Campinas, Limeira e Niterói lideram ranking de saneamento; Recife aparece entre as últimas
Novo ranking revela que apenas 12 grandes cidades brasileiras investem o mínimo necessário para universalizar saneamento até 2033

Apesar de avanços pontuais, o Brasil ainda está longe de garantir o acesso universal ao saneamento básico, e os dados mais recentes revelam uma desigualdade profunda entre municípios.
Levantamento do Instituto Trata Brasil, feito em parceria com a consultoria GO Associados, mostra que apenas 12 das 100 cidades mais populosas do país investem acima da média considerada necessária para alcançar a universalização dos serviços de água e esgoto.
O valor de referência, segundo o estudo, é de R$ 223 por habitante por ano, montante estimado para cumprir as metas estabelecidas pelo novo Marco Legal do Saneamento, aprovado em 2020.
A legislação estabeleceu como meta a universalização do abastecimento de água potável e da coleta e tratamento de esgoto até 2033, exigindo que 99% da população tenha acesso à água e 90% a serviços de esgotamento sanitário.
Apesar da urgência, os dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), referentes a 2023, mostram que o investimento médio entre as 20 cidades mais bem colocadas no ranking foi de R$ 176,39 por habitante, cerca de 20% abaixo do ideal.
Como muitos desses municípios já contam com ampla cobertura dos serviços, essa defasagem ainda não compromete as metas. É o caso de cidades como Campinas, Limeira, Niterói e São José do Rio Preto, que lideram o ranking nacional de saneamento básico.
Em maio, reportagem de VEJA mostrou como Niterói investiu pesado no setor, o que erradicou o despejo irregular de esgoto na orla e nas lagoas da cidade. Hoje, mesmo as praias urbanizadas e voltadas para a Baía de Guanabara exibem águas translúcidas.

O contraste, no entanto, é alarmante. Entre os 20 piores colocados, o investimento médio foi de apenas R$ 78,40 por habitante, um déficit de mais de 65%. “Nesse caso, o baixo investimento indica urgência na tomada de decisão dos gestores públicos”, aponta o estudo.
Municípios como Recife, Olinda, Maceió, Manaus e São João de Meriti figuram nas últimas posições do ranking, e oito capitais aparecem entre os piores: Recife, Maceió, Manaus, São Luís, Belém, Rio Branco, Macapá e Porto Velho.
A diferença nos investimentos se reflete diretamente nos índices de cobertura. A média nacional de acesso à água entre os 100 municípios mais populosos é de 93,91%, mas dez cidades ainda não alcançaram nem 80%.
A pior situação é a de Porto Velho (RO), onde apenas 35% da população tem acesso à água potável.
O cenário é ainda mais crítico quando se trata de esgoto. A média de cobertura de esgotamento sanitário foi de 77,19%, com casos extremos como o de Santarém (PA), que tem apenas 3,77% de cobertura.
No quesito tratamento de esgoto, a média nacional é de 65,11%, mas cinco municípios tratam menos de 10% dos efluentes coletados, agravando os riscos à saúde e ao meio ambiente.
Outro indicador preocupante é o de perdas na distribuição de água. Entre os 100 maiores municípios, o índice médio de perdas é de 45,43%, quase o dobro do limite de 25% considerado aceitável.
Isso significa que quase metade da água potável produzida é desperdiçada antes de chegar às casas da população, seja por vazamentos, falhas técnicas ou ligações irregulares.
O novo Marco do Saneamento estabeleceu metas ambiciosas e criou mecanismos para atrair investimentos privados ao setor, com exigência de eficiência e resultados.
No entanto, os dados mostram que muitos municípios seguem estagnados, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, onde a infraestrutura ainda é precária e os investimentos públicos e privados permanecem abaixo do necessário.
Com o prazo de 2033 se aproximando, o estudo reforça o que especialistas já alertam há anos: sem planejamento, recursos e fiscalização eficiente, o país corre o risco de perpetuar a exclusão de milhões de brasileiros do acesso a serviços básicos de dignidade, saúde e qualidade de vida.
