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O brasileiro por trás do exame de sangue de 15 centavos

Método permite usar apenas uma gota de sangue ou urina para obter resultados confiáveis, similar aos exames de grandes laboratórios

Por Claudia Tozetto
24 set 2014, 15h55

Selo PJI 2014
Selo PJI 2014 (VEJA)

Nos últimos meses, o paranaense Wendell Coltro, de 34 anos, professor de química da Universidade Federal de Goiás (UFG), vem dividindo seu tempo entre o laboratório e reuniões com empresários. Duas grandes companhias brasileiras da área de saúde negociam o licenciamento de um novo método de análises clínicas desenvolvido por Coltro e sua equipe para medir níveis de diabetes, triglicérides, colesterol, entre outros, a partir de uma amostra de sangue ou urina. A principal diferença é o custo: enquanto pacientes chegam a pagar até 80 reais para fazer esses exames na rede particular, Coltro promete resultados confiáveis a um custo de apenas 15 centavos.

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O professor de química iniciou o projeto em 2010, quando o Brasil enfrentava uma das maiores epidemias de dengue da história. Coltro começou a pensar em uma forma de usar os conhecimentos do doutorado em química analítica, concluído na Universidade de São Paulo (USP), para criar um novo método de baixo custo para fazer exames de análises clínicas. “O atendimento à saúde é precário no Brasil e as pessoas morrem sem ter um diagnóstico. Com criatividade, criamos um método barato que pode ser usado para servir melhor a população”, diz Coltro, em entrevista ao site de VEJA.

O pesquisador decidiu usar uma impressora a laser para imprimir em uma transparência um desenho que coloca em contato uma amostra de sangue com substâncias que identificam se a dengue está presente no organismo. “Quando o sangue coletado é colocado na superfície, há uma variação na cor se for identificada a presença de anticorpos daquela doença”, explica. O método foi testado em hospitais de Goiás e conseguiu apontar, com eficácia, se um paciente estava ou não infectado.

Com o domínio da técnica, Coltro pesquisou como como usar um método semelhante em outros exames de análises clínicas que não dependesse das transparências, que estavam em falta nas lojas. A solução foi substituir o material por um papel com microfuros, semelhante a um filtro de papel para café. Ele é mergulhado em parafina líquida, que forma uma fina camada em segundos. Duas folhas são sobrepostas e, com um carimbo aquecido, ele conseguiu transferir a parafina para a segunda folha. A imagem formada possui um círculo central, onde a amostra de sangue ou urina é depositada. A amostra passa por “trilhas” até chegar aos repositórios nas extremidades. “São apenas dois segundos para fabricar cada dispositivo”, diz Coltro.

A técnica permite fazer até oito exames de análises clínicas ao mesmo tempo, entre eles colesterol, triglicérides, ácido úrico e glicose. Depois de depositar uma gota de sangue ou urina no centro do desenho “impresso” em parafina, o resultado fica pronto em cerca de 15 minutos. Para fazer uma análise mais aprofundada, é possível fotografar os resultados com o smartphone e compará-lo com uma escala de cores. No caso do exame de glicose, um resultado amarelo ou incolor indica hipoglicemia. Se a cor se aproximar do marrom, é diagnosticado que o paciente tem diabetes.

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A simplicidade e o custo dos exames tornam o projeto promissor, principalmente para atender regiões afastadas, onde não há postos de saúde e hospitais. Segundo Coltro, o método torna os exames mais confiáveis – uma vez que as amostras de sangue não precisam ser transportadas por longas distâncias – e ficam prontos mais rápido. “O próprio paciente poderia receber os dispositivos, pingar uma gota do sangue ou urina e enviar uma foto do resultado para o laboratório pelo celular”, diz Coltro. Além disso, apenas uma gota de sangue ou urina é necessária. “O método é menos invasivo e, quando chegar ao mercado, pode permitir o monitoramento diário da saúde do paciente, ajudando na prevenção de doenças.”

O próximo desafio de Coltro é levar a ideia da universidade para o mercado. “Romper a barreira entre a universidade e as empresas ainda é muito difícil”, diz o professor. Se ele chegar a um acordo com as empresas com as quais negocia, o exame de sangue de 15 centavos deve estar, em breve, disponível em boa parte do país. No meio acadêmico, por outro lado, o projeto já rendeu ótimos resultados. Desde 2010, Coltro conseguiu 20 estudantes – entre graduação, mestrado e doutorado – para aperfeiçoar a ideia e muitos deles já ganharam bolsas para continuar a pesquisa no exterior.

Além disso, o grupo venceu a fase regional do Prêmio Finep de Inovação no ano passado, o que rendeu um prêmio de 200.000 reais. O valor está sendo investido na construção de um novo laboratório de pesquisa, com área de 150 metros quadrados. “Os pesquisadores vão trabalhar de forma mais confortável, já que o novo espaço será três vezes maior que o atual”, diz o professor. O esforço também rendeu a Coltro a indicação, pela revista Technology Review, editada pelo Massachussetts Institute of Technology (MIT), como um dos dez brasileiros mais inovadores com menos de 35 anos. “A sensação ainda é indescritível. Essa indicação coroa a harmonia que existiu desde a ideia esboçada em um rascunho até o protótipo final. Mostramos que a região Centro-Oeste também pode inovar.”

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