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Por Filipe Vilicic
Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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A propaganda online do terror – e como combatê-la

Fiquei, junto com todo o planeta (ao menos, a parte civilizada deste), aterrorizado com o massacre de domingo na boate gay Pulse, em Orlando. Para saber mais sobre o caso, clique no link da frase anterior. Aqui, abordarei a questão que me cabe: a tecnológica. Por que essa triste história, fruto da pior faceta da […]

Por Filipe Vilicic Atualizado em 30 jul 2020, 22h31 - Publicado em 13 jun 2016, 19h33

Fiquei, junto com todo o planeta (ao menos, a parte civilizada deste), aterrorizado com o massacre de domingo na boate gay Pulse, em Orlando. Para saber mais sobre o caso, clique no link da frase anterior. Aqui, abordarei a questão que me cabe: a tecnológica. Por que essa triste história, fruto da pior faceta da humanidade, levanta mais uma vez a discussão em torno de como a internet tem sido usada por criminosos para a prática de atividades ilegais, como o terrorismo? E, principalmente, como impedir isso?

Antes de tudo: sou fã do mundo online e dos benefícios que este trouxe à maioria – como o impulso à democratização; a promoção da livre circulação de ideias na internet; como as redes sociais servem de ferramenta para dar voz às minorias; etc. Contudo, hoje (13), o presidente americano Barack Obama acendeu, mais uma vez, uma questão urgente a respeito da web. Em referência à tragédia de Orlando e a como o atirador se motivou a realizar tal ato de crueldade, Obama afirmou: “Um dos maiores desafios que temos à frente é esse tipo de propaganda e de perversões do Islã que você vê gerado pela internet (…) que motiva indivíduos a tomar ações contra outras pessoas aqui nos Estados Unidos e em outros lugares do mundo”.

Ainda pouco se sabe de como o autor do massacre, Omar Mateen, usufruía do meio digital para contatar – ou se motivar a partir de mensagens trocadas com extremistas – o Estado Islâmico, grupo com o qual alegou ter ligação. Entretanto, a frase de Obama me fez recordar de outro caso. Em dezembro do ano passado, chegou-se à conclusão de que os ataques terroristas realizados em novembro de 2015 em Paris foram articulados via WhatsApp e Telegram. Pela eficiente criptografia utilizada nesses aplicativos de troca de mensagens, dificílima (apesar de não impossível) de ser quebrada por autoridades como a polícia americana FBI, terroristas se sentem seguros ao acessar esses serviços para o planejamento de massacres como o que ocorreu em Paris.

O que me fez lembrar de outro caso. Em maio do ano passado, dois terroristas ligados ao grupo islâmico ISIL atacaram uma exibição de charges tidas como ofensivas pelos muçulmanos, no Texas, também nos EUA. Segundo o diretor do FBI, James Comey, um dos motivos de a ação ter ocorrido sem interceptação das autoridades seria a impossibilidade de os investigadores terem acessado, previamente, 109 mensagens trocadas via apps como o WhatsApp e o Telegram, entre os atiradores e líderes do Terror no Oriente Médio.

E essa história me levou a outra. Recorda-se daquela briga judicial entre FBI e Apple para desbloquear dados armazenados no iPhone de Syed Farook, terrorista muçulmano morto depois de assassinar catorze pessoas em San Bernardino, na Califórnia, também em 2015? O que queria o FBI: a Apple deveria desenvolver uma porta dos fundos (backdoor, em inglês) no sistema operacional de iPhones para ajudar os agentes a acessar informações do criminoso, armazenadas em redes sociais e apps de mensagens salvos em seu aparelho, um iPhone (é claro). A Apple se recusou, pois tal recurso abriria uma fragilidade no software que poderia expor todos os donos de iPhones. Neste caso, fiquei do lado da Apple – havia outras formas de solucionar o impasse, como provou o próprio FBI, que hackeou o tal iPhone (polêmico) de Syed Farook.

