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Por Filipe Vilicic
Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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Bolsonaro: como funciona o disparo de mensagens via WhatsApp

Entenda como funciona a tática de disparo de mensagens políticas por meio do serviço do Facebook; método pode levar Jair Bolsonaro à Presidência

Por Filipe Vilicic Atualizado em 18 out 2018, 17h57 - Publicado em 18 out 2018, 16h55

Estas eleições têm sido certamente anormais. Por exemplo, o candidato à frente nas pesquisas para presidência não aceita nem debater publicamente sobre suas propostas (no texto desse link, uma conversa sobre algumas delas). Afinal, parece perceber o pouco valor que diálogos racionais, seja na TV, no rádio ou na internet, possuem para o êxito de sua campanha. Isso porque o que o está levando à vitória é o jogo sujo nas redes sociais.

Em artigo publicado primeiro on-line, ontem, na Folha de S. Paulo, o mandachuva do WhatsApp — empresa de propriedade do Facebook e cujo um dos fundadores já declarou não mais trabalhar na mesma e promover que as pessoas saiam da rede social — garantiu que a empresa age para conter a disseminação de informações falsas e danosas. Disse ele, por exemplo, recorrendo a uma das ações tomadas: “Começamos a testar neste ano um limite do número de vezes que uma pessoa pode encaminhar um conteúdo para vinte conversas. Antes, as pessoas podiam encaminhar uma mensagem para 256 conversas. Esse teste foi baseado na ideia de manter o WhatsApp como um ambiente para conversas privadas”.

Em VEJA, já se revelou, ainda no primeiro turno das eleições, como os candidatos (quase todos) ou pessoas ligadas a eles usavam bots e perfis falsos para disseminar informações, mentirosas ou não, no Twitter. A tática envolvia ainda deturpar dados para inflar a popularidade de políticos como Jair Bolsonaro por meio de mensagens criadas automaticamente por computadores e disseminadas pelas redes sociais. Não só o político do PSL, mas também outros, como Marina Silva e Alvaro Dias, fingiam assim que repercutiam mais nos chamados trending topics do que de fato ocorria.

A mesma apuração de VEJA revelou que Ciro Gomes utilizava de falhas do WhatsApp para enviar mensagem para grupos enormes de pessoas, bem superiores aos limites explicados pelo manda-chuva do Facebook. Fez isso por pouco tempo, apenas com informações oficiais e verdadeiras de sua campanha, e depois cancelou a artimanha.

Hoje, a Folha de S. Paulo flagrou que Bolsonaro elevou a novo nível essa tática. Empresários ligados a ele, como o dono da Havan — o mesmo que pressionava seus funcionários a votar no presidenciável do PSL —, contrataram, por fora, sem declarar como doação à campanha, serviços de empresas paulista e mineiras que disparavam mensagens (boa parte, provavelmente de cunho falacioso) a eleitores via WhatsApp.

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Como isso era feito? Compartilho alguns detalhes da operação que não foram expostos pela Folha e que foram levantados em apuração minha e do repórter André Lopes.

Para burlar o sistema do WhatsApp que tenta conter a disseminação de spam e fake news, essas agências criavam números fraudados de celulares, com códigos de área estrangeiros, como da Califórnia (EUA). O site de ao menos de uma delas também é hospedado fora do Brasil, no Canadá, para evitar punições, como qualquer julgamento via TSE. Tais agências também procuraram dominar a cadeia de distribuição das mensagens. Há indícios, por exemplo, que o dono de uma delas possui uma empresa nos EUA (ainda não se sabe se localizada mesmo lá), possivelmente responsável por disparar parte das mensagens pró Bolsonaro.

As empresas contratadas por fora pelos empresários apoiadores de Bolsonaro também adotam a tática de comprar bancos de dados contendo contatos privados de indivíduos, como seus e-mails e números cadastrados no WhatsApp. Assim, conseguem enviar as mensagens. A tática também fere as regras eleitorais brasileiras, visto que só se pode mandar as informações a eleitores que se candidatem voluntariamente a recebê-las.

Os indícios são de que quase toda a operação se dá por meio de IPs (protocolos de internet que servem como registros dos aparelhos que acessam a rede) maquiados como se fossem estrangeiros. Se os pagamentos pelos contratos forem executados também por sistemas online de fora do país, será, em teoria, inviável detectá-los por meio da Justiça brasileira.

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Bolsonaro pode sair vencedor por, de forma consciente ou não, ter compreendido (assim como fez Donald Trump nos EUA) a crise pela qual passa a indústria da informação neste século XXI. Uma enorme parcela do público deixou de se importar com questões como veracidade, origem de uma notícia, credibilidade e ética. Preferem confiar num meme encaminhado por um tio via WhatsApp.

A situação está tão grave que, por exemplo, outro dia um eleitor de Bolsonaro tentou me convencer que esta VEJA teria dado uma capa com a manchete Divulgado o escândalo que todo mundo suspeitava”. Nela, suspostamente se revelavam farsas em pesquisas eleitorais (confira no link). Eu, editor de VEJA, expliquei que aquilo era um embuste. O ser humano ainda preferia acreditar no que recebeu via WhatsApp.

Aí, lembrei-o que trabalho para a revista. Nada adiantou. Ele só se convenceu que a capa era falsa quando acessei o site de VEJA e mostrei a ele qual era a capa verdadeira da mesma semana. Mesmo assim, tive de ouvir o questionamento: “Mas será que vocês não deram antes essa capa aí que recebi no WhatsApp de fulano? Ou estão planejando pra depois?”. Ao que tive de retrucar de forma mais firme: “Meu caro, então, Ok, você, que se informa pelo WhatsApp, sabe mais de meu trabalho e de onde eu trabalho do que eu”. Só aí o indivíduo reparou a vergonha pela qual estava passando; e pediu desculpas.

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