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O futuro do YouTube

Por Leo Branco
28 ago 2009, 17h52

Nesta semana, Chad Hurley, de 32 anos, um dos criadores do YouTube, esteve no Brasil e falou a VEJA sobre o futuro do maior site de vídeos da web, criado em 2005. Seu desafio consiste em manter – e fazer crescer – uma plataforma eletrônica que já atingiu proporções gigantescas. A cada dia, o YouTube recebe 365 000 novos filmes. São vinte horas de imagens por minuto. E nenhum deles é jogado fora. Por isso, os arquivos da empresa armazenam mais de 500 terabytes de imagens, o equivalente a 50 vezes o conteúdo da biblioteca do Congresso americano, a maior do planeta. Em um mês, o site recebe 400 milhões de visitantes. Um negócio desse tipo exige investimentos permanentes em infraestrutura. Em busca da sobrevivência, Chad e seu sócio, Steve Chen, venderam o YouTube para o Google em 2006, por 1,65 bilhão de dólares. À época, cada um embolsou mais de 300 milhões de dólares � o restante foi dividido entre outros investidores. Ambos poderiam se aposentar, mas continuaram à frente do projeto. “Na verdade, minha rotina nem mudou muito. Continuo trabalhando bastante. Ainda temos muitas coisas para descobrir”, diz Hurley. Pai de dois filhos com idades de 4 e 6 anos, Chad afirma que controla de perto o que eles veem na internet. “Mas essa é uma tarefa difícil. Hoje, as crianças entram na web usando os celulares que carregam em seus bolsos.” A seguir, a entrevista que ele concedeu a VEJA.

Chad Hurley (AE)Como surgiu a ideia de criar o YouTube?

Steve Chen, que fundou o YouTube comigo, estava numa festa. Fez vários vídeos com sua câmera e queria mandá-los para seus amigos. Mas era difícil fazer isso. Eu morava na Califórnia e também queria mandar alguns filmes para os meus pais, na Pensilvânia, do outro lado do país. O problema era o mesmo. Foi essa necessidade que nos fez criar o YouTube. Na verdade, foi dessa forma que percebemos a oportunidade de construir uma ferramenta eletrônica, um espaço onde as pessoas pudessem compartilhar vídeos. Acho que, como dizem, estávamos no lugar certo, na hora certa.

Qual a razão do sucesso do site?

Acredito que tomamos algumas decisões que fizeram a diferença. Desde o início, aceitamos todo o tipo de conteúdo. Não havia restrição. Tudo era aberto. Isso funcionou. As pessoas entravam no site e não precisavam responder a questionários chatos. Usamos uma tecnologia, chamada Flash, que reduz a qualidade dos vídeos, mas, em contrapartida, permite que eles sejam baixados rapidamente na internet. Isso reduziu a longa espera pelos downloads. Outro ponto positivo: nenhum usuário precisava se preocupar com tecnicidades, como o formato dos vídeos. A simplicidade era a chave de tudo. Conseguimos ainda montar um grande ecossistema, com comunidades que trocavam imagens. Com a formação e expansão desses grupos, nos distanciamos da concorrência.

Os problemas com a invasão de privacidade colocam em risco o futuro do YouTube?

Acho que não. Esse é um dilema da internet. Não se restringe ao YouTube. E, no geral, a web é muito positiva. Hoje, as pessoas têm acesso a um número ilimitado de informações. Considero os problemas que surgem eventualmente como casos isolados. No YouTube, também tomamos alguns cuidados com isso. As comunidades podem marcar um vídeo com conteúdo considerado inadequado. Isso tem funcionado. Temos a maior plataforma de vídeos do mundo e, provavelmente, a mais limpa de todas.

E os problemas com direitos autorais?

Temos várias ferramentas e pessoas para detectar problemas com direitos autorais no YouTube. Mas acredito que muitas vezes esse tema é visto sob um ângulo equivocado. Em vez de encarar como um problema é possível considerar o uso de alguns conteúdos como uma oportunidade. Por exemplo: o fã de um grupo musical faz filmes numa viagem ao Brasil. Ele usa as músicas dessa banda como fundo musical das imagens. Depois, coloca o vídeo no YouTube. Isso é um problema? Não. A indústria fonográfica não precisa restringir o uso desse material, mas, sim, abraçar essa divulgação. Ela cria novas oportunidades de negócios.

