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‘A semente que chegou cedo à Ilha de Reunião’, de Fernando Reinach

Publicado no Estadão  FERNANDO REINACH O Havaí e a Ilha de Reunião estão em lados opostos do planeta. Saindo do Havaí, você cruza o Pacífico, sobrevoa a Malásia, atravessa o Oceano Índico e chega pelo leste. Mas, se for pelo outro lado, a distância é quase igual, 18.000 quilômetros. Você pode cruzar a América do […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 03h19 - Publicado em 8 ago 2014, 13h21

Publicado no Estadão 

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FERNANDO REINACH

O Havaí e a Ilha de Reunião estão em lados opostos do planeta. Saindo do Havaí, você cruza o Pacífico, sobrevoa a Malásia, atravessa o Oceano Índico e chega pelo leste. Mas, se for pelo outro lado, a distância é quase igual, 18.000 quilômetros. Você pode cruzar a América do Norte e o Caribe, voar sobre o Atlântico, atravessar a África, sobrevoar Madagascar, e aterrissar na Ilha de Reunião.

Achou longe? Nem tanto, 1,4 milhão de anos atrás, antes do surgimento do Homo sapiens, uma única semente de acácia viajou do Havaí à Ilha de Reunião, germinou, e seus descendentes ainda estão por lá.

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A Ilha de Reunião é minúscula e isolada. Tem 50 por 65 quilômetros e faz parte da França. A grande maioria da flora e da fauna é semelhantes às da África ou de Madagascar. Mas existe uma exceção, as acácias que se espalham pelas encostas dos vulcões da ilha. Acácias como essas não existem na África nem em Madagascar. Espécies semelhantes podem ser encontradas na Austrália, mas árvores idênticas são abundantes nas encostas dos vulcões do Havaí. Como árvores tão semelhantes podem ser encontradas em ilhas tão distantes?

A explicação mais simples é que a acácia teria sido introduzida pelos primeiros navegantes chineses ou europeus. Para testar essa hipótese, os ecologistas coletaram amostras de mais de 80 árvores em diferentes ilhas do Havaí e em diversas floresta da Ilha de Reunião. O DNA de cada uma das árvores foi isolado e sequenciado. O susto não poderia ser maior.

Comparando as sequências de DNA de árvores de diversas ilhas do Havaí, os cientistas descobriram que elas eram ligeiramente diferentes entre si, o que indica que, ao se espalharem pelas ilhas do arquipélago e se isolarem por muitos séculos, elas estão se modificado. São raças diferentes da mesma espécie, assim como orientais e europeus são raças distintas da espécie Homo sapiens. Dado o número de mutações que separam essas raças, foi possível concluir que essa espécie de acácia havia se espalhado pelas ilhas do Havaí faz mais de 3 milhões de anos. A surpresa foi quando os cientistas colocaram na comparação as sequências de DNA das árvores coletadas na Ilha de Reunião. Elas formavam uma raça distinta, diferente de todas as raças encontradas no Havaí, mas muito semelhante a uma das raças encontradas no Havaí. Esse resultado demonstra que as árvores da Ilha de Reunião são parentes distantes de uma raça específica presente no Havaí. Mas quando teria havido a separação entre as árvores do Havaí e as da ilha Reunião?

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Comparando as sequências de DNA das árvores da Ilha Reunião entre si, os cientistas descobriram que elas são muito semelhantes, o que indica que todas haviam se mantido em uma única população. Isso corrobora a ideia que toda a população é derivada de um único evento de colonização ocorrido no passado.

Comparando o genoma da raça havaiana com a da Ilha de Reunião, os cientistas descobriram que elas continham diversas diferenças genéticas. Como essas diferenças surgem com uma frequência muito baixa, e sabendo o tempo que leva para essas diferenças se acumularem, foi possível deduzir que a separação entre a população do Havaí e a da Ilha de Reunião ocorreu faz mais de 1 milhão de anos, por volta de 1,4 milhão de anos atrás. Esse intervalo de tempo é menor que o que separa as raças que existem no Havaí. Mas é longo demais para se acreditar que as árvores tenham sido trazidas para a Ilha de Reunião por seres humanos. Afinal surgimos na Terra faz muito menos que um milhão de anos.

A única conclusão possível é que uma semente tenha sido levada do Havaí para a Ilha de Reunião no estomago de algum pássaro migratório (o que é difícil de se acreditar, pois nenhum pássaro voa tão longe sem defecar várias vezes) ou aderida ao corpo do animal. A hipótese da semente ter sido levada pelas correntezas marítimas foi excluída, pois elas não germinam quando expostas à água do mar por mais de alguns dias.

O impressionante é que essa travessia de 18.000 quilômetros teve sucesso uma só vez, faz 1,4 milhão de anos. Antes desse evento, e desde então, nenhuma outra semente teve a honra de formar uma nova população de acácias na Ilha de Reunião. Sorte e eventos raros fazem parte dos mecanismos que originam a biodiversidade.

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