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Ser o 1º bebê de proveta do Brasil ‘sempre foi um motivo de orgulho’

Nascimento de Anna Paula Caldeira em 1984 só foi possível graças ao Nobel Robert Edwards

Por Aretha Yarak
Atualizado em 27 ago 2020, 12h19 - Publicado em 5 out 2010, 11h59

“Me expor é uma maneira de vender um sonho e uma esperança para milhares de mulheres”

Nesta quinta-feira, a publicitária Anna Paula Caldeira completa 26 anos. O aniversário da paranaense de São José dos Pinhais talvez passasse despercebido não fosse ela a primeira bebê de proveta do Brasil e da América Latina. “Sempre tinha alguém querendo saber como eu estava, se o meu crescimento estava dentro dos parâmetros considerados normais”, conta.

Em edição de 1984, VEJA noticiou o nascimento de Anna Paula, o primeiro bebê de proveta do Brasil. Clique na imagem para relembrar a edição (Arte/VEJA)

No mesmo dia em que o fisiologista americano Robert Geoffrey Edwards, criador da técnica revolucionária de fertiliação in vitro que permitiu o nascimento de Anna, recebeu o Nobel de Medicina 2010, ela falou ao site de VEJA sobre sua infância, seus ideais e a eterna exposição na imprensa. “Me expor é uma maneira de vender um sonho e uma esperança para milhares de mulheres que não podem ter um filho pelos meios naturais”, diz.

O médico Robert Edwards acaba de ser consagrado com o Nobel de Medicina pela criação da técnica de fertilização in vitro. Você conhece o trabalho dele?

Claro, ele era uma referência muito importante para o médico que realizou a fertilização em minha mãe. E eu acompanho o que acontece nessa área da medicina, estou sempre em congressos como convidada. Tive, inclusive, a oportunidade de conhecer a Louise (Louise Brown, primeiro bebê de proveta do mundo, nascida em 1978) durante a comemoração dos 30 anos de pesquisa na área aqui no Brasil. Nesse mesmo encontro também foi mencionado o nome do doutor Robert. Mesmo antes da premiação, eu já sabia da existência dele.

Como você ficou sabendo que era um bebê de proveta?

Não teve um momento específico. Desde criança isso faz parte da minha vida, tanto pelo assédio da imprensa, quanto pelo contato constante com o médico que fez o tratamento em minha mãe. Sempre foi um assunto tratado com muita tranquilidade dentro de casa.

Você já sofreu algum tipo de bullying?

Ah, isso sempre teve, principalmente quando eu era pequena. Quando tem uma criança gordinha, vão chamá-la de gordinha. Se ela usa óculos, então o apelido vai vir daí. Como eu era um bebê de proveta, me chamavam de proveta.

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Isso te atrapalhou na escola?

Não, porque o assunto sempre foi muito natural dentro da minha casa. Era muito mais um motivo de orgulho, do que de vergonha. Então, sempre encarei tudo com tranquilidade.

Você era uma criança saudável?

Nunca tive uma doença que não aquelas convencionais, que toda criança tem. Tive uma infância normal, fui uma criança normal. Teve uma época em que foi questionado se os bebês de proveta teriam o QI (quociente de Inteligência) mais elevado. Mas nunca teve nada dessas diferenças comigo, nem para mais, nem para menos.

É um incômodo estar constantemente na imprensa?

Não. Desde que sai do hospital a imprensa sempre me procurou, sempre quis saber como eu estava, se havia algo de diferente comigo. Sempre quiseram acompanhar o meu crescimento. De uns tempos para cá, depois que fiz 20 anos, as coisas ficaram mais tranquilas. Para mim, sempre foi algo muito natural, quase como uma parte da minha vida.

O dia que o assédio acabar…

Não acho que sentirei falta. A imprensa me procura quando é meu aniversário ou quando tem algo de especial acontecendo. Ela não interfere no meu dia a dia, por isso não sentiria falta.

Em algum momento se sentiu pressionada nas suas escolhas por conta desse assédio?

Nunca. Em nenhum momento esse tipo de pressão teve influência na minha vida.

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Já pensou em realizar algum tipo de trabalho para ajudar casais inférteis?

A princípio, não. Acho que só o fato de estar exposta na imprensa, de sair em revista, já ajuda. Quando eu era criança, minha mãe recebia milhares de cartas de mulheres dizendo “Nossa, realmente é possível! Sua filha é perfeita”. É o meu jeito de ajudar. Nunca pensei em me engajar realmente, mas também nunca tive oportunidade para isso.

Sua mãe já tinha cinco filhos quando engravidou de você, todos concebidos naturalmente. Por que ela optou pela reprodução assistida?

Na gravidez do meu irmão, o último dos cinco, ela teve uma peritonite pós-parto, uma espécie de derrame que prejudica as tubas uterinas. Depois disso, ela não poderia mais engravidar pelo método tradicional. Meu pai, que é urologista, já sabia de algumas pesquisas que estavam sendo feitas sobre fertilização in vitro e eles foram procurar o tratamento.

Sua mãe engravidou na primeira tentativa?

Ela foi a única das mulheres fazendo o tratamento na época que engravidou. Temos certeza que o psicológico contou muito, porque ela dizia que só sairia de lá grávida. Depois do sucesso do procedimento dela foi até implantado um departamento de acompanhamento psicológico na clínica. Mas minha mãe nem questionou o procedimento quando optou por fazê-lo. Ela só estava ali porque queria ter um filho. E só percebeu que eu seria a primeira bebê de proveta depois que os médicos ficaram em cima, pedindo para que ela tomasse um monte de remédios, fizesse repouso, parasse de trabalhar e fosse mais para São Paulo.

Como foi a gravidez dela?

Foi normal. Ela trabalhou até umas três semanas antes de eu nascer. O parto foi cesárea, mas não teve complicação alguma. Nasci em São José dos Pinhais, uma cidade perto de Curitiba, bem pequena. Quando minha mãe entrou em trabalho de parto, ela avisou apenas o médico. Ele avisou a imprensa inteira e minha mãe teve de dar uma entrevista coletiva antes de deixar o hospital.

Você mencionou que vai bastante a congressos de medicina. Como é sua participação?

Geralmente, eles querem me ver. Só isso. Eu diria que é para ver a materialização do resultado de um procedimento médico. Tem sempre também aquelas pessoas que ficam questionando como foi minha infância e a gestação da minha mãe. Elas tem mais curiosidade em saber da minha rotina, como eu cresci.

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Sua participação nesses eventos é paga?

Não! Recebo apenas a passagem e a hospedagem. Muita gente me questiona de por quê não cobrar, mas é que desde pequena foi assim. Quando eu nasci, era minha mãe quem dava as entrevistas. A gente vende sonhos e esperança para as pessoas. Eu sei o quanto significou para muitas mulheres que não podiam ter filhos me ver sem problema algum de saúde.

Se você não pudesse ter filhos pelo método tradicional, faria uma fertilização in vitro ou optaria pela adoção?

Entre fazer o tratamento e adotar uma criança, acho que ficaria com os dois.

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