Maconha pode aparecer com mais frequência na rede caso seja legalizada
Americanos passaram a comprar dómínios de internet que citam a droga, na expectativa de que eles se valorizem com a legalização na Califórnia
Até agora, a maioria dos domínios com maconha foi registrado e vendido por preços baixos
Há cerca de um ano, Kevin Faler surgiu com seu esquema de ganhar dinheiro da noite para o dia com maconha. Não, ele não tem planos para vender a droga, nem mesmo se os californianos votarem a favor de se tornar o primeiro estado do país a legalizá-la inteiramente. Ele pretende vender domínios na internet em sites que levam o nome de maconha (ou marijuana, em inglês).
Faler, que já foi policial e trabalhou no departamento de narcóticos, registrou mais de mil domínios na internet relacionados a maconha, incluindo esquisitices do tipo icecreammarijuana.com (sorvetemaconha.com) e marijuanapastry.com (pastelariamaconha.com). E não é o único a bancar o futuro da droga na rede. Ele faz parte de uma porção da internet que possui domínios que usam a palavra marijuana pelos chamados “domainers” e que esperam vender e faturar com isso, apostando que mais leis indulgentes sobre a droga levem as pessoas à internet, seja à procura de sementes, cachimbos, receitas ou objetos.
Tudo isso é resultado da votação que acontece na próxima semana sobre a Proposição 19, uma eleição na Califórnia que pode legalizar até quase 30g da droga para consumo livre. Catorze estados já aprovaram a moção que legalizou o uso medicinal da droga.
“Os valores de domínio com maconha vão subir rapidamente caso a Proposição 19 seja aprovada”, afirma Faler, de 49 anos. “Espero conseguir dinheiro suficiente para comprar uma casa no Marrocos. É desse tipo de valores que estamos falando.”
Faler, que mora a cerca de 140 quilômetros ao sudeste de Los Angeles, em Menifee, Califórnia, está entrando no mercado de domínios que misturam animais de estimação e marijuana registrando domínios como potfordogs.com (maconhaparacães.com) e marijuanadogbone.com (ossodecaesmaconha.com) porque “cães também podem ter câncer”.
Enquanto ainda não é certo se os investimentos serão recompensados, comprar e vender nomes de domínios na internet pode ser um negócio bem lucrativo. A venda por 13 milhões de dólares do sex.com ainda está pendente. Em junho, o slots.com foi vendo por 5,5 milhões de dólares e o dating.com por 1,75 milhão. Uma empresa em Nova Jersey pagou mais de 1 milhão de dólares pelo marijuana.com (maconha.com) em 2004 e disse ter recusado cinco ofertas por mais de 2 milhões de dólares pelo domínio nos últimos doze meses.
Os domainers usam várias estratégias para conseguir os nomes de domínios. Enquanto Faler registra os nomes que lhe vem a cabeça no meio da noite, Jordan Zazzara, de Long Island, prefere utilizar métodos geográficos. Com a ajuda de um mapa da Califórnia, Zazzara, de 21 anos, busca nomes de domínios com alvos geográficos, registrando aqueles que combinam nomes das maiores cidades no estado com as palavras maconha, “weed”, “ganja”, “bud” e “”cannabis”- todas relacionadas com maconha.
Com apenas 7 ou 8 dólares cada um, ele registrou cem domínios indo de beverlyhillsmarijuana.com (maconhabeverlyhills.com) e modestocannabis.com. Ele pretende mantê-los, renovando o registro anualmente, pagando uma pequena taxa, até que cada um chegue a valer, pelo menos, 5 mil dólares cada, explica. “Irei segurá-los até quando precisar”, diz ele. “E quando a maconha se tornar tão aceitável quanto o álcool, por exemplo, o que certamente vai acontecer, essas coisas vão valer muito mais.”
Apesar do entusiasmo dos especuladores, se a corrida pelo ouro com os domínios com maconha vai render, dependerá em grande parte da política.
Recentemente, a Proposição 19 perdeu a liderança nas pesquisas – uma das mais recentes do Public Policy Institute of California mostrou que 49% dos perguntados são contra a medida e 44% a favor – mas ainda assim ela se favorece da maioria dos votos de jovens e dos democratas. Em outro golpe para os que apóiam a Proposição 19, o procurador-geral Eric H. Holder Jr. anunciou que mesmo sendo aprovada, órgãos federais planejam ser agressivas com as leis contra a maconha no estado.
“Decidir quanto essas coisas valem está agora nas mãos da política”, conta Michael Berkens, editor do thedomains.com, uma fonte on-line líder no negócio dos domínios.
Até agora, a maioria dos domínios com maconha foi registrado e vendido por preços baixos. O DN Journal, uma publicação on-line que acompanha a venda dos domínios, registrou apenas um domínio “pontocom” contendo a palavra “maconha” vendido este ano por pelo menos 2 mil dólares, indicando que eles ainda não valem muito.
Ainda assim, Berkens acredita que os domínios com maconha podem ser um bom investimento; ele antevê o momento político indo a favor da legalização da maconha.
“Nós somos donos do gaymarriage.com (casamentogay.com)”, conta Berkens, que também é presidente da Worldwide Media, uma empresa responsável por 75 mil domínios, sendo 57 deles relacionados à maconha. “Esse é mais um daqueles assuntos extremamente populares, que depende muito da política.”
Alguns no mercado dos domínios estão divididos, mais por motivos pessoais entre uma oportunidade de investimento altamente lucrativa e as ambiguidades morais sobre a maconha.
No final de setembro, Shane Cultra, de 41 anos, fazia lances durante um leilão on-line para comprar o domínio smokingmarijuana.com (fumandomaconha.com) quando parou no meio da ação: “Eu me perguntei, será que eu quero mesmo entrar nesse negócio?” conta Cultra, que administra uma creche em Champaign-Urbana, Illinois e passa as noites como domainer, especializado em domínios com nomes de plantas e horticultura.
“Isso aqui é uma baita oportunidade de investimento”, Cultra explica. “Em muito pouco tempo, vai ser possível comprar e vender maconha pela internet.”
Mas Cultra teme pela associação de seu nome – que é o mesmo de um tio, membro do partido Republicano da Câmara dos Deputados de Illinois – com atividades ilegais ou moralmente questionáveis. Sua única regra: ele é taxativo e completamente contra a compra de domínios que envolvam pornografia, outro ramo com alto potencial de lucro.
Se a maconha fosse legalizada nacionalmente, Cultura não hesitaria e compraria os domínios num estalar de dedos. “Mas aí quando isso acontecer, vai ser tarde demais”, conta ele. “A grande chance é agora.”