Sites como Facebook e Twitter são fenômenos de audiência, mas não têm uma fonte eficaz de receita. Esse é um problema do YouTube?

Não. Estamos ganhando dinheiro e vamos ganhar mais no futuro. Criamos um espaço onde as pessoas podem interagir entre elas e também com as marcas das empresas. A TV, pelo menos por enquanto, não permite isso. Os anunciantes estão apenas começando a perceber a eficiência do nosso modelo de negócios. Não posso revelar números, mas, apesar da crise mundial, o último trimestre foi o melhor da história do YouTube.

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Quanto custa manter o YouTube?

Custa… [ele olha para os assessores] Calma, é brincadeira. Não posso revelar esse número. Mas posso dizer que há muita especulação sobre esses dados. Todas são exageradas. Além do mais, o mercado de anunciantes cresce, enquanto caem os gastos com a tecnologia usada no processamento e armazenamento das informações.

A euforia em torno de alguns sites, como redes sociais, tende a diminuir. Com o passar do tempo, eles se tornam chatos. O YouTube corre esse risco?

Acho que isso não acontece com o consumo de vídeos. As pessoas sempre querem ver uma imagem interessante e ouvir boas histórias. Em redes como o Twitter ou o Facebook a atividade é diferente. Ela depende muito mais da participação ativa e permanente das pessoas. O que cansa nesses sites é ter de tomar parte dessas interações o tempo todo. Acredito que o acesso ao conteúdo do YouTube é mais simples e fácil.

A remuneração dos autores dos vídeos de sucesso pode tornar o conteúdo do YouTube mais profissional?

Sim. Mas, mesmo sem esse estímulo, percebemos que essa é uma tendência. Antes de decidir pelo pagamento aos autores, também hesitamos um pouco, refletindo se isso mudaria a motivação das pessoas em enviar seus filmes ao site. Concluímos que, dividindo a receita da publicidade, estaríamos estimulando as pessoas a produzir mais. Esse sistema já funciona hoje com empresas [com vídeos que têm direitos autorais associados]. Agora, será aberto a todos. Além dos 15 minutos de fama, as pessoas poderão ganhar algum dinheiro.

Qual o futuro do YouTube?

O YouTube é uma plataforma tecnológica feita para a exposição de vídeos. Todos podem usá-la. Agora, boa parte do nosso trabalho é fazer com que possa ser acessada com eficiência por qualquer aparelho: um computador, uma TV ou um celular. Como as pessoas usam cada vez mais os telefones móveis para entrar na internet, estamos aprimorando nossa tecnologia para acessos por redes sem fio. Mas as melhores ferramentas que podemos desenvolver são aquelas que descobrem quais tipos de vídeo uma determinada pessoa está buscando quando entra no site. Temos de ir além dos mecanismos tradicionais de busca e descobrir com crescente precisão o que os usuários querem. É isso que nos permite fazer sugestões pertinentes de vídeo. Já temos esse tipo de ferramenta, mas vamos avançar nessa área. De um modo geral, o YouTube precisa se tornar mais inteligente. Esse é um problema � e um desafio � comum a qualquer site que lide com uma grande quantidade de dados.

E como se faz isso?

Temos de descobrir como as pessoas encontram as informações que querem dentro do site. Precisamos ainda organizar o conteúdo por tipos distintos, permitindo que alguém navegue, por exemplo, apenas em vídeos educacionais. Também estamos tentando integrar mais o YouTube a redes sociais como o Twitter e o Facebook. Queremos que os participantes dessas redes saibam o que os seus amigos estão vendo no YouTube. Em breve, esse serviço deve estar disponível no Orkut. Outra meta é aprimorar o fluxo de informações dentro do site. As pessoas vão poder indicar para as outras, por meio de notificações [os feeds], quando assistem a um vídeo ou assinam um novo canal de conteúdo.

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O número de vídeos em alta definição (HD, em inglês) cresce no YouTube?

