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O perigo do Viagra barato: uso indevido

Por Natalia Cuminale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 Maio 2016, 16h39 - Publicado em 18 jun 2010, 22h23

Uma boa notícia para quem sofre de disfunção erétil: o Viagra está 50% mais barato. Uma má notícia para as autoridades de saúde: a redução do preço pode levar a uma corrida desnecessária – e perigosa – aos comprimidos azuis por parte de uma parcela da população que não precisa, nem deve, consumi-los. Segundo especialistas consultados por VEJA.com, ao mesmo tempo em que os preços baixos beneficiarão pacientes das classes C e D, eles deverão estimular o uso indevido da droga por jovens que procuram apenas diversão – e não tratamento. “Minha preocupação é a vulgarização do uso. O preço reduzido vai facilitar o acesso do jovem que deseja ser o super-homem”, afirma Oswaldo Sabaki Júnior, chefe do serviço de urologia do Hospital Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O uso recreativo desse tipo de medicamento já é uma prática comum entre os jovens. “Com o preço mais baixo, a tendência é que eles utilizem mais do que já estão acostumados”, diz Sami Arap, coordenador do núcleo avançado de Urologia do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Desde este domingo, data em que começou a valer a quebra de patente do medicamento, uma caixa com quatro comprimidos de Viagra que custava cerca de 120 reais já pode ser encontrada pela metade do valor nas farmácias brasileiras. Além disso, para não perder completamente o mercado para os genéricos, a Pfizer, gigante famarcêutica que fabrica do produto, passou a vender uma caixa com apenas um comprimido, por 16,92 reais, pouco mais de 3% do salário mínimo. “O preço baixo também poderá atrair os jovens das classes que antes não tinham acesso ao remédio”, prevê Otto Henrique Torres Chaves, chefe do departamento de andrologia da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).

Lançado no Brasil em 1998, o Viagra é indicado para pessoas com problemas para obter e manter uma ereção, condição mais frequente em pessoas de idade avançada (a disfunção erétil atinge 50% dos homens acima dos 40, de acordo com dados da SBU). “Depois dessa idade, o problema aumenta progressivamente. E a ereção passa a ser prejudicada quando combinada com doenças mais comuns no envelhecimento como hipertensão, diabetes e obesidade”, explica Chaves.

Os médicos concordam que os jovens, no auge da disposição sexual, estão bem longe de ser o público-alvo do comprimido mágico. Em geral, a justificativa dada pelos homens mais novos é o uso com objetivo de aumentar o tempo da diversão.

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O analista de projetos André M., 23, já utilizou o remédio três vezes e a última foi há um mês. “A ereção é quase imediata e o tempo até a ejaculação parece estendido”, conta André, que pretende utilizar o medicamento mais vezes e não teme possíveis efeitos colaterais. “É um atrativo para quem quiser se divertir um pouco mais”, diz.

Já o estudante de economia Tomaz A., 22 usa o remédio com mais frequência. Nos últimos dois meses, foram cinco vezes. “Depois de uma longa semana de relações sexuais, resolvi experimentar e gostei muito do resultado”, afirma. “Não pretendo aumentar o número de vezes que utilizo, mas quanto mais barato com certeza é melhor”, diz.

Dependência psicológica – De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os remédios para disfunção erétil possuem tarja vermelha, ou seja, deveriam ser vendidos apenas com prescrição médica. Na prática, no entanto, o comprimido pode ser adquirido livremente nas farmácias. “Como ninguém exige receita, o remédio pode ser comprado sem dificuldades por um jovem – que certamente não precisa dele. A receita deveria ser exigida agora que o número de consumidores deve crescer. Os médicos precisam ter o controle”, afirma Archimedes Nardozza Filho, urologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

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O grande problema, segundo os médicos, é que os efeitos colaterais do remédio para os jovens não são químicos, mas psicológicos. “Os jovens tomam o medicamento para incrementar o desempenho. Mas isso pode criar uma dependência psicológica: quando ele fizer sexo sem o Viagra, não vai se sentir totalmente satisfeito”, explica Arap.

Os médicos não sabem nem a parcela dos jovens que tomam Viagra sem necessidade. Sem o controle sobre as vendas, não existem dados a respeito. Mas a psiquiatra Carmita Abdo, fundadora e coordenadora geral do ProSex – Projeto de Sexualidade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), está desenvolvendo um estudo sobre o uso desse tipo de remédio por jovens que não apresentam problemas de disfunção sexual.

A partir de entrevistas com 112 jovens, ela definiu três tipos de perfis que são mais suscetíveis a criar uma dependência psicopatológica do remédio. “O uso constante pode trazer dependência química, depressão ou compulsão sexual. Alguns usam só para experimentar, mas pode ser o contrário, algum problema pode ter os levado a usar. É importante que se questionem em relação a isso.”

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