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“O que houve com o Uber ontem foi massacre, não debate”, diz único vereador a votar em favor do app

Para José Police Neto, que apoiou a legalidade do Uber na audiência que aconteceu ontem em São Paulo, só um maior debate pela sociedade fará com que o aplicativo seja bem entendido e aceito

Por Da Redação
1 jul 2015, 18h48

Em audiência que aconteceu na terça-feira (30) na Câmara Municipal de São Paulo, o projeto que bane o aplicativo Uber na cidade foi aprovado por 48 vereadores. Apenas um, José Police Neto (PSD), posicionou-se contra a proibição da tecnologia.

O site de VEJA conversou com o vereador sobre o que o fez se posicionar contra a maioria e sobre qual será o futuro do Uber no Brasil.

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Eles têm medo do Uber

O que fez com que o senhor se posicionasse contra a maioria e a favor do Uber? Há quase dez anos eu discuto os desafios de mobilidade nas grandes cidades e quais seriam as novas fórmulas de se circular. Eu fui o autor da emenda sobre o compartilhamento de carros que faz parte do Plano Diretor da cidade, aprovado no ano passado. Esse documento definiu as regras para o compartilhamento, admitindo, inclusive, remuneração. Ou seja, para mim, o Uber já é legal. O artigo 254 do Plano Diretor não só diz que o compartilhamento de carros deve existir, mas também que deve ser incentivado.

Se já há a regulamentação necessária, porque existe atrito entre taxistas e a empresa de tecnologia? O parlamento definiu a diretriz, mas o executivo, e me refiro diretamente ao prefeito Fernando Haddad e ao Secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, falhou em não regularizá-la. Faltou à administração dizer como esse compartilhamento seria feito. Se só com o carro pessoal, ou também em serviços com motorista. Haveria um número mínimo de viagens compartilhadas? Como seria a remuneração? O plano diretor estabeleceu o caminho, mas a prefeitura não deu orientações claras, e foi essa ausência que gerou a disputa entre taxistas e a tecnologia. Na prática, porém, é como se quiséssemos banir o e-mail para trazer os correios de volta. Os carteiros apoiariam a causa.

Em audiência que aconteceu na Câmara dos Deputados, em Brasília, há duas semanas, houve ameaças, inclusive de um taxista que disse que iria ‘ter morte’. Essa pressão pode ter influenciado a votação? Eu enfrento ameaças, que são ditas no calor do debate, ou mesmo nas redes sociais, desde que me posicionei reconhecendo a legalidade do compartilhamento de carros, há cinco meses. Mas não podemos ser constrangidos, porque o debate é necessário. Eu posso ser convencido de que o compartilhamento de carros é ruim e que o corporativismo do taxi deve sustentar a nossa economia – apesar de achar isso bastante difícil -, mas o importante é que haja uma conversa factível, e democrática, sobre o assunto.

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O resultado da votação de ontem, com 48 votos a favor e apenas um contra, foi surpreendente, principalmente quando se leva em conta que, em apenas um dia, os usuários do Uber enviaram 200 mil e-mails pedindo para que o app não fosse banido, e que o papel dos vereadores é justamente representar os cidadãos. Discutir o que beneficia o detentor de um sistema ou de outro é a forma burra de fazer politica, porque nenhum dos vereadores foi eleito para beneficiar uma corporação pública ou privada. Ou nos damos conta que estamos aqui para defender 11 milhões e meio de cidadãos, ou estamos perdidos. Ontem, optamos por defender o corporativismo, mas pode ser que daqui um tempo outros vereadores mudem de opinião.

Então o senhor acredita que essa situação pode mudar? Não tenho dúvida de que vai se reverter. Hoje mesmo a vereadora Sandra Tadeu (DEM) contou que, ao chegar em casa, levou bronca dos seus dois filhos, que discordavam de seu voto. Esse debate geracional é importante, entre quem nasceu analógico e quem nasceu digital. Alguns dos vereadores já estão envergonhados. O André Matarazzo (PSDB) declarou hoje que não votou contra o aplicativo, mas sim por uma regulamentação. É, na real, o efeito avestruz: ele já está colocando a cabeça embaixo da terra. Tudo desculpa. Não adianta esse efeito vir no dia seguinte, tinha que ter aparecido ontem. Precisamos entender que estamos banindo todo um sistema, não se trata só do Uber, mas sim de tecnologias que aproximam pessoas e criam outras formas de transporte. Isso não faz sentido. Devemos buscar uma forma inteligente de contribuir com a cidade, reduzir carros em circulação e melhorar o ambiente urbano.

Mas o que causará essa mudança? O ponto principal aqui é o tamanho do debate que será promovido. As pessoas estão dispostas a ouvir e falar? É importante que a discussão tome força na sociedade, porque aqui só chega a nós se a população exigir. O que aconteceu ontem foi um massacre, e não um debate. Ninguém estava preparado para dialogar, só queriam banir. Devemos realizar o debate para, quem sabe, haver alguma mudança de posicionamento. Para que se comece a defender a proteção do cidadão, e não do corporativismo.

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