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‘Vocês estão dez anos atrás de nós’, diz médico americano

Jeffry Life, ícone do antienvelhecimento nos Estados Unidos, fala sobre a proibição dessa prática no Brasil

Por Juliana Santos
11 dez 2012, 07h42

Aos 74 anos, Jeffry Life tem um corpo musculoso e – afirma – muita disposição e uma ótima vida sexual. O fisiologista americano se tornou símbolo do envelhecimento saudável e da chamada medicina antienvelhecimento – termo que ele próprio rejeita. Sua transformação teve início aos 59 anos quando, acima do peso e com problemas cardíacos, decidiu participar do concurso Body For Life (algo como “Corpo para a Vida”). Em 12 semanas de dieta e exercícios físicos, ele perdeu gordura, ganhou massa muscular e venceu o concurso.

Apesar de satisfeito com os novos hábitos, Life conta que, aos 63, já não sentia o mesmo resultado de suas atividades físicas. Foi nessa época que ele conheceu a clínica Cenegenics, na qual trabalha até hoje, que pratica a reposição hormonal. “Eu não estaria aqui se não tivesse começado a terapia com testosterona dez anos atrás. Provavelmente estaria morto”, afirma ele.

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A batalha da medicina antienvelhecimento

Para evitar problemas de interpretação, Life prefere usar o termo age management medicine (medicina de gerenciamento do envelhecimento), aos invés do anti-aging. A ideia é que essa técnica não é capaz de reverter o processo de envelhecimento, mas fazer com que ele ocorra da maneira mais saudável possível.

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Life faz musculação e bicicleta ergométrica diariamente. Três vezes por semana pratica pilates – para manter a flexibilidade – e, duas vezes, artes marciais. Além disso, ele atende pacientes em Los Angeles, onde vive com sua esposa, de 55 anos, cuida de seu website e escreve livros. Sua primeira obra, The Life Plan (Um Plano de Vida, que faz um trocadilho com seu sobrenome), dá dicas para quem quer seguir seus conselhos de alimentação, exercícios e terapia hormonal. O segundo livro, Mastering the Life Plan (Dominando o Plano de Vida), será lançado em março e aborda de forma mais específica a rotina de Jeffry para manter a forma.

O médico esteve no Brasil em outubro deste ano, e promoveu um evento para médicos sobre a medicina antienvelhecimento – coincidentemente, no dia seguinte à publicação da resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) que proíbe a terapia hormonal em idosos. Ele falou ao site de VEJA sobre essa decisão e as críticas que costumam ser feitas sobre a medicina antienvelhecimento.

A medicina antienvelhecimento foi proibida no Brasil, de modo que hormônios não podem ser prescritos para pacientes que não tenham uma deficiência específica. Isso significa que um paciente com pouca testosterona, mas com níveis compatíveis para sua idade, não é considerado apto para receber reposição. O que o senhor pensa a respeito? Isso é um pensamento antiquado. Essa recomendação foi feita por pessoas que não estão familiarizadas com a literatura que tem sido produzida nos últimos dez anos. Um homem de 70 anos deveria ter um nível de testosterona de um homem de 35, 40 anos. A razão é que isso melhora sua saúde, reduz os riscos de câncer – até câncer de próstata – ataque cardíaco, derrame, diabetes e outras doenças. Nós sabemos hoje que homens que têm níveis baixos de testosterona têm baixa qualidade de vida, perdem massa muscular e força e vão custar para a sociedade mais dinheiro do que se nós cuidarmos deles e colocarmos seus níveis hormonais onde eles devem estar para pessoas mais novas e saudáveis.

Uma das hipóteses levantadas por endocrinologistas é que, à medida que você envelhece, seus níveis de hormônios diminuem porque o corpo não pode mais lidar com a mesma quantidade de hormônios, então essa redução seria benéfica. A causa de morte número um nos EUA são ataques cardíacos. Em segundo lugar, derrames. E níveis baixos de testosterona colocam os homens em grande risco de ter ataques cardíacos, derrames e doenças cardiovasculares. Não há literatura que mostre que quando nós envelhecemos nossos níveis de hormônio devem diminuir, que isso é parte do envelhecimento saudável. É colocar as pessoas em risco para todas as doenças relacionadas com o envelhecimento, que estão matando a maior parte dos americanos e eu tenho certeza que brasileiros também.

