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#9 O BEM-ESTAR SOCIAL: O desafio do século

O envelhecimento da população e os fluxos migratórios ameaçam um belo achado: as nações que dão ampla proteção a seus cidadãos

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 set 2018, 07h00 - Publicado em 21 set 2018, 07h00
MAL-ESTAR - Com as pessoas cada vez mais longevas, até na Suécia já é difícil manter os níveis de qualidade de vida (Gilberto Tadday/.)

As origens do estado de bem-estar social remontam a séculos, mas seu impulso decisivo aconteceu nos países europeus depois da II Guerra Mundial: governos de direita e de esquerda passaram a adotar uma política de proteção ampla de seus cidadãos — e, nesse novo cenário, a Suécia tornou-se um caso modelar. Hoje, com índice notável de desenvolvimento humano, a Suécia desconhece a pobreza, tem salário médio de 14 000 reais, expectativa de vida de 84 anos no caso das mulheres. Mais: 83% dos adultos concluíram o ensino médio, a maioria em escolas públicas, e a taxa de homicídios é de dar inveja a qualquer brasileiro — o país nórdico leva um ano para matar o mesmo número de cidadãos que a Bahia, apenas a Bahia, mata em seis dias.

(VEJA/VEJA)

Apesar de tudo isso, o século XXI começa a pôr em xeque o Estado de bem-estar social mesmo em casos tão bem-sucedidos como o da Suécia. Motivo: o governo de Estocolmo está enfrentando dificuldades para manter os níveis de qualidade de vida devido ao envelhecimento da população e ao acolhimento de imigrantes, situações que afligem outras nações europeias e até mesmo o Brasil.

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Enquanto a Europa do pós-guerra fortalecia as bases do Estado de bem-estar social, na mesma época o Brasil movia-se num sentido semelhante, com a ampliação dos direitos trabalhistas e da cobertura previdenciária. No entanto, o Brasil nunca conseguiu derrotar a miséria. Em 2002, ano da primeira eleição do presidente Lula, 53 milhões de brasileiros viviam abaixo da linha de pobreza. Do total, 23 milhões não tinham recursos nem mesmo para comer. Depois de uma melhora nos anos do governo do petista, a situação voltou a piorar e, atualmente, 52 milhões de brasileiros vivem abaixo da linha de pobreza, segundo o IBGE. Uma das causas desse problema continua sendo a aplicação ineficiente do dinheiro arrecadado dos contribuintes. Gasta-se muito com quem menos precisa — e vice-versa.

“A gente tem de fazer uma opção pelos mais pobres. O Brasil, nos últimos trinta anos, jogou dinheiro de helicóptero”, diz o ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Marcelo Neri, especialista em desigualdade social. Neri critica especialmente as despesas com aposentadorias e pensões. Nos próximos cinquenta anos, calcula, a população brasileira idosa crescerá cinco vezes mais do que a japonesa. O custo financeiro do envelhecimento populacional é pesado até para a Suécia, cuja população com mais de 65 anos dobrou desde 1970.

Autor do livro Desmascarando a Utopia: Expondo o Mito do Socialismo Nórdico (em tradução livre, 2016), Nima Sanandaji contou a VEJA como a vida mudou em seu país: “Os aposentados suecos não estão morrendo de fome, mas não têm condições de comprar uma casa e alguns vivem com uma alimentação básica, comendo apenas macarrão”. A Suécia também lida com o desafio da imigração. De 2015 para cá, cerca de 220 000 pessoas solicitaram asilo no país, o que significa mais gente dependendo da ajuda do Estado para sobreviver e conseguir um emprego.

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O movimento gerado pelas migrações é tema da Agenda 2030, pacto assinado pelos 193 Estados-membros da ONU que tem a ambiciosa meta de erradicar a fome e a pobreza extrema no mundo nos próximos doze anos. Uma das propostas é facilitar a migração de forma ordenada, medida que enfrenta resistência até em países historicamente simpáticos à ideia. “Esse tipo de migração, que vemos como algo temporário, pode se tornar estrutural, e não apenas por motivos políticos. Podemos encontrar lugares no mundo que terão problemas de acesso à alimentação, à água e a tudo o que está em análise de mudança climática”, diz George Molina, economista-chefe para a América Latina e o Caribe do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

A migração e o envelhecimento são os principais desafios a ser superados. A pedido de VEJA, o Frederick S. Pardee Center for International Futures, um centro americano de estudos para o futuro, preparou uma projeção sobre a idade da população nos próximos cinquenta anos. Os dados são taxativos: a população mundial tende a envelhecer — e, no caso do Brasil, em maior velocidade (veja o gráfico ao lado). Sergei Suarez, doutor em economia e ex-presidente do Ipea, adverte: “Se não houver reforma, em 2068 os gastos do governo serão exclusivos aos aposentados. Ou a gente reforma, ou o futuro do Brasil será o de mal-estar total”.

Publicado em VEJA de 26 de setembro de 2018, edição nº 2601

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