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Eles não curtem mais o Facebook

Há sinais de fadiga entre os usuários da maior rede social do planeta. Alguns até já escolheram alternativas: Instagram, WhatsApp e Tumblr

Por Rafael Sbarai
9 mar 2013, 08h25

O Facebook surpreendeu o mundo recentemente ao reconhecer que os adolescentes andam um tanto cansados de dedicar horas e horas à rede de 1 bilhão de amigos. À novidade, deve-se somar outra informação: a fatiga não é exclusividade desse público. Medições independentes mostram um ligeiro afastamento também entre a rede e adultos, que tanto eliminam seus perfis quanto reduzem as visitas ao site. Segundo o site SocialBakers, que acompanha o tráfego na rede social, os Estados Unidos acumulam perda de 2,9 milhões de usuários nos últimos três meses, emagrecimento de 1,8% no total de 163 milhões de cadastrados no país. O mesmo fenômeno já foi registrado na Grã-Bretanha, França, Alemanha e Canadá, os chamados mercados “maduros”, onde a rede pode ter atingido seu público máximo. Será que a paixão pela rede arrefeceu?

No caso dos jovens, a hipótese mais provável, levantada pelo próprio Facebook, é de migração. Munidos de smartphones e tablets, esse público visceralmente ligado à ferramentas virtuais estaria explorando outras fronteiras, recorrendo inclusive a produtos que originalmente não foram concebidos como rede social. É o caso do serviço de imagens Instagram e do Tumblr, híbrido de rede social e plataforma de blogs. Dados da empresa de pesquisa de mercado comScore, reforçam essa ideia: eles revelam que quatro em cada dez pessoas que acessaram os dois serviços em janeiro tinham entre 15 e 24 anos de idade (no Facebook a participação dessa faixa etária cai para 27%). É o que costuma acontecer: o público jovem experimenta os produtos mais novos e aponta tendências. É também um indício da migração.

Julia Baldini, estudante de 18 anos
Julia Baldini, estudante de 18 anos (VEJA)

“Tenho dois novos vícios: postar imagens no Instagram e conversar com familiares, amigos do cursinho e do colégio no WhatsApp.”

Julia Baldini, de 18 anos, estudante

Outro indício vem da experiência relatada pelo empreendedor americano Adam Ludwin, um dos investidores do Vine, aplicativo de vídeo do Twitter. Recentemente, ele lançou o Albumatic, serviço social em formato de álbum. Antes de divulgar o produto ao público em geral, ele convidou vinte pessoas para testar a ferramenta. Todas tinham menos de 20 anos. A grande maioria rejeitou o serviço porque ele oferece autenticação a partir do cadastro no Facebook. “Aqueles jovens explicaram que não queriam compartilhar a informação do acesso ao novo produto com seus contatos do Facebook. Tive de criar uma opção tradicional de login e senha”, diz Ludwin ao site de VEJA. O que os “testadores” não queriam avisar ao mundo é que havia um novo serviço na praça. É, em resumo, o contrário da missão à qual o Facebook se propõe: contar a todos o que cada um está fazendo. “Ser diferente dos outros é uma necessidade comum e antiga do jovem. Ao perceber que todos estão no Facebook, ele busca por novos espaços digitais”, diz Raquel Recuero, professora e pesquisadora de redes sociais da Universidade Católica de Pelotas.

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Usuários dão ainda outras explicações. “O excesso de propaganda e a lentidão do aplicativo para smartphone (que usa o sistema operacional Android) prejudicam minha relação com a rede”, diz a estudante Julia Baldini, de 18 anos. A mobilidade tem sido de fato um desafio para o Facebook. Há pouco mais de um ano, percebeu-se que os usuários migravam rapidamente para smartphones, e a empresa parece ter demorado um pouco para preparar seus aplicativos para o uso constante nos aparelhinhos (a receita com publicidade da empresa chegou até a desacelerar). Mark Zuckerberg, criador e CEO do Facebook, colocou então a mobilidade como prioridade da plataforma. Prova disso é que o novo feed de notícias da rede, apresentado ao mundo nesta quinta-feira, foi desenvolvido a partir de características dos celulares, como a dimensão exígua da tela – o que resultou num visual mais enxuto.

