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A morte e a morte dos pubs

A cada semana, 30 pubs fecham as portas no Reino Unido. (Enquanto isso, as imitações brasileiras proliferam.) Há tantos por lá que, nesse ritmo, só em 2040 esses tradicionais locais de convívio, bebedeiras e festas britânicos estarão extintos. Se numericamente o declínio dos pubs não parece lento, individualmente, para as famílias que tiram o seu […]

Por Diogo Schelp Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 31 jul 2020, 00h15 - Publicado em 23 out 2015, 18h53
O pub Golden Lion, em Camden, no norte de Londres passou por muitas e boas

O pub Golden Lion, em Camden, no norte de Londres passou por muitas e boas

A cada semana, 30 pubs fecham as portas no Reino Unido. (Enquanto isso, as imitações brasileiras proliferam.) Há tantos por lá que, nesse ritmo, só em 2040 esses tradicionais locais de convívio, bebedeiras e festas britânicos estarão extintos. Se numericamente o declínio dos pubs não parece lento, individualmente, para as famílias que tiram o seu sustento da venda de cerveja e fish and chips (o tradicional peixe com batata-frita) e para os moradores e outros frequentadores do bairro, trata-se de uma tragédia quando um deles fecha. O repórter Tom Lamont, do jornal The Guardian, fez um mergulho na história de um pub que esteve ameaçado de fechar e revela como e por que isso acontece.

A extensa reportagem, que pode ser lida aqui em inglês, concentra-se na luta da família Murphy, que há mais de três décadas administra um dos estabelecimentos de uma cadeia de pubs (as pubcos), num sistema parecido com o das franquias no Brasil, para se manter no negócio. O vínculo deles com o Golden Lion (“Leão Dourado”) vai além da simples relação com o trabalho. Eles moram no pub, mais especificamente nos andares de cima. O casal John e Mary Murphy entraram no negócio quando o filho Dave tinha 11 anos – e agora, adulto, cabe a ele garantir a sobrevivência do lugar para repassá-lo à terceira geração, sua filha recém-nascida. A ligação, portanto, é emocional. Como diz Mary, que antes trabalhava como enfermeira, “eu cuidava de doentes, e passei a cuidar de bêbados. Não acho que tenha sido muito difícil para mim”.

O desaparecimento do pubs britânicos iniciou-se com a crise financeira de 2008. Mas não são apenas os estabelecimentos deficitários que fecham. A principal razão é a dinâmica do mercado imobiliário. Os pubs são comprados por empresários que sabem muito bem que esses locais valem muito mais se forem qualquer outra coisa, menos… pubs. O Golden Lion foi comprado por 690.000 libras na certeza de que, depois de ser dividido em oito apartamentos residenciais, passaria a valer cinco vezes mais. Os Murphy até propuseram comprá-lo da pubco, mas nunca obtiveram resposta. Lamont relata que é muito comum que os franqueados sejam os últimos a serem avisados de que seu negócio foi vendido e provavelmente será transformado em um prédio de apartamentos, um clube, um supermercado, uma igreja, tudo isso junto ou simplesmente derrubado. Se fossem avisados, muitos teriam a chance de fazer uma contraproposta. Mas há também o risco, que os incorporadores tentam evitar, de que eles usem a informação para entrar, por exemplo, com pedido de tombamento, o que inviabilizaria o empreendimento imobiliário. Muitos empresários especializam-se em comprar pubs para transformá-los em algo mais lucrativo justamente porque estão sendo criados cada vez mais entraves para salvá-los e é preciso conhecer os truques para burlar a burocracia.

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Assim como há uma indústria de extermínio de pubs, surgiu também uma indústria de salvamento de pubs. Os Murphy contrataram uma especialista no assunto, Dale Ingram. Ela conta na reportagem que a cada seis pubs que um incorporador compra, “um vai explodir na sua cara; é como uma roleta russa”. Ou seja, às vezes, a campanha para salvar um pub (por meio de ações judiciais, tombamentos, abaixo-assinados e lobby junto a políticos) dá certo e o incorporador sai no prejuízo. Ou quase. No caso do Golden Lion, os Murphy acabaram conseguindo comprá-lo – pelo dobro do preço pago pelo incorporador.

Lamont descreve em detalhes o interior do Golden Lion, suas animadas noites de sábado e, principalmente, toda a batalha dos Murphy (o repórter teve acesso inclusive a trocas de email do incorporador com sua equipe). Há muito de nostalgia e algo de moral anticapitalista nessa história. Para os apreciadores de cerveja, fica a vontade de estar em Londres para poder encostar num balcão e pedir uma real ale.

@DiogoSchelp

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