Ai-Da, a artista-robô, reproduzirá estilo de Dante Alighieri em poemas
A engenhoca será a primeira a usar a inteligência artificial para declamar versos baseados na obra-prima 'A Divina Comédia'
A exposição do Museu Ashmolean, em Oxford, que comemora o 700º aniversário de morte de Dante Alighieri (1265-1321), terá uma convidada no mínimo inusitada na noite de sexta-feira, 26. A artista robô Ai-Da fará história ao se tornar o primeiro robô que vai declamar, publicamente, poesias geradas por seus algoritmos de inteligência artificial. A obra-prima do escritor, A Divina Comédia, inspirou diversos artistas, de William Blake a CS Lewis, mas é nas mãos modernas da engenhoca criada por Aidan Meller que o poema épico ganhará uma resposta “reativa”.
Para emular a poética de Dante, Ai-Da recebeu as três partes completas do livro para ler, na tradução para o inglês de JG Nichols. Usando seus algoritmos e baseando-se em seu próprio banco de dados de palavras e de análise de padrões de fala, a robô produziu um trabalho autoral. Ela não será a primeira inteligência artificial a escrever poesia, mas a primeira que irá declamá-la como um humano faria normalmente. “Seria preciso agulha e linha / Para a finalização do quadro. / Para ver as pobres criaturas que estavam na miséria, / De um falcão, olhos costurados.”, diz um trecho do poema.
De acordo com Meller – que, além de criador da máquina, é especialista em arte -, as palavras e a estrutura das frases foram todas geradas com base em um modelo de linguagem de inteligência artificial próprio de Ai-Da. “Ela pode nos dar 20 000 palavras em 10 segundos, e se precisarmos fazer com que ela diga algo curto e rápido, conseguimos selecionar a partir do que ela já fez. Mas não somos nós escrevendo”, disse em entrevista ao jornal inglês The Guardian. Apesar da inovação tecnológica no campo das artes, ele também descreve como “profundamente perturbadora” a forma com que os modelos de linguagem têm evoluído – mesmo que, no caso da artista- robô, ela não represente competição para os poetas de carne e osso. “Estamos indo muito rapidamente ao ponto em que eles serão completamente indistinguíveis do texto humano e, para todos nós que escrevemos, isso é profundamente preocupante.”
Ai-Da — nomeada em homenagem a Ada Lovelace, primeira programadora do século XIX — foi construída ao longo de dois anos por uma equipe multidisciplinar, que envolveu psicólogos, programadores, roboticistas e especialistas em arte. Concluída em 2019, ela já participou de exposições individuais em Oxford e no Design Museum de Londres, além de já ter apresentado um TEDx. A robô é constituída de uma pele de silicone, cabelo, dentes e gengivas impressas em 3D, e câmeras oculares integradas na região dos olhos. Apesar de possuir pernas, ela não consegue andar, apenas seus braços, tronco e cabeça se movem livremente.
Além da apresentação de seus poemas baseados na obra de Dante, a exposição do Museu Ashmolean contará com outras contribuições da robô artista. A principal delas é a obra Eyes Wide Shut, uma resposta à detenção que Ai-Da sofreu no Egito no mês passado – quando as autoridades locais a identificaram, de forma equivocada, como um aparato de espionagem graças às suas câmeras nos olhos.