A luta de Carlos Nobre para criar o ‘MIT da Amazônia’
Reconhecido mundialmente, climatologista brasileiro planeja trazer ciência de ponta para fortalecer a bioeconomia
Referência internacional quando o assunto é a Amazônia, o cientista Carlos Nobre, 72, desembarcou em Belém nesta semana para participar da primeira cúpula de chefes de Estado sobre a floresta.
Depois de acompanhar a escalada de destruição durante os anos de Jair Bolsonaro, Nobre está otimista. “Pela primeira vez, todos os chefes de Estado da região estão mobilizados para procurar saídas para a floresta”, diz. “A cúpula vai unificar esforços na direção do desmatamento zero, do combate ao crime e da bioeconomia. Nunca houve tanto esforço pela preservação, o que me deixa muito otimista.”
Nobre acompanha há décadas a situação da maior selva tropical do planeta. Há 30 anos, por exemplo, foi o primeiro cientista a advertir sobre os riscos de empurrarmos a Amazônia para uma situação de não retorno. Isto é, desmatar a floresta a ponto de alterar o clima local, tornando-o mais seco. Esse desequilíbrio terminaria por destruir a exuberante vegetação tropical. “O resultado desse processo é o que se chama de savanização”, afirma.
Nobre aproveita a Cúpula da Amazônia para pôr de pé sua empreitada mais ambiciosa. Em 2022, ele iniciou estudos para criar o Instituto de Tecnologia da Amazônia (ou AmIT, na sigla em inglês). Trata-se de uma instituição de ponta, nos moldes do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, onde o cientista fez seu doutorado. “Será uma instituição pan-amazônica, isto é, com centros no Brasil e nos demais países que partilham a floresta. E será capaz de produzir ciência de altíssima tecnologia, seguindo os padrões das melhores universidades do globo”, entusiasma-se.
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O instituto está em fase de estudos de viabilidade e pode ser iniciado já em 2024. A ideia é contar com recursos privados e de governos.
O AmIT vai se debruçar sobre cinco eixos principais, considerados como desafios da selva amazônica: florestas, paisagens alteradas ou degradadas e como restaurá-las, infraestrutura sustentável de transporte e energia, biodiversidade e manejo.
“Até o fim da década, é possível zerar o desmatamento, derrubando as emissões de dióxido de carbono no Brasil, e ainda construir uma economia capaz de gerar mais de 8 bilhões de reais em riquezas por ano”, explica.
Nobre garante que a bioeconomia, isto é, a ciência que estuda os benefícios dos produtos e elementos químicos da floresta, pode revolucionar o Brasil. “Hoje, os sistemas agroflorestais, que misturam produção agrícola e a floresta, já nos fornecem mais de 100 produtos de alto valor agregado. E esses sistemas têm uma rentabilidade por hectare dez vezes maior que a pecuária e seis vezes maior que a soja”, prossegue.
De acordo com o climatologista, a exploração da Amazônia em moldes sustentáveis é a grande chance de o Brasil se desenvolver. “Não existe nenhum país tropical que tenha desenvolvido sua bioeconomia. Essa é nossa grande oportunidade”, diz.