Nesse ínterim, usuários insatisfeitos como Julia seguiram o caminho de seus pares: dirigiram suas atenções para Instagram e WhatsApp, ferramenta de mensagens instantâneas com mais de 100 milhões de cadastrados que permite envio de textos, fotos e vídeos. “Quero dividir minha vida com um círculo menor de pessoas”, diz Julia. Nathalia Petreche, também estudante de 18 anos, segue o fluxo. “Tenho meu perfil no Facebook há quatro anos, mas uso o WhatsApp principalmente para conversar com grupos restritos de amigos e família. É mais prático.”

Acesso de jovens nas redes sociais Facebook, Tumblr e Instagram
Acesso de jovens nas redes sociais Facebook, Tumblr e Instagram (VEJA)

O movimento, é claro, não acontece sem conhecimento do Facebook. Em dezembro, a empresa lançou o Poke, aplicativo que parece extraído de um desenho animado. Entre outros recursos, ele permite que o remetente determine o prazo de validade das mensagens que envia: instantes depois de acessada pelo destinatário, o texto se esvai. O serviço é uma reprodução fiel do Snapchat, que faz muito sucesso no exterior: estima-se que mais de 60 milhões de mensagens são enviadas diariamente por meio dele. Outro indicador de que o Facebook está de olho na migração é que, recentemente, a rede social tentou arrematar o WhatsApp. Sem sucesso, por ora.

Guilherme Valadares, empresário
Guilherme Valadares, empresário (VEJA)
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“Nas primeiras semanas depois de excluir meu perfil no Facebook, percebi o quão alto era meu nível de dependência da rede. Aos poucos, senti que, sem a conta, nada mudou na minha vida.”

Guilherme Valadares, de 28 anos, empresário

Entre o público de não jovens, a migração não é a principal aposta quando se buscam razões para o afastasmento do Facebook. Pesquisa recente do Pew Research Center revelou que 61% dos adultos americanos têm voluntariamente “dado um tempo” na rede por sete dias ou mais. Eles alegam que o uso contínuo do serviço provoca ou intensifica a ansiedade, os expõe a quantidades excessivas de informação e abre brechas para problemas relativos à privacidade. “São muitos convites para jogos, eventos e correntes. Tive até desentendimentos com amigos e familiares”, diz o analista de suporte técnico porto-riquenho Enrique Vélez, de 33 anos. Para outro queixoso, o auxiliar administrativo Geovane Matos, de 27 anos, o problema é mesmo a superexposição. “A rede se tornou uma praça pública digital de exibição.” Seguindo exemplo de usuários mais jovens, ele migrou, mas para Google+. O empresário e diretor de conteúdo do Papo de Homem Guilherme Valladares, de 28 anos, tomou a decisão radical: excluiu seu perfil da rede. “Eu perdia muito tempo acessando meu feed de notícias. Aos poucos percebi que não tinha razão alguma para fazer aquilo. O Facebook havia se tornado uma fonte de ansiedade. Apenas isso”, diz.

Crises de ansiedade à parte, o analista de tecnologia americano Eric Jackson defende uma tese para explicar o momento por que passa o Facebook. “A rede nem completou dez anos de vida, mas já está velha”, diz, em entrevista ao site de VEJA. É uma ideia inusitada, para dizer o mínimo. Na rede de 1 bilhão de amigos, diariamente são publicadas 350 milhões de imagens e 2 bilhões de posts – e também são realizadas 3,2 bilhões de “curtidas”. Os brasileiros, por exemplo, investem no serviço um de cada quatro minutos gastos na internet. Pesa a favor da ideia de Jackson, contudo, a constatação de que, nos meios digitais, gostos e tecnologias mudam de forma muito rápida. Foi assim, por exemplo, que o próprio Facebook destronou o MySpace, que já reinou entre as redes sociais. “O grupo de usuários predominante no Facebook atualmente, aqueles com mais de 25 anos, não dita mais tendências. É hora de a empresa tirar lições do uso que os jovens fazem do Instagram, comprado pelo Facebook no ano passado por 1 bilhão de dólares.”

(Com reportagem de James Della Valle)

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