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“Algo errado”, um artigo de J.R. Guzzo

ARTIGO PUBLICADO NA EDIÇÃO 2214 DA REVISTA VEJA Além da morte e dos impostos, como é o caso para o resto da humanidade, existe no Brasil uma terceira grande certeza: obras públicas jamais são entregues no prazo. Também podem não ser entregues nunca; é comum que, uma vez concluídas, estejam entre as de pior qualidade […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 12h11 - Publicado em 25 abr 2011, 16h32

ARTIGO PUBLICADO NA EDIÇÃO 2214 DA REVISTA VEJA

Além da morte e dos impostos, como é o caso para o resto da humanidade, existe no Brasil uma terceira grande certeza: obras públicas jamais são entregues no prazo. Também podem não ser entregues nunca; é comum que, uma vez concluídas, estejam entre as de pior qualidade que a engenharia mundial consegue produzir e sempre, em todos os casos, acabam custando muito mais caro do que deveriam. Mas é o atraso na entrega, sem dúvida, a marca que mais distingue as obras públicas brasileiras de quaisquer outras. Na verdade, nenhum cidadão deste país acredita que alguma coisa feita pelo governo possa ficar pronta no prazo – do trem-bala ao mais reles abrigo para um ponto de ônibus. (Esse trem-bala, aliás, promete. Ainda não foi colocado um metro de trilho no chão, mas o preço estimado da obra já passou de 18 para 33 bilhões de reais.) Nada mais natural, assim, do que o anúncio segundo o qual não serão terminadas a tempo as majestosas obras de nove dos treze aeroportos que servem as cidades-sede da Copa do Mundo de 2014. A novidade, no caso, é que o aviso vem de um órgão do próprio governo, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Dá o que pensar: se a coisa já está num ruim quando o governo em peso jura que tudo corre rigorosamente dentro dos prazos previstos, imagine-se o tamanho da confusão quando nem eles se entendem.

O alerta, desta vez, não pode ser desprezado como mais um gesto de má vontade da banda neoliberal, gente que passou tempo demais na escola e não entende o povão; como se mencionou acima, quem fez a denúncia foi o Ipea, repartição pública que tem as melhores credenciais como força auxiliar do PT, e considera “o estado” a maior criação do ser humano desde a invenção da roda. Sua avaliação sobre o andamento das obras nos aeroportos é severa. Em cinco delas, não se conseguiu, até agora, nem mesmo concluir os projetos. Seis obras não foram sequer iniciadas. Faltam até autorizações do Ibama – que, por sinal, exige três licenças diferentes para cada obra e leva cerca de quarenta meses, em média, estudando se vai ou não aprovar um projeto. Nem metade das verbas destinadas aos aeroportos entre 2003 e 2010 foi realmente aplicada. O governo, na verdade, tem-se mostrado incapaz de executar o próprio orçamento. O resultado é que até este primeiro trimestre de 2011 se aplicou apenas 0,25% do que os PAC 1 e 2 previam que seria aplicado; neste ritmo, conseguiremos atingir no fim do ano a grande marca de 1% do que deveria ser feito.

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Vários ministros e altas autoridades garantem que o Ipea está errado e que tudo corre segundo o planejado; na promessa de um deles, não vamos “fazer feio” na Copa. É possível, até, que tenham razão. Copa é Copa, e em Copa do Mundo a única coisa que interessa é futebol. Quem, na hora em que a bola rolar no campo, vai estar pensando em aeroporto? De mais a mais, se até a África do Sul conseguiu fazer uma Copa, por que o Brasil não conseguiria pelo menos algo parecido? Até lá, é claro, muita gente vai enriquecer, ou ficar ainda mais rica, com essa história toda, mas e daí? É o querido povão quem vai pagar, e nem saberá que está pagando – ou, se souber, não vai brigar por causa disso. Ninguém quer saber dessas coisas em momentos de “pra frente, Brasil”. Mas ainda assim há algo que não fecha nesse encontro de Copa, obras do governo, PAC, Ipea, etc. O que não fecha, quando se olha com mais atenção para a paisagem, é que deveríamos estar assistindo justamente ao contrário do que se vê. Claro: a presidente da República não é uma exímia gerente? Desventuras como a da Copa não acontecem com exímias gerentes.

A presidente Dilma Rousseff, como todo mundo está cansado de ouvir há pelo menos dois anos, teria a grande vantagem de ser uma gerente, ou mesmo uma “gerentona” – embora já não se saiba, quando falam assim, se é ou não um elogio. No campo da imaginação comum, em todo caso, gerente é aquele que realmente resolve as coisas. Faz acontecer. Entrega o serviço combinado. Põe a mão na massa e o pé no barro. É um leão (ou uma leoa) para tocar uma obra. Onde estariam, então, essas qualidades todas, numa hora em que tanto se precisa delas? Quatro meses de governo, sem dúvida, é pouco tempo para mostrar resultados. Mas a gerência do PT já está chegando aos oito anos e meio e Dilma faz parte dela desde a primeira hora – é, afinal, a “mãe do PAC”, e padroeira geral de todas as obras públicas deste país. O que estaria havendo de errado?

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