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‘Presidenta’ é palavra só usada por gente que flexiona a espinha com mais destreza que ginasta olímpico

A invencionice imposta por Dilma transformou-se no distintivo que identifica sabujos, vassalos, bajuladores e outras ramificações da tribo dos subalternos incuráveis

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 22h03 - Publicado em 20 ago 2016, 13h00

Dilma-Roussef-e-Carlos-Lupi

“Estou aqui falando como linguista”, avisa na primeira linha o comentário enviado à coluna por Rafael Brandão.

A frase é uma variação do velho “Sabe com quem está falando?” No caso, é fácil saber que estou falando com ─ melhor: estou ouvindo por escrito ─ uma sumidade em língua portuguesa, um doutor em anacolutos, assíndetos, hipérboles, pleonasmos, metonímias e verbos irregulares, fora o resto.

“Presidenta é um termo CORRETO e é aceito tanto em registros lexicográficos mais antigos quanto nos contemporâneos da língua”, começa a aula. 

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As maiúsculas que engordam e elevam a estatura do adjetivo “correto” (CORRETO parece mais corpulento, mais musculoso) gritam a advertência: quem duvida da afirmação corre o risco de levar uma surra de ponto de exclamação, usado ora como borduna ora como bengala por linguistas enfurecidos. Afinal, faz mais de 100 anos que presidenta virou verbete de dicionário (“registro lexicográfico”, prefere Rafael Brandão).

“A flexão de gênero em termos como presidenta, contenta etc., está presente em três dos idiomas neolatinos: português, espanhol e italiano”, prossegue o mestre, dispensando-se de ressalvar que a maioria das nações cujos idiomas oficiais são neolatinos optou pelo exemplo da França, que mantém o Madame le Président.

A aula de falsa erudição é encerrada com um pito amplificado pelo cortejo de maiúsculas: “Portanto, pessoas, PAREM DE ATRIBUIR QUESTÕES FILOLÓGICAS A PARTIDOS POLÍTICOS. Pois no final das contas, se tornam arrogantes vocês, que opinam sem saberem sobre o que falam”.

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Os idiotas estão por toda parte, alertou Nelson Rodrigues há quase 50 anos. E andam proliferando como nunca no mundo da linguística, informa o conteúdo do texto e confirma aos berros a última frase. Falta uma vírgula depois de “Pois”. O “vocês” se sentiria bem mais confortável se estivesse alojado entre a vírgula e o “se”. E esse “opinam sem saberem” é um pontapé no idioma de dar inveja a Dilma Rousseff. Brandão ignora que o certo, o CORRETO, é deixar o segundo verbo posto em sossego no infinitivo: “saber”. Esse “saberem” é coisa de quem nada sabe.

Enquanto o companheiro linguista estuda o que fazer com verbos e plurais, tratemos do que interessa. Como todo brasileiro alfabetizado, sei desde sempre que não é errado dizer ou escrever “presidenta”: a palavra existe. Como todo brasileiro sensato, sei desde os tempos de colegial que o status de verbete de dicionário não torna certos termos menos ridículos. (Ninguém chama o marido ou a mulher de “consorte”. Noiva nenhuma admite ser qualificada de “nubente”)

E sei sobretudo, como todo brasileiro que não renunciou à altivez, que “presidenta” é palavra usada só por gente que flexiona a espinha com mais destreza que ginasta olímpico. O tratamento que Dilma exigiu ao instalar-se no planalto é um exotismo que virou distintivo dos sabujos, dos vassalos, dos servis, dos bajuladores e de outras ramificações da tribo dos subalternos incuráveis.

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Para alívio de quem preza a língua portuguesa, presidenta tem data marcada para morrer. Ainda que permaneça homiziada em dicionários, a invencionice não sobreviverá ao sepultamento político de Dilma Rousseff. E então será restaurado em sua plenitude o bom e velho “presidente”, substantivo de dois gêneros que designa alguém ─ homem ou mulher ─ que preside alguma coisa. Pode ser uma empresa. Pode ser uma organização criminosa. E também pode ser um governo que, disfarçado de instituição republicana, age como se fosse um bando de delinquentes.

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