Equador veta petróleo na Amazônia e fortalece candidato millennial
País foi às urnas em meio à pior onda de violência da história

Sob patrulha das Forças Armadas e em estado de exceção, o Equador foi às urnas no último domingo (20) para eleger seu novo presidente, juntamente com 137 deputados federais e provinciais. A disputa será decidida em segundo turno marcado para o dia 15 de outubro, já que a advogada esquerdista Luisa González, 46, do Movimieto Revolución, teve 33% dos votos, abaixo do necessário para levar vencer o pleito.
Afilhada política do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017), Luisa enfrentará o empresário de direita Daniel Noboa, 36, do Acción Democrática Nacional, que surpreendeu a todos, ficando com 24%.
“É a primeira vez na história do Equador que uma mulher consegue uma porcentagem tão alta no primeiro turno”, afirmou Luisa, após a apuração.
Em terceiro, o jornalista Christian Zurita (16%) substituiu Fernando Villavicencio, assassinado a tiros no dia 9 de agosto, seguido pelo ex-franco atirador Jan Topic (14%), o centrista Otto Sonnenholzne (7%) e o líder indígena Yaku Pérez (3%).
Os equatorianos participaram ainda de um plebiscito inédito, que decidiu pelo veto à exploração de petróleo no Parque Nacional Yasuní, na Amazônia, um dos pontos de maior biodiversidade do planeta e lar das últimas comunidades indígenas isoladas do país.
Programada para acontecer somente em 2025, a eleição marca mais um capítulo da crise que se abate sobre Quito há mais de uma década. Líder da esquerda, Rafael Correa hoje vive em autoexílio na Bélgica, após ser condenado por corrupção.
Seu sucessor, Lenín Moreno, precisou recorrer a um empréstimo do Fundo Monetário Internacional para sanar o déficit orçamentário.
Em 2019, quando o país entrou em convulsão após o corte de subsídios que mantinham os combustíveis artificialmente baratos, Moreno chegou a transferir a sede do governo para Guayaquil, segunda cidade do país.
Eleito em 2021 com a promessa de modernizar o Equador, o atual mandatário, o conservador Guillermo Lasso, também naufragou. Lasso jamais superou 20% de aprovação e, no ano passado, sofreu sua primeira tentativa de impeachment.
A crise escalou ainda mais quando a oposição o acusou de peculato durante o período em que administrou a estatal de navegação Flota Petrolera Ecuatoriana (Flopec).
Para evitar novo pedido de afastamento, Lasso recorreu a um mecanismo constitucional chamado “morte cruzada”, que dissolveu o Legislativo e antecipou as eleições.
“Depois de tantos fracassos, há uma descrença generalizada com a classe política”, diz Carlos de la Torre, diretor do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade da Flórida.
Além da instabilidade política e econômica, Lasso deixa o Palácio presidencial Carondelet sob outro fantasma, a falência da segurança pública. Até 2018, o Equador era uma das nações mais pacíficas da região, somando 5 homícidios para cada 100.000 habitantes (para efeito de comparação, no Brasil são 23).
O número saltou para 40 este ano, colocando o Equador no ranking dos mais violentos do planeta. A escalada acontece não só nas ruas, como também dentro das prisões. Os barões da cocaína assumiram o comando nas penitenciárias, realizando seguidos massacres.
Segundo a inteligência militar equatoriana, há pelo menos 26 organizações criminosas em atuação, incluindo a Los Choneros, conectada ao brutal cartel de Sinaloa, no México.
Em sua campanha, Villavicencio vinha denunciando o envolvimento dos Choneros com políticos de todas as esferas. Afirmava ainda ser alvo preferencial do cartel, agora o principal suspeito de encomendar sua morte. Até aqui, seis colombianos foram presos por envolvimento no crime.
“O Equador é hoje o principal ponto de passagem da cocaína do Peru e da Colômbia, os dois maiores produtores do mundo, rumo à Europa e os Estados Unidos”, adverte Mauricio Jaramillo, professor de relações internacionais da Universidade El Rosario, de Bogotá.
Além do curto mandato, o vencedor terá de desarmar uma série de enroscos. Com um terço das exportações relacionadas ao petróleo, o Equador registra uma década de baixo crescimento.
A volatilidade econômica e a violência fora de controle encurralaram os mais jovens, que hoje deixam o país em velocidade jamais vista.
Desde outubro, cerca de 77.000 equatorianos chegaram à fronteira entre México e Estados Unidos, oito vezes mais na comparação com 2020.