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Por que seu filho não deve ser seu confidente

Pais que se apoiam demais nos filhos podem prejudicar o desenvolvimento das crianças, que correm mais risco de ter transtornos de ansiedade quando adultas

Por Da Redação
1 abr 2017, 11h37

Dividir os problemas com os filhos é comum e pode até ser importante para construir uma dinâmica familiar saudável. Mas um estudo científico publicado no Journal of Family Therapy traz um alerta para aqueles pais que exageram nas confidências. Compartilhar detalhes da vida pessoal ou fazer reclamações excessivas do cônjuge podem provocar consequências negativas para a vida das crianças. Segundo a pesquisa, elas têm maiores índices de ansiedade, depressão, distúrbios alimentares e maior risco de abuso de substâncias. “O filho não deve servir às necessidades íntimas dos pais e nem ser colocado no papel de confidente pessoal”, disse ao The Washington Post Lisa M. Hopper, pesquisadora e professora da Universidade de Louisville. 

Lisa conduziu diversos estudos sobre a ‘parentalização’, como o conceito é conhecido na psicologia, que basicamente leva à inversão de papéis. Isso pode ocorrer em famílias em que os pais são divorciados, por exemplo. Em alguns casos, os pais consideram a criança como confidente, revelando assim informações pessoais e sentimentos em relação ao cônjuge. “Não é apropriado, tão pouco, uma mãe dizer: ‘seu pai está sempre me desapontando, estou farta dele'”, disse Juli Fraga, psicóloga de São Francisco, nos Estados Unidos. 

Ao ser exposta a esse tipo de situação, a criança tende a agir como pacificadora e media os eventuais conflitos para tentar fortalecer os laços familiares. Os especialistas acreditam que este tipo de comportamento pode criar uma atmosfera de negligência porque torna as crianças responsáveis pelo emocional e psicológico dos pais, suprimindo suas necessidades normais da infância, como brincar ou fazer amizade com crianças de sua idade.

Efeitos

Os estudos de Lisa têm mostrado que os efeitos da parentalização podem ser de longa duração e perdurar, até mesmo, por gerações. Sua pesquisa coletou dados de 783 universitários para avaliar a ligação entre os papéis desempenhados na infância e as responsabilidades que adquiriram com o funcionamento psicológico adulto.

Os pesquisadores descobriram que aqueles que viveram situações de inversão de papéis tinham maiores riscos de enfrentar ansiedade, depressão, distúrbios alimentares, além de abusar de substâncias na vida adulta. “Os pais e responsáveis devem estar no topo da hierarquia no sistema familiar”, explicou Lisa. Segundo os psicólogos, um pai ou uma mãe que pede conselhos de relacionamento ou se queixa de outro membro da família, por exemplo, está invertendo o papel de adulto e criança. Ou seja, procura nos filhos o mesmo apoio emocional que buscaria em um amigo ou familiar adulto.

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Crianças que assumem responsabilidades mais cedo podem ter resultados positivos, como ética, resiliência e mais autoconfiança. Por outro lado, elas também podem se tornar mais ansiosas e compulsivas. Apesar das boas intenções dos pais, é preciso aprender a traçar limites no relacionamento com os filhos, segundo os especialistas.  Deve-se tomar cuidado, principalmente, nos casos que eles desejam que os filhos sejam seus ‘melhores amigos’. Em muitos casos, isso acontece porque eles têm seu próprio histórico com problemas de apego – seja por ter tido responsáveis distantes, rígidos ou negligentes. 

Limites

Segundo Juli Fraga, a amizade pode ser recíproca entre pais e filhos, baseada em cumplicidade mútua. No entanto, os filhos não possuem a mesma compreensão e maturidade emocional que os adultos.  Ela explica que isso não significa que eles não devam ser afetuosos e amáveis entre si. “É preciso ser honesto e solidário, mas também saber manter os limites apropriados”, conclui a psicóloga.

Um caso que pode servir de exemplo é o que ocorre no seriado Gilmore Girls. A relação das personagens Lorelai e Rory Gilmore é caracterizada por uma invejável proximidade entre mãe e filha. Mas, como acontece com muitas amizades entre pais e filhos, as consequências não aparecem até depois da adolescência. A nova temporada “Um Ano Para Recordar” mostra Rory, já adulta, lutando contra crises de ansiedade e enfrentando dificuldades para confiar em suas próprias decisões sobre carreira e amor, sempre se apoiando em sua mãe. Autor de um livro sobre o tema, o escritor Gregory Jurkovic explica que crianças que assumem esse tipo de responsabilidade durante os anos de desenvolvimento podem ter problemas futuros, como conviver com desconfiança, ambivalência e envolver-se em relacionamentos abusivos.

De acordo com Lisa, é ótimo que os pais compartilhem acontecimentos diários com seus filhos. Porém, essa relação se resume a compartilhar informações de acordo com o desenvolvimento de uma criança — e não deve ser mais do que ela tem capacidade cognitiva para lidar.

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