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A primeira frase do homem na lua foi outra

Nos grandes projetos, o semeador sai a semear a sua semente, mas raramente é ele quem colhe o que plantou

Por Deonísio da Silva
Atualizado em 21 jul 2019, 14h02 - Publicado em 21 jul 2019, 11h22

Deonísio da Silva

A primeira frase do homem ao pisar na Lua foi “good luck, Mr. Gorsky” (Boa sorte, senhor Gorsky) e não “é um pequeno passo para o homem, um salto gigantesco para a humanidade”.

Quem a proferiu foi o astronauta Neil Armstrong, conversando com apenas uma das seiscentas milhões de pessoas que naquela noite memorável assistiam ao famoso desembarque.

Na infância, ao buscar uma bola que caíra sob a janela de um vizinho chamado Gorksky, o menino e futuro astronauta ouvira da vizinha a seguinte frase dita ao marido:sexo oral, você quer sexo oral? Só quando o filho do vizinho pisar na Lua”. Tinha sido um modo delicado e metafórico de negar, mas ela jamais poderia imaginar que o menino um dia chegaria à Lua. Fiz uma crônica sobre esta variante e ela pode ser lida no portal do Instituto da Palavra, onde são publicadas todas as colunas que faço aqui semanalmente.

Já estava, então, muito batida a primeira frase proferida na Lua e, mais escritor do que professor, resolvi seguir o conselho: “Quando a lenda for mais interessante do que a realidade, imprima-se a lenda”. A recomendação aparecera em 1962 no filme O homem que matou o facínora, do celebérrimo cineasta americano Sean Aloysius O’Fearna ou John Martin Feeney, mais conhecido como John Ford.

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Mas as frases talvez não sejam nem do cineasta nem do roteirista Warner Bellah, mas, provavelmente uma variante de “o importante não é o fato, mas a versão”, proferida décadas antes pelo político mineiro José Maria Alkmin, muito esperto, todavia não mais do que o seu conterrâneo Benedito Valadares. Este, ao repeti-la e atribuir a si mesmo a autoria, ouviu de Alkmin: “Eu invento a frase, você a repete e agora todo mundo diz que é sua”. E Benedito Valadares – também presente na expressão “mas será o Benedito?”, porque os mineiros ficaram surpresos pelos murmúrios de que Getúlio Vargas o escolheria para interventor em Minas Gerais – respondeu fechando a questão: “Isso prova que a frase está certa”. (ver texto de Ruy Castro aqui: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1212200905.htm)

Todavia o filósofo alemão, Friedrich Nietzsche, que nasceu na Prússia no século anterior, já escrevera: “Não há fatos, há apenas versões dos fatos”. E, se pesquisar um pouco mais, talvez encontremos a frase despretensiosamente dita por um escritor greco-latino ou por um sábio chinês.

Todos nós somos de lua? A Lua também é de lua nos relatos que dela se fazem há vários milênios. “Noite alta, céu risonho, a quietude é quase um sonho”, dizem famosos versos de nosso cancioneiro, uma vez que songbook é visita estranha ao Português. A Lua pode ser o astro protetor dos amores, mas também pode marcar flagelos para a Humanidade, a começar pelos eclipses. Desabam narrativas controversas, seja quando a deusa irrompe no imaginário mitológico ou religioso, seja quando “o luar cai sobre a mata,/ qual uma chuva de prata,/ De raríssimo esplendor”.

Ainda ontem (20 julho 2019), lembrei em artigo para O Globo o berço provável da expressão que diz ser sortudo quem nasce com o bumbum virado para a lua. Nasce corretamente quem vem ao mundo de ponta-cabeça. Sempre tinha sido indício de sorte nascer de ré, apontando primeiramente o bumbum e ainda assim sobreviver, num tempo em que a mortalidade infantil era estratosférica.

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Mas por que a Lua entrou na expressão? Provavelmente porque, sendo deusa, já era dos namorados e dos casais ainda na concepção, e os partos noturnos, antes da invenção do fogo e mesmo depois, poderiam ter acontecido à luz da Lua ou por ela presididos como entidade divina e protetora, quando as mães se escondiam fora da habitação para ter os filhos. Passaram a tê-los dentro de casa, com as parteiras, e hoje os partos voltaram a ser feitos fora de casa, nas maternidades.

A palavra aborto e o verbo abortar são invocados tantos na gravidez quanto nos voos interrompidos. E se desse errado a viagem à Lua? O então presidente Nixon leria um texto que, entre outras coisas, dizia: “Nos dias antigos, os homens olhavam para as estrelas e viam seus heróis nas constelações. Nos tempos modernos, fazemos o mesmo, mas nossos heróis são homens épicos de carne e osso”.

Resumindo, ainda que os astronautas não voltassem de lá, a Lua teria sido alcançada por um artefato feito por homens, dos quais dois tinham lá desembarcado para morrer nos braços dela. E o presidente dos EUA que mais fez para que chegassem lá, John Kennedy, não foi aquele que celebrou o êxito da missão.

O Céu que nos protege ou nos prejudica tem mostrado que as coisas aqui na Terra são assim: nos grandes projetos, o semeador sai a semear a sua semente, mas raramente é ele quem colhe o que plantou.

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*Deonísio da Silva
Diretor do Instituto da Palavra & Professor
Titular Visitante da Universidade Estácio de Sá
https://portal.estacio.br/instituto-da-palavra

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