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A geração touch

Eles têm 15 anos. Não são os primeiros a crescer sob a influência da internet, mas os primeiros a se definir pela ligação com um universo digital e móvel. E carregam o empreendedorismo no DNA

Por Rita Loiola e Raquel Carneiro
29 dez 2015, 20h44

Há milhões de anos, os ancestrais do homem adquiriam uma característica que revolucionou sua relação com o mundo: o polegar opositor. Com ele, conseguiam agarrar e manipular ferramentas para criar objetos que marcaram a história humana: roupas, casas, computadores. Os movimentos finos de nossas mãos ainda são comandados pelos polegares, que, nos últimos anos, aprenderam a digitar velozmente em telas touch de smartphones e tablets. Esses aparelhos poderosos e de uso intuitivo se tornaram de tal modo uma extensão de nossos dedos que passaram a moldar o comportamento de uma geração inteira. Os jovens que hoje têm 15 anos conhecem a vida com um celular nas mãos. Eles não são os primeiros a crescer sob a influência da internet, mas os primeiros a se definir pela ligação com um universo digital e móvel: com o celular conectado à internet, carregam no bolso as amizades, a escola, o trabalho e uma fonte inesgotável de conhecimento. Ainda não há um nome estabelecido para eles. Há quem fale em geração Z ou pós-millennials. Pode-se batizá-los de “geração touch”.

Estima-se que os jovens nessa faixa etária sejam hoje 26% da população mundial. Em pouco mais de uma década, eles deverão representar 75% da força de trabalho global. Muitos estarão à frente do próprio negócio. Vão se casar, ou se unir em outros tipos de relação estável. Terão os seus filhos. Pintar um retrato dessa multidão implica, obviamente, passar por cima de diferenças marcantes. A influência do lugar onde se nasce não deve ser ignorada, mesmo que esses adolescentes, vivendo ao redor do planeta mas interligados pela tecnologia móvel, tenham, como nenhuma outra geração anterior, um mesmo repertório de referências, imagens, informações. E a adolescência – bem, a adolescência continua a ser o turbilhão que sempre foi. Não há remédio para a maneira como ela exacerba comportamentos e traços de personalidade. Segundo os estudiosos, no entanto, o perfil de grupos etários que compartilham experiências culturais, econômicas e políticas pode ser codificado e estudado de maneira proveitosa.

É na escola que a primeira característica da geração touch se torna evidente. Pesquisas internacionais demonstram que 52% dos adolescentes usam o YouTube e as redes sociais para estudar. “Prefiro ver as aulas de matemática e ciência em vídeo – para mim é muito mais fácil de entendê-las”, diz a mineira Gabriela Salles, que confessa que passa doze horas por dia conectada. Ainda é cedo para ter certeza do impacto que esse uso constante da internet terá na formação dos jovens. Neurocientistas como Maryanne Wolf, da Universidade Tufts, observam que a leitura não é uma atividade natural para a espécie humana, e depende de circuitos cerebrais que requerem o treino da atenção prolongada para se formar. Um efeito colateral desse aprendizado é a ampliação da capacidade de analisar ideias. A imersão permanente na internet, em aplicativos e redes sociais, estimula de maneira diferente os jovens. A geração touch está habituada a lidar simultaneamente com até cinco telas. São três telas a mais em comparação com seus antecessores imediatos da chamada geração Y, que hoje têm por volta de 30 anos. Pesquisas feitas por médicos e psiquiatras do Canadá e dos Estados Unidos confirmam que os adolescentes de hoje demonstram um limite médio de atenção reduzido: são apenas oito segundos, e 11% deles são diagnosticados com transtorno de déficit de atenção. Existe, portanto, um risco no horizonte. Mas faltam estudos para que se possa chegar a conclusões sólidas. “Não há dúvida de que eles aprendem de maneira diferente”, diz Wilton Ormundo, diretor do ensino médio da Escola Móbile, em São Paulo. “Isso nos levou a usar não só o computador mas até o celular e as redes sociais na escola. Não é possível excluir das aulas essas ferramentas tão naturais para eles. Grande parte do nosso trabalho atual é ensinar a selecionar as informações e oferecer formas de lidar com as distrações e as multitarefas. Mas não acredito que por isso eles são mais superficiais ou aprendem menos. Na verdade, são bastante exigentes e têm conhecimentos integrados, abrangentes e internacionalizados.”

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Com reportagem de Marina Rappa

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