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Teste revela marcas de energéticos com excesso de açúcar e sódio

Entre as 10 marcas analisadas pela Proteste, apenas um tinha tabela nutricional adequada

Por Marina Felix, Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 17 abr 2017, 19h28 - Publicado em 10 abr 2017, 17h51

Um teste de qualidade realizado pela Proteste com dez marcas de bebidas energéticas mostrou problemas relacionados ao rótulo dos produtos, divergências em informações nutricionais e alto teor de açúcar nas formulações. Na análise, a instituição avaliou se os produtos, que estão entre os mais consumidos pelos brasileiros, podem ser consideradas energéticos e se cumprem a regulamentação quanto aos alertas, veracidade e clareza das informações nutricionais no rótulo. 

Os resultados mostraram pouca veracidade das informações nutricionais – apenas uma marca apresentou informações da tabela nutricional condizentes com a realidade – e elevadas quantidades de açúcares totais em todos os produtos, o que contribui para o desenvolvimento de doenças como obesidade e diabetes.

Problemas no rótulo

Por legislação, uma bebida só pode ser considerada energética se tiver como ingrediente principal uma ou mais dessas substâncias: inositol, glucoronolactona, taurina e cafeína. Podem ainda ser adicionadas de vitaminas e/ou minerais até 100% da Ingestão Diária Recomendada (IDR) na porção do produto. Também é obrigatório que os rótulos contenham as seguintes informações: data de validade, denominação de venda, lote, dados do fabricante, modo de conservação, informação nutricional e algumas advertências.

Três marcas analisadas apresentaram problemas relacionados aos itens obrigatórios. O energético Bad Boy foi “penalizado” por não informar um contato SAC para que o consumidor contatar a empresa, se necessário, e o produto Red Bull não informa o modo de conservação do produto.

Na bebida TNT, as frases de advertência indicando os riscos de consumo do produto não fica claro devido às cores da lata/letra. O destaque das frases de alerta sobre o perigo do consumo do produto associado à bebida alcoólica, bem como a informação de que crianças, gestantes, nutrizes, idosos e portadores de enfermidades devem consultar o médico antes de consumi-la no rótulo é obrigatório pela legislação.

Entre as marcas analisadas, cinco – Fusion, Red Bull, Red Nose, TNT e V!be – não informaram a data de fabricação no rótulo. Embora o item não seja obrigatório por lei, a Proteste afirma que sua presença permite ao consumidor escolher o produto mais recente. 

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Três produtos não tiveram nenhum tipo de penalização neste quesito: Extra Power, Flash Power e Flying Horse, este último também muito bem avaliado no último teste (2011).

Informação nutricional

Segundo a Proteste, dentre todos os parâmetros avaliados, o que apresentou pior resultado foi a veracidade das informações nutricionais. Por lei, a variação entre os valores declarados versus os analisados deve ser de, no máximo, 20%. O teste revelou que apenas o produto Flash Power continha informações condizentes com a realidade.

Em relação ao teor de sódio, por exemplo, 90% dos produtos analisados ultrapassaram os 20% de diferença estabelecida pela lei, essa variação foi de 25% no Red Bull e chegou a 287% no Fusion, que declara 0 mg de sódio por porção, porém foi encontrado 7,2 mg (valor ainda considerado baixo).

No caso da cafeína, todos os produtos declararam corretamente os teores, variando de 1,0% no Red Bull a 17% no Flash Power, dentro da variação permitida por lei. Porém, a Proteste alerta que os resultados da taurina são preocupantes: três produtos – Red Nose, TNT e V!be –  apresentaram variações muito discrepantes de 33,75%, 30% e 51%, respectivamente, sendo todas elas a informação do rótulo maior do que o valor medido, ou seja, os fabricantes estão informando uma quantidade de taurina maior do que a existente no produto. Essas três marcas apresentaram mais de um nutriente fora do limite permitido, e por isso receberam as notas mais baixas no teste.

