 livros que já leu na cadeia. Segundo tal pensamento abilolado, seria na Copa que o traiçoeiro STF — sempre tão bacana em outras ocasiões — consumaria o LulaSoltoAmanhã por intermédio da Segunda Turma liderada pelo rabudo-chifrudo-beiçudo. Mesmo depois dos xingamentos filmados e compartilhados, Gilmar Mendes que, como qualquer ministro do STF ou qualquer juiz, depende de votos e da simpatia da população, não é mesmo?, insistiria em contrariar a vontade do povo-que-não-é-bobo.

Os formuladores dessa tese não contavam com um lulo-desembargador na ressaca da desclassificação do Brasil. As escrituras vaticinavam que era o STF que se aproveitaria da euforia verde-amarela da nação voltada para a ex-capital do Tartaristão, Kazan. Veio a disforia, mas o lulo-desembargador levou a coisa adiante. Lógico: a questão não é a Copa, a volta de Jesus, a expectativa do novo clipe de Anitta ou as fases da lua, mas a indiferença à legalidade por parte de operadores da lei seja lá como e quando for. À legalidade, não à opinião pública. Um tribunal que cede ao alegado anseio popular não presta para nada, não interessa à democracia nem à civilização, é um trambolho pré-hobbesiano similar aos soviets ou aos talibãs: tribunais têm de seguir a lei. Ponto. Juízes/ministros que a trocam pela voz do povo-que-não-é-bobo são desprezíveis e fazem isso porque seus interesses coincidem com ela. Repito: interesses. Outra vez: interesses. Nunca é demais: interesses. Para que não restem dúvidas: interesses.

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A voz do povo — que deve ser ouvida na formulação de leis no Congresso; sobre este, sim, há de haver pressão popular — não é a lei, a multidão não é justa e o conjunto da população brasileira não é doutora em Direito Penal. Ah, então o povo-que-não-é-bobo não pode fazer nada? Pode escolher um presidente que preste (que nomeará os ministros para o STF) e um Senado que preste (para sabatinar de verdade os candidatos a ministros). O STF tem falhado em cumprir a Constituição, mas se nos distrairmos para consultar a programação do Scalla de Milão, por exemplo, podemos fazê-lo sem temer surpresas: a falha acontecerá de qualquer modo e a qualquer tempo.

 

Malala sem alça

Sua história é chocante; sua coragem é inspiradora; mas como é chatinha essa Malala.

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Quando Djavan faz sentido

Adoro cerimônias de casamento, mas, para frustração dos meus pais, nenhuma das duas vezes que me casei foi numa igreja. Da primeira, que resultou em viuvez, não quero falar porque reinaugura esta dor que sempre me vence quando tento lutar contra ela; da segunda, eu já morava com o noivo há 12 anos, estava grávida de 5 meses da minha filha que nasceria quatro dias depois, ansiosa com a conclusão de uma pós-graduação e não tinha cabeça para uma empreitada como uma festa de casamento. A pequena e encantadora recepção-surpresa com bolo e champanhe organizada por minhas irmãs depois do ato civil no cartório celebrou a data e foi o bastante para me deixar encabulada, até ruborizada — gente, que antigo isso! — por me tornar o destino dos olhares. Freud não explica, mas Nelson Rodrigues me sugere que é esse deslocamento de todos os olhares para si que toda noiva causa o que me ruboriza e constrange. Não sei a ligação, mas sempre que passo por uma igreja onde está havendo um casamento, entro de mansinho. Fico lá, sentada nas últimas fileiras. Choro porque o amor sempre me comove na sua exatidão que não cabe em si. E pode acontecer de o amor da tua vida aparecer na vida de outra pessoa, fazer barulho quando toma sopa, usar pochete ou ser 17 anos mais jovem do que você. Se você é homem, uma diferença de idade assim dificilmente será um problema; nem para algumas mulheres, entre as quais não me incluo porque não tenho assunto com homens mais jovens do que eu. E assunto é fundamental no amor, até para que aqueles jantares silenciosos sejam leves e insuspeitos, para que o casal faça sem inquérito a travessia de silêncios.

Há pouco mais de um ano, quando G (amiga querida, linda, profissional bem-sucedida, divorciada há mais de 20 anos, com uma filha de 28 anos nascida quando G tinha 16) forçou a barra para que R (um cara bacana, da mesma idade da filha) terminasse o namoro de quase de 2 anos porque não sabia mais como lidar com a pressão da mãe dele e da própria filha (os jovens podem ser tremendamente reacionários com os pais) em razão da diferença de idade, fui vê-la e ela só me pediu que não a deixasse tomar um pote de sorvete sozinha. Ora, claro que não: tomei o pote de sorvete com ela. Se uma amiga não servir para isso, servirá para quê? Não serei eu, que nem sei direito por que ficaria ruborizada no meu casamento, que decidi não ter assunto com um eventual namorado mais jovem e que pouso clandestina em casamentos de estranhos, que direi se G estava certa ou errada. Amores desacontecem pelas razões mais detestáveis, como falta de tempo, o álibi de quem não tem coragem de dizer que não tem coragem de concretizar sonhos, enquanto o outro prolonga um fim que não acaba porque não está nem aí para o amor próprio (esse tal que não aquece o lado oposto da cama) ou para a realidade que invade sonhos, e fim. Cada um a seu modo lutando contra o que já os venceu. Fiz o que sei fazer: fiquei ao lado dela, empunhando uma colher contra um pote de sorvete, pensando secretamente na lição de Djavan num de seus poucos versos inteligíveis: se é amor, invade e fim. Lembrei dele esta semana quando G e R, numa felicidade que só vendo, me trouxeram o convite de casamento. As adversidades, abrandadas, continuam, mas por ser encantado, o amor revela-se.

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