Poderia continuar a listar casos aqui. No ano passado, conversei com o tenente-coronel da Força Aérea americana Mark McCurley, especialista no combate ao Terror, que resumiu assim a questão: “Precisamos saber o que os terroristas falam ao celular.” Um ponto: ele não se referia às ligações, passíveis de serem grampeadas (com certa facilidade). McCurley se preocupava com as mensagens trocadas via Telegram, WhatsApp…

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No Brasil, não há tanta preocupação com o Terror (apesar de a Olimpíada estar logo aí). Porém, por aqui os mesmos aplicativos, as mesmas redes sociais, servem de escudo para a atividade criminosa de traficantes de drogas, pedófilos, dentre outros bandidos (vide nesta reportagem recente publicada por VEJA).

Frente a todos esses casos, o WhatsApp se faz de desentendido. Alega que não pode ajudar as autoridades grampeando indivíduos cadastrados no app, mesmo que esses (friso: uma minoria, é evidente; mas uma que preocupa, e muito) sejam terroristas ou traficantes. Também defende que se apoia na denúncia de usuários para chegar à bandidagem que usufrui do serviço. Aí, pergunto: Quem vai denunciar? O terrorista que envia a mensagem ou o que recebe? Para entender mais desse dilema, acesse os seguintes posts deste blog:

O WhatsApp “pediu” para que eu mudasse um post que publiquei no meu perfil no Facebook

O WhatsApp responde à reportagem de VEJA sobre o uso do app por criminosos

Ouça áudio de WhatsApp de criminosos incentivando o assassinato de policiais

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Do outro lado, as autoridades, como o FBI americano e a Justiça brasileira, defendem que as empresas por trás desses serviços detêm total capacidade técnica de colaborar com as investigações expondo os criminosos sem comprometer a segurança dos outros usuários, honestos (exemplo: realizando grampos em contas específicas nos aplicativos, como as ligadas a grupos terroristas). Em outra indicação de que esses programas têm se tornado um problema frequente à segurança mundial, um colega italiano, o jornalista Carlo Cauti, mencionou, em conversa que tivemos (veja só!) via Facebook, notícias de que o governo da Itália cogita expulsar o WhatsApp do país por não colaborar em investigações que buscam chegar a terroristas atuantes na Europa.

Sim, se trata de uma questão delicada. De um lado, há a preocupação com a privacidade de todos. Do outro, a urgência em existir formas de impedir que criminosos usufruam de redes sociais e apps de mensagens para promover e planejar atividades ilícitas (ou seja, para estes, não vale a desculpa da “privacidade”). É preciso achar um meio-termo para conciliar essas apreensões. E ele há de existir.

Reflita: não se trata da primeira vez (provavelmente, não será última) que surge um dilema do tipo. O mesmo ocorreu, por exemplo, com o telefone fixo e com o celular. Mostrou-se necessário aprovar a possibilidade de grampear aparelhos das pessoas, quando essas são investigadas por autoridades. Isso compromete a privacidade dos outros donos de linhas telefônicas? É claro que não!

No WhatsApp, hackers já conhecem formas de acessar, indevidamente, o conteúdo de mensagens – isso, sim, deveria ser combatido! Logo, existem formas de grampear contas, sim. Seria mais produtivo se a empresa topasse usar essas brechas para, por conta própria (sem entregar “segredos” ao governo, como temem usuários com mania de perseguição), colaborar com a Justiça, visando o combate ao terrorismo, à pedofilia e a outros crimes. Tá aí um meio-termo possível – inclusive, tecnicamente.

O fundamental é garantir que uma inovação bem-vinda, benéfica (em tantos aspectos), não acabe por virar uma das armas preferidas por terroristas e bandidos. É inocência, no mínimo, simplesmente virar a cara para o assunto e fingir que isso não tem ocorrido em frequência crescente. A prova está aí: tudo indica, pela fala de Obama, que a internet (e seus frutos; as redes sociais e os apps que todos usamos) também teve papel central na tragédia que acometeu Orlando no último fim de semana.

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