Apesar dos resultados, a Proteste concluiu que “todos os produtos obtiveram resultado favorável para quantidade de cafeína, taurina e sódio”.

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Excesso de açúcar

Todos os produtos apresentaram quantidades muito elevadas de açúcares totais, o que pode acarretar problemas como obesidade e diabetes. A Proteste afirma que, “dependendo da marca e da quantidade ingerida, estes produtos são verdadeiras bombas de açúcar e devem ser evitados”.

Como não existe valor de referência para açúcares totais, foi utilizado como base a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) que considera que no máximo 10% das calorias ingeridas em um dia seja proveniente de açúcares simples. Ou seja, para um adulto, este valor corresponde a, no máximo, 50 gramas por dia. Como se trata de uma bebida, o valor de base foram 15 gramas (30% da recomendação diária) como quantidade “aceitável” para o produto. A porção padronizada pelo teste foi de 270 ml, que é o volume da maioria das latas dos produtos testados.

Os teores de açúcar nos produtos variaram de 23,1 gramas por porção de 270 ml (Vibe) a 82,3 gramas por porção de 270 ml (Flying Horse). Isso significa que ao consumir duas porções (cerca de duas latas) de 270 ml da maioria das marcas, o consumidor já atinge o limite máximo de açúcar necessário para um dia. Nas marcas Flying Horse e Bad Boy, a quantidade de de açúcar tão elevada que a ingestão de uma porção já ultrapassa o limite máximo diário recomendado.

 

Energéticos

Por legislação, uma bebida só pode ser considerada energética se tiver como ingrediente principal uma ou mais dessas substâncias: inositol, glucoronolactona, taurina e cafeína. No teste, as dez marcas analisadas – Badboy, Burn, Extra Power, Flash Power, Flying Horse, Fusion, RedBull, Red Nose, TNT e V!be – obtiveram resultado favorável para as quantidades de cafeína e taurina presentes.

Exceção

Diferente de outros testes realizados pela instituição, nenhuma marca avaliada foi classificada como “Melhor do Teste”, nem “Escolha Certa”. Todos os produtos tiveram classificação final “satisfatória”.

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Foram realizados dois testes anteriores, o primeiro, em 2004, encontrou muitos problemas de rotulagem e de alta quantidade de açúcar adicionado e cafeína nos produtos. No teste de 2011 foi constatada rotulagem com falta de informação e alta quantidade de açúcar adicionado.

Riscos à saúde

Bebidas energéticas são mundialmente conhecidas por aumentar a disposição de quem as consome. No entanto, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e diversos estudos alertam para as consequências de misturar bebidas energéticas e alcoólicas. As primeiras mascaram o efeito das segundas, podendo dar a falsa sensação de sobriedade e, assim, levar a um maior consumo de álcool. A mistura aumenta ainda o risco de dependência física de cafeína e álcool e acentua a probabilidade de outros comportamentos de risco, como a condução perigosa.

No caso de adultos saudáveis, o consumo de bebidas energéticas não é problemático, se for ocasional e moderado e desde que o consumo total diário de cafeína não ultrapasse 400 miligramas, o que corresponde a três cafés ou uma lata destas bebidas. As grávidas e lactentes não devem consumir estes produtos.

O levantamento da instituição também alerta que as bebidas energéticas não devem ser confundidas com as isotônicas, cuja missão é repor os sais minerais perdidos através da transpiração, evitar a desidratação e a fadiga muscular durante e após o esforço. Já as bebidas energéticas têm como principal componente a cafeína, que ajuda a reduzir a sonolência e aumentar a concentração.