Sim. Já temos uma das maiores videotecas em alta definição on-line do planeta. A quantidade desses filmes no site aumentou 250% nos últimos meses. Há produções de todos os tipos. Tanto as amadoras quanto as mais bem acabadas. Isso é resultado da popularização das câmeras digitais em HD. Recentemente, também introduzimos os vídeos em três dimensões (3D). Vamos acompanhar de perto a transição para essa tecnologia.

O Google é um bom patrão?

Não é nada mal, poderia ser pior. Na verdade, tem sido ótimo. Nós temos a mesma cultura de trabalho. Talvez tenhamos tolhido um pouco o desenvolvimento de novas ferramentas no site, mas isso não é culpa da nossa parceria. É resultado do nosso próprio crescimento. Agora, algumas decisões também demoram mais. Mas, sem o Google, não teríamos tantos recursos. Assumimos uma escala realmente global. E, agora, podemos focar naquilo que faz a diferença a longo prazo. Pensamos, por exemplo, na arquitetura de visualização e armazenamento dos arquivos.

Chad Huerley (AE)

O que a internet tem hoje de mais interessante?

A explosão das redes sociais realmente alterou o eixo da comunicação entre as pessoas. Mas eu não vejo grandes inovações. E isso me surpreende. As ferramentas existem, mas o uso não tem sido tão interessante. Não é porque as pessoas têm um pincel na mão que se transformam em um Picasso.

O YouTube foi vendido por 1,6 bilhão de dólares. Seu quinhão foi de 345 milhões de dólares. Sua vida mudou muito?

Não muito. Ainda trabalho bastante. Com esse dinheiro deveria estar no Rio de Janeiro me divertindo [a entrevista foi concedida em São Paulo]. Claro que nunca imaginei que ganharia tanto com o site. É possível almejar um grande futuro para o que criamos, mas não dá para esperar por isso. Mas ainda estamos no começo. Criamos um novo mercado de vídeos on-line. Todos querem respostas e soluções para alguns problemas e nós também. Isso é interessante.

Qual foi exatamente a sua participação na criação do YouTube?

Minha formação é em computação e design. Basicamente, pensei no nome, na marca, no logotipo, na interface e no modelo de compartilhamento de vídeos. Steve Chen era o engenheiro. Ele fez as coisas funcionarem.

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O YouTube torna definitivamente acessíveis a todos os 15 minutos de fama de que falou Andy Warhol?

Ele ajuda. Mas apenas uma pequena parte das pessoas tem aspirações artísticas. O que acho mais importante no site é que, agora, as pessoas que querem mostrar algo para o mundo podem fazê-lo diretamente. Elas têm acesso imediato à audiência. O YouTube é uma grande plataforma tecnológica para a distribuição global dessas iniciativas individuais. Em parte, nosso grande objetivo é nos tornarmos parte da cultura popular. Isso talvez tenha alguma relação com meus estudos sobre arte e design e a perspectiva de negócios que herdei a partir daí.

Qual o seu vídeo predileto no YouTube?

Difícil escolher um. Mas o que mais me espanta é o profundo efeito que alguns deles têm na sociedade.

Você tem dois filhos, controla o que eles assistem no YouTube?

Claro. Assim como na televisão, ninguém deixa as crianças assistirem o que querem na internet. A melhor coisa a fazer é ensinar os filhos a acessar a rede de forma responsável. Mesmo porque não é possível controlar tudo. Hoje, as crianças entram na web usando celulares que estão em seus bolsos.

Por falar em televisão, o YouTube vai matá-la?

Não. A experiência de reunir a família e os amigos para assistir à televisão vai sobreviver. O aparelho continuará no centro da sala das casas. O que mudará é a maneira como acessaremos o conteúdo. Nos próximos cinco ou dez anos, teremos uma experiência mais interativa e sob demanda. Vamos ter recursos novos para escolher o que assistir. A transmissão linear de imagens como conhecemos hoje é que vai acabar. Isso não que dizer que os programas desaparecerão. As pessoas irão atrás das histórias interessantes. Mas o conteúdo da televisão será mais parecido com o próprio telespectador, mais customizado.

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