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Por Filipe Vilicic
Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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Por que a vaquinha pedida pelo vencedor do MasterChef é uma ofensa ao conceito de financiamento coletivo

Quando se colabora com um projeto em um site de financiamento coletivo, a exemplo do Kickstarter ou do Catarse, o que se espera? Algumas opções: que a iniciativa tenha um fim social, como no caso de ONGs; ou que se trate de um produto disruptivo, no qual poucos investidores tradicionais investiriam; ou que seja um […]

Por Filipe Vilicic Atualizado em 30 jul 2020, 22h01 - Publicado em 26 ago 2016, 09h00

Quando se colabora com um projeto em um site de financiamento coletivo, a exemplo do Kickstarter ou do Catarse, o que se espera? Algumas opções: que a iniciativa tenha um fim social, como no caso de ONGs; ou que se trate de um produto disruptivo, no qual poucos investidores tradicionais investiriam; ou que seja um projeto ambicioso e inovador criado por pessoas realmente sem dinheiro no bolso; ou que, ainda, se configure como “arte pela arte”, como no caso de um show de uma banda desconhecida ou de um livro que não foi aceito por editoras; ou, no máximo, que se ganhe com uma sociedade, mesmo que pequena, a partir da grana injetada no negócio. O que não se espera? Que, por trás das luzes do site e da cortina do marketing, tenha apenas uma empresa usual, que cria o “de sempre” para conquistar lucro como “sempre se fez”, com o intuito de ganhar clientes por meio das plataformas de financiamento coletivo. Ou que, na real, não passem de empreendedores profissionais, com bagagem (e total capacidade de conseguir sócios por conta própria), em busca de dinheiro alheio, apoiando-se na própria fama e sucesso para tal.

Pois o caso do trio Zé Soares (blogueiro), Leo Young (vencedor do reality show MasterChef) e Bel Pesce (escritora, youtuber, empresária) se encaixa em uma zona nebulosa, certamente não correspondente ao tópico “o que se espera”. Resumo: eles tentam angariar 200 mil reais para abrir mais uma hamburgueria em São Paulo. Mas não dá dinheiro para eles quem quer? Sim, é claro. Especifico: o pedido, em si, não é crime, nem nada. Só é uma ofensa aos que acompanham o mundo de startups e de financiamento coletivo.

E do que se trata esse ambiente? Os sites de financiamento coletivo começaram a ganhar fama na virada dos anos 2000. Tudo teve início com artistas em busca de viabilizar álbuns digitais e shows. Eram, principalmente, músicos iniciantes, ou sem grana, que compartilhavam seus trabalhos e pediam para fãs ajudarem a financiar apresentações e discos. De certa forma, configurou-se como uma reformulação do conceito de “mecenas”. No lugar de apenas um indivíduo rico apoiando a arte, porém, diversas pessoas puderam se juntar para ter o poder de incentivo desse mesmo “indivíduo rico”.

Logo o modelo ganhou força na internet. Sites como o Indiegogo e o Kickstarter surgiram – e, no Brasil, também foram criadas réplicas. A proposta era clara: apoiar projetos artísticos, causas sociais e empreendimentos ousados. O que continuou no cerne do conceito: gente sem grana promovendo vaquinhas atrás de suporte a iniciativas bem fora da caixinha. Em outras palavras, a imagem de um “mecenas modernizado”, digital e coletivo.

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É claro que, tanto nos EUA quanto por aqui, surgiram aproveitadores, golpistas e marqueteiros no meio do bolo. Contudo, essas exceções parecem não ter corrompido o sistema.

Aliás, aos que acreditam que a ideia de financiamento coletivo é nova, da era online… enganam-se. Há muitos outros casos ao longo da história. Como quando o empreendedor americano Joseph Pulitzer usou um espaço de um de seus jornais, o The New York World, para promover uma angariação de recursos. Mas ele já não era um homem rico? Sim. Só que a grana não iria para o bolso de Pulitzer. Ele apenas usou seu poder para pedir a nova-iorquinos que colaborassem com uma causa, digamos, da cidade: a construção da Estátua da Liberdade. Como sabemos, a iniciativa deu certo.

Concluindo, não vejo como o pedido do MasterChef e seus sócios se insere no contexto mais nobre de financiamento coletivo. Em outras palavras: eles precisam mesmo de um “mecenas” (ou eles realmente não possuem calibre para serem mecenas do próprio negócio; e, quiçá, de outros)? Compreendo, portanto, o furor gerado pela internet quando se soube do pedido do trio. Principalmente, entre aqueles – a exemplo de empreendedores iniciantes com suas startups – que recorrem a sites como o Kickstarter e o Catarse.

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Obs.: da típica boataria online, já se diz por aí (leia comentários de Facebook, notícias de origem duvidosa; nada confiável) que pode ser estratégia de marketing da hamburgueria, para atrair clientes. Tanto faz. De qualquer forma, a iniciativa ficou muito de fora do que se aguarda de um bom projeto em busca de financiamento coletivo.

Atualização: Bel Pesce, em seu Facebook, anunciou que o trio irá parar com o projeto de financiamento coletivo – e devolver o dinheiro a quem colaborou. A justificativa em muito se assemelha à observação que fiz acima. De toda forma, repito: tanto faz. O que mais vale é a reflexão nascida em torno do caso.

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