Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Alberto Carlos Almeida Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO

Por Alberto Carlos Almeida
Opinião política baseada em fatos
Continua após publicidade

Bolsonaro venceu a batalha da comunicação?

80% dos beneficiários do Bolsa-Família passaram a ganhar 1.200 por mês, se isso fosse comunicação ele teria vencido

Por Alberto Carlos Almeida
15 ago 2020, 18h08

A resposta é não. O aumento da popularidade de Bolsonaro fez com que muita gente passasse a afirmar que ele venceu a batalha da comunicação, que a narrativa vitoriosa sobre a pandemia e seus mortes é a dele. Esta afirmação tem um pressuposto: as pessoas são pólos passivos da comunicação, elas são ingênuas e manipuláveis e aquele que se comunicar melhor com elas irá lhes persuadir. Neste caso, Bolsonaro as persuadiu em avaliar melhor o seu governo e a oposição foi incapaz de fazer o oposto.

Melhor do que partir de pressupostos é avaliar as evidências empíricas que têm impacto na mudança de opinião. É comum que fatos políticos tenham impacto na opinião das pessoas, alguns exemplos são os grandes escândalos de corrupção como foi o caso do Mensalão no Governo Lula, várias modalidades de crise econômica como o aumento da inflação ou do desemprego que ocorreu no Governo Dilma, e também o racionamento de energia que aconteceu no Governo Fernando Henrique. A pandemia foi um fato político que teve sim impacto na avaliação de Bolsonaro, a recém publicada pesquisa do Datfolha revela que a avaliação de seu governo piorou muito dentre as pessoas com renda e escolaridade mais elevada.

A pandemia, contudo, tem diversas facetas. Se por um lado o descaso do presidente com a saúde da população escandalizou os mais escolarizados, por outro o auxílio emergencial agradou os mais pobres, a mesma pesquisa revela isso. Segundo Marcelo Neri, 80% dos que recebem o Bolsa-Família passaram a ganhar 1.200 reais por mês. Supondo-se que 13 milhões de famílias recebam o benefício, temos que 10,5 milhões saíram de uma renda média de 190 para 1.200, um salto financeiro sem precedentes na vida recente. Imaginando-se que haja quatro pessoas em cada família nuclear, além dos agregados que saberão desta melhoria de renda, tem-se que mais de 40 milhões de pessoas estão sendo beneficiadas por esse aumento de renda. Se isso fosse comunicação, então Bolsonaro teria vencido a batalha, mas não é.

O auxílio emergencial custa 50 bilhões por mês, o Bolsa-Família 30 bilhões por ano. O Brasil começou o ano, antes da pandemia, portanto, com uma previsão de déficit da ordem de 2% do PIB e agora estamos entre 10 e 12%. Dinheiro não nasce em árvore. A proposta orçamentária para 2021 precisa ser apresentada até dia 31 de agosto e aí está o nó político do Governo Bolsonaro. O Presidente está entusiasmado com o auxílio emergencial e sabe que ele ajudaria bastante a sua reeleição. Ocorre que o Brasil não tem espaço fiscal para manter o benefício até 2022, e talvez não tenha nem mesmo como aumentar o valor do Bolsa-Família.

Continua após a publicidade

Uma saída para o Governo Bolsonaro seria acabar como o Super Simples e as isenções tributárias do imposto de renda da pessoa física. Se isso fosse feito de uma só vez o governo teria em caixa 100 bilhões por ano. Porém, esqueça, não é viável politicamente. Não agora, talvez seja um dia, talvez. Qualquer tentativa de obter recursos para ou aumentar o Bolsa-Família ou manter alguma modalidade de auxílio emergencial em 2021 esbarra na política. Há resistências em todos os lugares e de todos os tipos. As isenções não serão mexidas e dificilmente uma nova contribuição será aprovada. Lembremos que os setores empresarias que apoiaram Bolsonaro rejeitam fortemente o aumento da carga tributária. Mesmo que isso fosse viável, um novo imposto seria direcionado para cobrir o rombo e não para uma nova despesa.

Bolsonaro não ganhou batalha de comunicação alguma. A melhoria de sua aprovação se deveu a um benefício concreto na vida das pessoas: um aumento de renda abrupto que resultou em melhoria do bem-estar das famílias mais pobres. Assim, quando a sua popularidade cair por conta do fim do auxílio emergencial ele não terá perdido a batalha da comunicação para a oposição, mas apenas terá sido vítima do fim de uma política pública insustentável na atual situação financeira do Brasil.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

O Brasil está mudando. O tempo todo.

Acompanhe por VEJA.

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.