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#7 A DESIGUALDADE: Fosso perigoso

Por que combater a disparidade social é fundamental para manter o equilíbrio, sem riscos totalitários, de qualquer sociedade

Por Roberta Paduan
Atualizado em 21 set 2018, 07h00 - Publicado em 21 set 2018, 07h00
Abismo – A foto, de 2005, é um ícone das diferenças econômicas ao mostrar a favela e um prédio de luxo em São Paulo (Nilton Fukuda/Estadão Conteúdo)

O abismo econômico entre ricos e pobres foi tratado por economistas como tema marginal ao longo dos últimos cinquenta anos. Isso se deve, entre outros motivos, ao fato de que, durante a Guerra Fria, qualquer debate sobre a distribuição de renda acabava fatalmente contaminado pela polarização ideológica do período. Assim, muitos acadêmicos preferiram direcionar esforços para estudar os meandros do crescimento econômico, quase sempre baseados no raciocínio de que é preciso primeiro crescer para depois dividir o bolo, máxima que se popularizou na boca do então ministro da Fazenda Delfim Netto, ainda durante o regime militar.

Esse entendimento começou a mudar nos anos 2000, na Europa. Governos passaram a se dar conta de que, apesar de seus esforços em extinguir a pobreza e gerar emprego, a disparidade crescente entre o topo e a base da pirâmide originava novos problemas, aí incluídos a xenofobia, o terrorismo e outros males. Em 2013, o economista francês Thomas Piketty tornou-se uma celebridade ao lançar o livro O Capital no Século XXI, um inventário da desigualdade no mundo desde a Revolução Industrial até os tempos atuais. Algumas constatações da Pesquisa Desigualdade Mundial 2018, coordenada por Piketty: a fatia da renda nacional que ficava nas mãos dos 10% mais ricos dos Estados Unidos era de 30% em 1980 e passou a 40% em 2014; na Rússia, a concentração de riqueza subiu de 21% para 46% entre 1980 e 2016; e a China, embora sendo o país mais bem-sucedido do mundo em reduzir a pobreza, não conseguiu desempenho igual no que se refere à desigualdade. Resultado: nos anos 1970, os 10% mais ricos detinham cerca de 27% da riqueza da China. Em 2015, abocanhavam 42% dos ganhos totais do país. No Brasil, mundialmente notório pelo seu nível obsceno de desigualdade, essa proporção é ainda maior: quase 30% de toda a renda fica nas mãos de apenas 1% da população.

O fracasso em distribuir a riqueza: no Brasil, quase 30% de toda a renda fica nas mãos de apenas 1% da população

Em seus estudos, Piketty tentou explicar a força inexorável da desigualdade mesmo em tempos de bolo crescendo: a renda dos mais ricos, diz ele, quase sempre aplicada em investimentos financeiros, tende a crescer em ritmo mais acelerado que a renda de alguém que não possui nada além dos ganhos com seu trabalho. Em entrevista a VEJA, em 2014, dois anos antes da vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, ele esclareceu por que o problema é preocupante. “Precisamos mostrar que existem maneiras de repartir os ganhos da globalização de forma mais equilibrada. Para que o processo virtuoso do capitalismo continue, é necessário que todos se beneficiem; caso contrário, surgem tentações como as que assombram a Europa de hoje. Quando não conseguimos resolver nossos problemas, procuramos um culpado, que pode ser o imigrante, a Alemanha, a China, o Brasil.”

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A desigualdade não mina as democracias apenas porque potencializa a violência, a disputa entre grupos ou a eclosão de conflitos sociais. O fracasso em distribuir a riqueza de forma menos desigual ameaça os regimes livres, sobretudo porque abre uma perigosa fenda por onde se esgueiram oportunistas de todos os matizes ideológicos — com seus alvos de ocasião e uma solução simples para cada problema complexo.

Leia o artigo.

Publicado em VEJA de 26 de setembro de 2018, edição nº 2601

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