A resposta das empresas

Por e-mail, o responsável pela marca Red Nose informou à VEJA: “Nós da Xtreme Sports Com. Imp, Exp. Com. LTDA.(empresa dona da marca Red Nose) apenas licencia a marca para diversas empresas licenciadas sendo uma delas o ENERGY DRINK produzido e comercializado pela Thera Trading Franquias SA. Representada por Luis Fernando Bellintani e Vitor Miguel Severin. Que também é produtora do energético Flash Power e dos sucos LIV. A Thera é a única responsável pela produção desse produto. A avaliação feita pelo Proteste foi uma surpresa para nós. As alterações encontradas no nosso produto foram feitas sem o nosso consentimento o que será avaliado pela nossa área jurídica, pois caracteriza como quebra de contrato.”

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Por telefone, um representante da empresa Horizonte, fabricante da bebida energética Badboy  disse à VEJA :”Ao saber da avaliação da Proteste, a empresa mandou fazer um laudo de análise externo e assim que tiver resultados retornará com o posicionamento”.

Em posicionamento enviado por e-mail, a Ambev, fabricante da bebida energética Fusion, informou: “Apenas a versão de Fusion regular foi testada pela PROTESTE. A marca Fusion oferece ao consumidor diferentes possibilidades de escolha, como a linha Fusion T–Break, com redução de 50% de açúcar, nas versões com extrato de Chá Preto ou Chá Branco, e a variante sem adição de açúcar, o Fusion Zero. A Ambev também aproveita para lembrar que o rótulo de Fusion atende todas as exigências legais, inclusive as da ANVISA e do Código de Defesa do Consumidor.”

Por e-mail, o Grupo Petrópolis, responsável pela bebida TNT Energy Drink, afirmou à VEJA: “Todas as informações necessárias constam no rótulo e são visíveis, em total observância às normas legais, especialmente a RDC 273/05 da ANVISA.
Quanto aos nutrientes, a qualidade dos produtos da marca TNT Energy Drink é assegurada por laudos de laboratório externos, conforme comprovam o documento anexo. Nenhum dos laudos que foram emitidos e nenhuma das amostras analisadas, por solicitação do Grupo Petrópolis, apresentam qualquer variação. Diante da divergência apresentada, a área técnica está solicitando à Proteste, laudo completo e informações sobre o lote avaliado para que seja efetuado o rastreamento de amostras de produção.

Quanto a data de fabricação, causa estranheza essa solicitação, uma vez que a própria Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio da RDC nº 259/2002, dispõe que a data de fabricação não é uma informação de declaração obrigatória para os alimentos em geral. A única data obrigatória, segundo esta norma, é a data de validade do produto. Assim, a data de fabricação pode ser declarada de forma opcional pelos fabricantes ou mesmo ser utilizada como uma forma de declaração do lote do produto.

O Grupo Petrópolis já solicitou novas análises externas e aguarda o resultado final, até o início da próxima semana.”

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Também por e-mail, a BlueBev, fabricante do energético V!be disse em relação à falta da data de fabricação: “Embora não seja obrigatória nas determinações da ANVISA e também no Código de Defesa do Consumidor, as quais seguimos com rigor, o entendimento da PROTESTE que esta informação ajudaria o Consumidor em sua decisão de compra, será objeto de uma avaliação técnica/industrial que possibilite agregar este item ao nosso produto/embalagem. Sobre a quantidade de açúcar e outras informações relativas as características do produto (Taurina, por exemplo): gostaríamos de conhecer o conteúdo completo das análises físico-químicas do teste efetuado pela PROTESTE, para uma efetiva comparação dos resultados em nossos laboratórios, uma vez que nossos produtos são rigorosamente analisados a cada lote de produção, ou seja, todas as informações contidas em nossos rótulos estão em total conformidade com o produto. Sobre a questão da quantidade de açúcar, a Bluebev acompanha atentamente as informações da OMS e demais agentes de de controle e bem estar, tanto que no teste apresentado pela PROTESTE, v!be energy drink é aquele com o menor percentual de açúcar entre os produtos comparados.”

Representantes das marcas Burn, Extra Power, Flash Power, Flying Horse e RedBull e da empresa Thera Trading Franquias SA , não foram localizados pela reportagem até o final da tarde desta segunda-feira.

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