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Muitos médicos que não são a favor da terapia antienvelhecimento afirmam que é natural ter baixos níveis de hormônios quando se envelhece e a suplementação só é recomendada para aqueles que apresentam sintomas. Parte do processo de envelhecimento é que as pessoas desenvolvem doenças cardíacas, então se você seguir esse tipo de pensamento, por que fazer angioplastias e outros tratamentos, se é parte do envelhecimento? É um pensamento insano. Por que a gente deveria fazer qualquer coisa se é tudo parte do processo de envelhecimento e é natural? Ignorar os níveis de testosterona à medida que se envelhece é o mesmo que ignorar níveis de colesterol e pressão sanguínea. Nós precisamos tratá-los. Não temos que seguir os mesmos caminhos que nossos pais seguiram. A gente não deve se render a essa noção de que envelhecer é ficar doente, que é o que está acontecendo. Isso precisa parar e grande parte de impedir isso é fazer com que as pessoas não percam massa muscular, façam exercícios e comam corretamente. E corrigir suas deficiências hormonais porque isso faz muita diferença, faz toda a diferença. Eu não estaria sentado aqui te dizendo isso se eu não tivesse começado a terapia com testosterona dez anos atrás, Tenho 74 anos, eu provavelmente estaria morto, porque tinha doenças cardíacas. O meu programa, do qual eu falo no meu livro, reverteu isso. E uma grande parte disso é devido à terapia de reposição hormonal, especialmente testosterona.

Quais são os riscos? Não há nenhum estudo que comprove algum risco e há um número imenso de estudos que mostra que níveis saudáveis de testosterona reduzem o risco dos homens desenvolverem câncer de próstata. Mais uma vez, é um pensamento antiquado. A medicina mudou, nós estamos seguindo em frente e pensar assim é impedir o que nós podemos fazer para ajudar os pacientes.

Qual é a situação da medicina antienvelhecimento nos EUA? Existem duas organizações nos EUA, o grupo antienvelhecimento e o grupo de manutenção do envelhecimento, que é a Cenegenics, da qual eu faço parte. Eu acredito que o que nós fazemos é muito mais relacionado a saúde e bem estar. Agora estamos focados em doenças cardíacas, na prevenção de ataques cardíacos e derrames. O hormônio do crescimento é muito regulamentado. Nós fazemos muitos testes se temos um paciente que tem deficiência desse hormônio. Se ele não passar nos testes, a gente sabe que pode tratá-lo.

E quanto à testosterona? Agora nós temos empresas farmacêuticas produzindo-a em cremes e em gel, vendendo na televisão, eu estou muito preocupado porque os fisiologistas vão prescrever isso e depois não fazer um acompanhamento do paciente, não farão todos os testes que nós fazemos a cada três ou quatro meses. Quando eu comecei na Cenegenics, há dez anos, a testosterona era um dos hormônios considerados ruins, como aqui no Brasil agora. Vocês estão dez anos atrás de nós. Mas agora há muitas evidências, e pesquisas que apóiam o uso de testosterona em pessoas envelhecendo. Os benefícios são incríveis.

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O senhor acha que alguns médicos estão vendendo a medicina antienvelhecimento de forma exagerada, prometendo parar o tempo e rejuvenescer pessoas, e isso contribui para a formação de uma má-reputação a respeito dessa especialidade? Sim, eu concordo. Sou contra usar esses hormônios para parar de envelhecer. Eu sou completamente a favor de utilizá-los para alcançar o que nós sabemos das pesquisas médicas, que eles ajudam a saúde das pessoas, melhoram a qualidade de vida e a habilidade de pensar. Não é antienvelhecimento, é envelhecimento saudável.

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